Oposição síria pede governo de transição sob patrocínio da ONU
Representantes da oposição ao regime sírio de Bashar al-Assad reivindicaram nesta terça-feira um governo de transição, sob patrocínio da ONU, que acabe com o conflito armado no país e exigiram que o atual governante "preste contas" pelo derramamento de sangue.
Cerca de 80 representantes da Coalizão Nacional das Forças da Oposição e Revolução Síria (CNFROS) tornaram pública uma declaração com essa conclusão ao fim de dois dias de debates em Madri.
A oposição está à espera de que se realize uma conferência internacional para a estabilidade da Síria, que ainda não tem data, mas já tem lugar (Genebra), e pretende pôr as bases para acabar com um conflito armado que leva já dois anos, custou a vida a umas 70 mil pessoas e mais de 1 milhão de deslocados, segundo dados das Nações Unidas.
No entanto, o encontro desses opositores, que majoritariamente vivem no exterior, deixou abertos alguns detalhes que pretendem deixar fechados, se é possível, dentro de duas semanas em reunião ampliada a outros movimentos e associações que acontecerá em Istambul.
O líder da oposição síria, Moaz al-Khatib, repetiu várias vezes que em Madri foi aberto um processo de consultas, não de decisões, e deixou em suspenso a resposta sobre sua presença na eventual conferência de Genebra.
Trata-se de ficar em contato com os que fazem oposição a Assad "no local", para conhecer sua opinião e decidir se vão ou não a Genebra.
O que a oposição rechaça é manter um diálogo com o regime de Bashar al Assad - "há décadas usam esse truque para ganhar tempo" - e o que quer é negociar, com um único objetivo: a saída do governo atual e acabar com o confronto armado.
A CNFROS é integrada por várias organizações, com diferentes ideias e modos de atuação, o que se traduziu hoje na cautela de Moaz al-Khatib, que enfatizou a necessidade de ampliar a base da oposição e somente enunciou os princípios que consideram inegociáveis: liberdade e dignidade para o povo, um modelo democrático e respeito aos direitos humanos.
O clérigo Mohammed Yakoubi foi o encarregado de ler a "Declaração de Madri", que pede a retirada do exército sírio a seus quartéis, a libertação dos presos, a entrada da ajuda humanitária e o retorno dos deslocados.
O documento também propõe a formação de um Conselho de Sábios, com ampla representação, que seria o início de um governo de transição com apoio da ONU e à abertura de um processo constituinte antes de um ano.
O comunicado deixa claro que Bashar al Assad "não é parte da transição nem terá papel algum na decisão sobre o futuro da Síria" e aponta que os responsáveis do derramamento de sangue responderão por seus crimes.
A cautela de Moaz al-Khatib chegou ao ponto de ponderar se em um hipotético governo de transição deveria haver ou não representantes do atual regime, excluindo os principais hierarcas.
O dirigente opositor reconheceu que é "cedo" para falar de eleições livres e aproveitou para enviar uma mensagem à comunidade internacional quando disse que ela tem "preguiça" de abordar o conflito sírio.
O clérigo Yakoubi condenou a intervenção da milícia xiita libanesa Hezbollah do lado do regime de Assad, e afirmou que a comunidade internacional tem a obrigação de defender a população síria.
Todos evitaram outro tema que os divide, que é o da conveniência que os opositores tenham acesso a armas para enfrentar o exército oficial, uma ideia que também não é respaldada na comunidade internacional.