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Oriente Médio

Presidente iemenita diz que defenderá o regime até o fim

27 fev 2011 - 12h19
(atualizado às 13h27)
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O presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, pressionado por manifestações, acusou neste domingo a oposição de tentar dividir o país e disse que defenderá seu "regime republicano" até a "última gota de sangue".

info infográfico distúrbios mundo árabe
info infográfico distúrbios mundo árabe
Foto: AFP

"Nossa nação passa há quatro anos por enormes dificuldades (...) e tentamos fazer frente a elas por meios democráticos e com o diálogo com todos os líderes políticos, mas em vão", disse Saleh no sábado à noite diante dos comandos das forças armadas e unidades de segurança.

"Há um complô contra a unidade e a integridade territorial da república iemenita e nós, nas forças armadas, juramos preservar o regime republicano, a unidade e a integralidade territorial do Iêmen até a última gota de sangue", completou.

"Este juramento ainda é válido e continuará sendo", afirmou o presidente, que teve de fazer equilibrismos entre os interesses antagônicos deste país instável para se manter no poder durante 32 anos.

A revolta popular, que explodiu em 27 de janeiro e foi duramente reprimida, atrava as dificuldades do Iêmen, um país pobre e tribal da península arábica.

O poder de Saleh é questionado pela Al-Qaeda, muito presente no sudeste do país, pelos separatistas que querem reestabelecer um Estado independente no sul e pela rebelião de zaiditas (xiitas) no norte.

Além disso, a oposição parlamentar somou-se ao movimento de protesto, assim como os chefes de poderosas tribos, com os quais o presidente Saleh contava para se manter no poder.

Em seu próprio partido, o Congresso Popular Geral, as deserções aumentam à medida que as manifestações ampliam-se.

Em seu discurso diante dos chefes militares e policiais, o presidente Saleh acusou a oposição de não levar a sério sua oferta de diálogo, os xiitas de querer "dividir o Iêmem" e os rebeldes de tentar reestabelecer o sistema monnárquico abolido em 1962.

O chefe de Estado reuniu seu comando militar e de segurança um dia depois de manifestações sangrentas em Aden, reprimidas pelo exército, deixando um saldo de quatro mortos, segundo fontes médicas. O ministério da Defesa, no entanto, deu conta de três mortos e nega ter disparado contra os manifestantes.

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, ao menos 11 pessoas morreram na sexta-feira e 27 desde 16 de fevereiro.

No sábado à noite, houve mais protestos em Aden, e em Sanaa os estudantes continuam sua vigília em frente a uma universidade para exigir "a queda do regime". Em Taez, ao sul da capital, os manifestantes também acampam há mais de duas semanas em uma praça.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos na capital Trípoli e nas cidades de Benghazi e Tobruk, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de feveiro para xingar e ameaçar de morte os opositores que desafiam seu governo. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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