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Oriente Médio

Refugiados palestinos na Síria emigram para Gaza por guerra

24 abr 2013 - 06h04
(atualizado às 06h09)
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Centenas de famílias palestinas procedentes de campos de refugiados na Síria chegaram à Faixa de Gaza em busca de refúgio por causa da guerra civil que começou em 2011, e causou a morte de cerca de mil palestinos.

Ahmed Sadeq, de 30 anos, é um dos refugiados que agora vivem "sãos e salvos" em Gaza. No entanto, ele ainda diz sentir saudades do campo de refugiados de Al Yarmouk - próximo à capital síria de Damasco - do qual escapou com a esposa e a mãe no final do ano passado.

"Até o início dos distúrbios na Síria, nós, refugiados palestinos, não nos víamos influenciados pelos conflitos, mas quando a guerra civil tomou grandes proporções e chegou aos campos de refugiados, passamos a ser vítimas, porque a violência nunca distingue entre um sírio e um palestino", explicou à Agência Efe.

Os conflitos entre as forças leais ao presidente Bashar al Assad e os rebeldes já deixaram mais de 70 mil mortos na Síria, e trouxeram "instabilidade e insegurança" à vida dos refugiados palestinos, disse Sadeq.

"Após a morte de centenas de palestinos e sírios por causa dos confrontos, decidi sair de lá e tentar entrar em Gaza pela fronteira do Egito", relatou.

Segundo Sadeq, foi uma viagem arriscada, motivada por um duplo bombardeio de sua moradia em Al Yarmouk, que fez com que os problemas administrativos relacionados à emigração deixassem de ser empecilhos.

"Era difícil ir embora da Síria porque não tenho passaporte palestino, e o Egito não nos deixaria entrar no país", conta.

Finalmente, sua mãe, que está doente, recebeu uma permissão médica para receber tratamento no exterior, assim como um visto egípcio de 12 dias de duração, que também foi concedido a Sadeq e sua esposa por serem os acompanhantes da idosa.

"Minha mãe - que nasceu em Gaza - conseguiu permissão para cruzar a fronteira do Egito com Gaza (pelo cruzamento de Rafah), mas eu e minha mulher fomos barrados, e por isso tivemos que entrar pelos túneis subterrâneos que conectam a Faixa à península do Sinai e pelos quais são transportados - ilegalmente - bens de consumo, animais, armas, dinheiro e até pessoas.

Logo após chegar a Gaza, onde vivem 1,8 milhão de pessoas (a maioria refugiados) e cuja taxa de desemprego é de 40%, Sadeq alugou um pequeno apartamento e conseguiu encontrar um trabalho "muito mal remunerado". Essas condições não permitem que ele esqueça que a vida também é "muito dura" lá, porque "o bloqueio israelense continua e as taxas de desemprego e de pobreza são altas".

Os palestinos que vivem na Síria são os que fugiram ou foram expulsos do atual território de Israel pelas milícias judias e posteriormente pelo exército israelense entre 1947 e 1949.

Hoje, com seus descendentes, os números desses palestinos já superam os 400 mil e, segundo estimativas da ONU, um décimo dessas pessoas já experimentou o amargo gosto de uma emigração forçada, assim como suas famílias fizeram anteriormente.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) calcula que cerca de 32 mil refugiados palestinos na Síria fugiram para a Turquia, e mais de quatro mil foram para o Líbano.

Aqueles que escolheram Gaza como destino são minoria: 107 famílias palestinas e seis famílias sírias, informou o coordenador de "famílias palestinas vindas da Síria", Ahmed Lubad.

No entanto, há muitos outros emigrantes que estão no Sinai a espera de autorização para atravessar a fronteira por Rafah e chegar a Gaza. Esse "trânsito de pessoas" é administrado pelas autoridades egípcias, de um lado, e pelo governo do Hamas, do outro, acrescentou Lubad.

Esam Odwan, responsável pelo Departamento de Refugiados de Gaza, confirmou que mais de 400 foragidos da Síria decidiram se mudar para a Faixa nos últimos dois anos. Ele ressaltou também o dilema moral que fica implícito na chegada desses emigrantes.

"Não podemos negar a entrada em Gaza aos refugiados palestinos. Essa é sua casa e é seu direito de voltar. Mas Gaza é pequena, estreita, densamente povoada e carece de recursos porque está há anos sob bloqueio israelense", explicou.

A Faixa de Gaza, o lugar do planeta com maior densidade populacional, "não será capaz de absorver um grande número de refugiados vindos da Síria", adverte Odwan.

EFE   
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