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Oriente Médio

Obama preocupado com possível ataque químico, Rússia rejeita uso de força na Síria

23 ago 2013 - 16h10
(atualizado às 16h11)
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O presidente americano Barack Obama classificou de muito preocupante a possibilidade de o regime sírio ter usado armas químicas, ao passo que a Rússia julgou inaceitáveis os pedidos europeus para uma intervenção internacional no país árabe.

"O que temos visto indica que é claramente um grande evento, de muita preocupação, e nós já estamos em contato com toda a comunidade internacional", afirmou Obama em entrevista à CNN.

Na quarta-feira, o exército sírio realizou uma ofensiva contra os redutos rebeldes de Ghuta oriental e Mouadamiyat al-Sham, localizados, respectivamente, na periferia leste e oeste de Damasco, causando um número de vítimas ainda indeterminado.

A oposição fala de 1.300 mortos e acusa o regime de estar por trás desses ataques com gases tóxicos, o que é negado categoricamente pelo regime sírio.

"Estamos recebendo informações sobre este fato em particular", declarou o presidente dos Estados Unidos.

Obama evitou afirmar se o seu governo acredita que armas químicas teriam sido usadas no ataque, um ato que, em tese, teria cruzado a "linha vermelha".

"Não esperamos cooperação (do governo sírio), levando em conta seu passado".

A Rússia, por sua vez, se opôs ao uso de força na Síria, onde a comunidade internacional pede para que a ONU investigue o mais rápido possível as acusações de ataques com armas químicas nas proximidades de Damasco.

Moscou julgou "que os pedidos de algumas capitais europeias de pressão sobre o Conselho de Segurança da ONU e até mesmo sobre o uso da força são inaceitáveis", segundo um comunicado do ministério das Relações Exteriores.

Ao mesmo tempo, o governo russo pediu a seu aliado sírio que coopere com os inspetores da ONU e aos rebeldes "garantias" quanto ao acesso aos locais atacados.

A reação de Moscou ocorre após o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, declarar que, se o uso de armas químicas pelo regime sírio for comprovado, será necessário "uma ação que pode assumir a forma de uma reação de força".

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em uma ampla rede de ativistas e médicos em todo o país, registrou, por sua vez, 170 mortes e não confirmou o uso de armas químicas.

A ONG, no entanto, indicou que o regime bombardeou de forma sistemática esta região entre quarta e quinta-feira.

Um oficial militar chegou a afirmar que recorrer ao uso de armas químicas com a presença de especialistas da ONU no terreno seria "um suicídio político".

O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, declarou nesta sexta-feira em um discurso transmitido pela televisão que, segundo Londres, o atentado de quarta-feira foi "um ataque químico do regime de Assad".

A Suécia também manifestou sua certeza quanto a autoria dos ataques e o uso de substâncias tóxicas.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também fez um apelo para que os inspetores da ONU possam investigar o mais rápido possível, alertando que o uso de armas químicas constitui "um crime contra a humanidade" e terá "graves consequências".

A ONU já pediu formalmente ao governo sírio autorização para que seus especialistas investiguem as denúncias do uso de armas químicas na periferia de Damasco, e espera "receber rapidamente uma resposta positiva".

Os especialistas chegaram domingo ao país com um mandato limitado para investigar as localidades de Khan al-Assal (norte), Ataybé (perto de Damasco) e Homs (centro).

ONU aumentou a pressão sobre o regime sírio enviando uma especialista em desarmamento a Damasco.

Ban Ki-moon enviou a subsecretária-geral para o Desarmamento, Angela Kane, que será recebida no sábado para negociar as modalidades das inspeções.

Questionado pela AFP sobre o programa dos inspetores no país, um oficial dos serviços de segurança de Damasco indicou não ter informações a esse respeito, se limitando a dizer que "eles trabalham de acordo com um plano previamente traçado com modalidades precisas".

"No plano internacional há uma convicção crescente de um ataque com armas químicas, que foi realizado por terroristas", considerou, acrescentando que essas alegações podem ser "uma grande armação".

Para o enviado especial da Liga Árabe e da ONU, Lakhdar Brahimim, o conflito sírio é a maior ameaça à paz mundial, especialmente após a suposta utilização de armas químicas.

"A Síria é, sem dúvida, a maior ameaça à paz e segurança no mundo atualmente", declarou Brahimi durante uma entrevista transmitida nesta sexta pela rede de televisão da ONU na qual pediu que as diferentes partes em conflito sentem-se à mesa negociações.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, exortou por sua vez a comunidade internacional a "agir de forma urgente e a mostrar um rosto unido" frente a crise síria.

Para corroborar suas acusações, os militantes antirregime postaram vídeos de pessoas mortas sem traços de ferimentos físicos e médicos administrando oxigênio para ajudar outras vítimas a respirar.

As crianças são as mais afetadas pelo conflito que já fez mais de 100.000 mortes. Cerca de 7.000 crianças morreram em dois anos e meio de guerra.

A Unicef estima que o número de crianças sírias refugiadas no exterior chega a um milhão, enquanto dois milhões de outras foram deslocadas no país.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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