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Oriente Médio

Oposição diz que gás matou centenas na Síria e ONU pede esclarecimento

21 ago 2013 - 09h37
(atualizado às 10h44)
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A oposição síria acusou nesta quarta-feira as forças governamentais de terem matado com foguetes que exalam gás letal centenas de homens, mulheres e crianças enquanto dormiam. Estima-se que de 500 a 1.300 pessoas morreram em subúrbios de Damasco controlados por rebeldes.

Sobreviventes do que ativistas dizem ter sido um ataque com gás venenoso dormem em uma mesquita do bairro de Duma, em Damasco. O grupo de oposição sírio Escritório de Mídia de Damasco disse que 494 pessoas morreram em um bomboardeio e um ataque com gás realizados pelas forças do presidente Bashar al-Assad nesta quarta-feira, no que seria, se confirmado, de longe o pior relato de uso de armas químicas nos dois anos de guerra civil. 21/08/2013.
Sobreviventes do que ativistas dizem ter sido um ataque com gás venenoso dormem em uma mesquita do bairro de Duma, em Damasco. O grupo de oposição sírio Escritório de Mídia de Damasco disse que 494 pessoas morreram em um bomboardeio e um ataque com gás realizados pelas forças do presidente Bashar al-Assad nesta quarta-feira, no que seria, se confirmado, de longe o pior relato de uso de armas químicas nos dois anos de guerra civil. 21/08/2013.
Foto: Bassam Khabieh / Reuters

O incidente, que pode ser o mais grave ataque com armas químicas desde a década de 1980, motivou a convocação de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York.

O conselho não exigiu explicitamente uma investigação da ONU sobre o incidente, mas afirmou que é preciso esclarecer o suposto ataque com armas químicas e saudou uma proposta feita pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para que uma equipe de especialistas da organização, atualmente em Damasco, investigue o caso.

Uma proposta inicial redigida pelo Ocidente e enviada ao conselho, à qual a Reuters teve acesso, não foi aprovada. A versão final do documento foi diluída para acomodar objeções de Rússia e China, disseram diplomatas, países que vetaram anteriormente esforços para impor sanções ao presidente sírio, Bashar al-Assad.

Ban Ki-moon se disse chocado com o fato, mas as divisões entre as grandes potências a respeito da Síria fazem com que dificilmente haja uma reação internacional imediata.

A Rússia se apressou em corroborar os desmentidos do governo de Assad sobre o uso de armas químicas, atribuindo a denúncia a uma "provocação" rebelde para desacreditá-lo.

A Grã-Bretanha adotou posição contrária: "Espero que isso desperte alguns que têm apoiado o regime de Assad para que percebam sua natureza assassina e bárbara", disse o chanceler William Hague durante visita a Paris.

França, Grã-Bretanha, EUA e outros países defenderam que inspetores da ONU que chegaram nesta semana a Damasco aproveitem para investigar o incidente in loco. A Rússia, pedindo um inquérito "objetivo", disse que a própria presença da equipe já sugere que a responsabilidade não foi das forças governamentais.

Em Israel, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, disse a jornalistas que a Síria usou armas químicas e que não foi a primeira vez.

Meses atrás, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que o uso de armas químicas seria um limite a partir do qual seu país poderia se envolver no conflito sírio.

Em junho, quando ficou estabelecido que Assad havia empregado armas químicas contra rebeldes em situações mais limitadas e igualmente contestadas, Washington intensificou seu apoio aos rebeldes, mas sem chegar a uma intervenção militar completa.

Se confirmado, o ataque com gás nesta quarta-feira deve intensificar a pressão sobre Obama para aumentar o apoio aos rebeldes, deixando de lado a relutância causada pela associação dos grupos anti-Assad com militantes islâmicos sunitas.

"PARECIAM DORMIR, MAS ESTAVAM MORTOS"

Imagens recebidas da Síria, inclusive por fotógrafos free-lance que colaboram com a Reuters, mostram vários corpos --alguns deles de crianças pequenas-- no chão de uma clínica, sem sinais visíveis de lesões. Algumas mostravam pessoas com espuma ao redor da boca.

A Reuters não pôde verificar a causa das mortes.

Os Estados Unidos e outros dizem não haver confirmação independente de que armas químicas foram usadas. Ban disse que o chefe da equipe de inspetores da ONU em Damasco já está discutindo as novas alegações com o governo.

Ativistas de oposição citaram várias cifras de mortos, de 500 a 1.300. Eles disseram que os foguetes caíram por volta de 3h (21h de terça-feira em Brasília). Em 1988, 3.000 a 5.000 curdos iraquianos foram mortos com armas de gás pelas forças de Saddam Hussein em Halabja.

Um homem que disse ter retirado vítimas no subúrbio damasceno de Erbin disse à Reuters: "Entrávamos em uma casa e estava tudo em seu lugar. Cada pessoa estava em seu lugar. Eles estavam deitados onde haviam estado, pareciam dormir. Mas estavam mortos."

Quando os foguetes atingiram sua aldeia de Mouadamiya, a sudoeste da capital, Farah al-Shami ignorou rumores no Facebook de que os projéteis estariam carregados de agentes químicos. Ela achava que seu bairro estava perto demais de um quartel para ser afetado.

"E ao mesmo tempo a ONU estava aqui. Parecia impossível. Mas aí comecei a ficar tonta. Estava sufocando, e meus olhos estavam ardendo", disse a síria de 23 anos à Reuters, via Skype.

"Corri para o posto de saúde dos arredores. Felizmente ninguém da minha família passou mal, mas vi famílias inteiras no chão."

Médicos entrevistados descreveram sintomas que, segundo eles, apontam para o gás sarin, um dos agentes que as potências ocidentais acusam Damasco de manter em estoques não declarados de armas químicas.

O ministro sírio da Informação, Omran Zoabi, disse que as acusações foram "ilógicas e fabricadas". O governo Assad diz que jamais usaria gás venenoso contra os sírios.

Os EUA e seus aliados europeus acreditam que as forças de Assad já usaram pequenas quantidades de sarin anteriormente, o que justifica a atual visita dos especialistas da ONU.

(Reportagem adicional de Erika Solomon em Beirute e Anthony Deutsch em Amsterdã, Niklas Pollard em Estocolmo e Thomas Grove em Moscou)

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