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Oriente Médio

Protestos em Israel elevam pressão sobre governo de Netanyahu

13 ago 2011 - 13h04
(atualizado às 13h29)
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Wyre Davies
da BBC News

No sábado passado, centenas de milhares de manifestantes foram às ruas de uma cidade no Oriente Médio. Exigindo mudanças, eles estavam cansados da elite dominante e diziam que o governo já não ouvia seu povo.

Mas isso não aconteceu no Egito, na Tunísia ou na Líbia. Isso aconteceu em Israel. Se o governo israelense esperava que os protestos de rua, que começaram há três semanas, fossem perder força e se dispersar, isso não aconteceu.

Estima-se que 300 mil pessoas de diferentes origens já tenham se somado às manifestações em todo o país. Assim como os egípcios fizeram cinco meses atrás na praça Tahrir, no Cairo, os manifestantes israelenses tomaram o coração de Tel Aviv.

Revital Len-Cohen é uma mulher bem educada, uma advogada cujo marido trabalha no setor de tecnologia de ponta, que está crescendo rapidamente em Israel. Ela jamais havia pensado que estaria protestando das ruas.

Mas Len-Cohen tem um filho jovem com sérias dificuldades de aprendizado. Por causa disso, ela teve que deixar o trabalho e recebe pouco ou quase nenhum auxílio do Estado. Esse, ela diz, é o motivo pelo qual passou uma semana em uma pequena barraca na rua.

"Eu estou realmente desesperada. Este é um país onde nós pagamos nossos impostos e fazemos o nosso melhor, mas agora estamos em uma posição em que eu estou tendo que implorar (dinheiro) para meus pais para sobreviver", disse à BBC, enquanto se sentava sob o sol do meio-dia.

Apolítico

As pessoas aqui têm diversas reclamações diferentes. Cada parte da cidade em que os manifestantes estão acampando, no Boulevard Rothschild, em Tel Aviv, abriga um grupo específico com reivindicações a fazer. Um grupo de estudantes se reúnem ao lado das barracas onde dormem Revital Len-Cohen e outros familiares de crianças com deficiências.

Um pouco adiante estão as famílias que não podem pagar os preços do aluguel até mesmo das casas mais simples. Estudantes, mães, médicos, anarquistas - todos protestam contra o alto custo de vida no país.

Os críticos dizem que suas demandas não são realistas, especialmente quando há uma crise econômica mais profunda e global. Mas outros insistem que isso é uma batalha pela alma e pelo caminho de Israel.

Eles dizem que o seu "movimento" é deliberadamente apolítico. Não se trata de Israel e de sua relação com os palestinos, mas de israelenses normais preocupados que o seu país esteja perdendo todo o sentido de responsabilidade moral e coletiva.

As manifestações, parcialmente promovidas pelas mídias sociais, são inevitavelmente comparadas com a Primavera Árabe. Os objetivos, circunstâncias e até a conclusão podem ser diferentes, mas o gênio dos protestos está fora da garrafa.

Guarda baixa
Israel é um país onde uma pequena minoria de famílias e indivíduos controla uma quantidade desproporcional de riqueza. Por si só, isso não é incomum: desigualdade na distribuição de renda é algo que pode ser encontrado na maioria dos países, segundo ressaltam os que criticam a suposta "ingenuidade" dos manifestantes.

Mas Israel é um país jovem, fundado sob fortes ideais de responsabilidade social e coesão. Os manifestantes no Boulevard Rotschild querem seu país de volta.

Mas o governo foi pego de surpresa enquanto os protestos cresciam. Havia, inicialmente, incredulidade entre os ministros da coalizão governista.

De muitas maneiras, a economia de Israel esteve imune à crise global. O setor de tecnologia de ponta continua crescendo, e os níveis de desemprego oficial estão muito menores do que em outros países desenvolvidos.

Tardiamente, o primeiro-ministro Binjamin Netanyahu agiu. Ele prometeu revisar as prioridades do governo. Mas se isso quer dizer, por exemplo, redirecionar fundos do inchado orçamento de defesa do país para políticas sociais, ainda não se sabe.

Netanyahu também nomeou um "conselho de especialistas" para encontrar os líderes dos protestos e avaliar suas demandas. O conselho é liderado pelo professor Manuel Trajtenberg, da Universidade de Tel Aviv.

Há relatos de que o professor rejeitou a oferta inicialmente, com receio de que o processo se tornasse mais uma das pesquisas ineficientes de Israel, resultando em recomendações que nunca seriam obedecidas. Foi somente no momento em que Netanyahu prometeu modificar suas opiniões fundamentais que o respeitado professor mudou de ideia e aceitou liderar a força-tarefa.

Enquanto a Primavera Árabe leva a um Verão Israelense, ainda não há ameaça à sobrevivência do governo de Netanyahu. No entanto, com os protestos se espalhando para Jerusalém e outras grandes cidades, a pressão está aumentando. Manifestações ainda maiores estão planejadas para as próximas semanas.

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