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Oriente Médio

Negociações entre oposição e governo sírio na Rússia terminam sem avanços

10 abr 2015 - 14h00
(atualizado às 14h00)
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As negociações entre algumas organizações de oposição síria e representantes do governo de Damasco terminaram nesta sexta-feira, em Moscou, sem a obtenção de nenhum avanço para colocar um ponto final ao conflito.

As negociações começaram na segunda-feira sem a presença do principal grupo de oposição sírio, a Coalizão Nacional, e depois do fracasso do primeiro ciclo de conversações, em fevereiro, as expectativas para este diálogo eram ínfimas.

"Perdeu-se a oportunidade", afirmou Samir Aita, presidente da Associação Democracia e Assistência.

"Não foi assinado nenhum documento de caráter político. Não conseguimos chegar a um acordo", lamentou o ativista.

A oposição foi representada por 30 delegados, com a notória ausência do Conselho Nacional Sírio (CNS), a coalizão opositora apoiada pelo Ocidente, e de Luay Hussein, chefe do Movimento para a Reconstrução da Síria, que não obteve permissão de Damasco para viajar.

Muitos analistas haviam advertido que estes diálogos promovidos pela Rússia, aliada-chave do presidente sírio Bashar al-Assad, eram uma forma de Moscou aumentar sua influência na região.

A Coalizão Nacional acusou a Rússia de utilizar este fórum para apoiar o governo sírio.

A principal exigência da oposição síria é que Assad deixe o governo para que o conflito interno possa terminar.

A guerra civil síria começou como um levante popular em março de 2011.

Os opositores sírios querem formar uma união alternativa à atual Coalizão síria no exílio e iniciar negociações com o regime do presidente Bashar al-Assad para terminar com a guerra civil.

Ao menos 150 opositores, que moram dentro ou fora da Síria, devem se reunir no início de maio no Cairo durante uma "Conferência Nacional Democrática Síria", segundo os organizadores.

Ali deverão adotar uma "Carta nacional síria" e um mapa do caminho, afirmou à AFP um deles, Haytham Manna, um veterano da oposição.

"A Coalizão nunca foi capaz de representar o conjunto da oposição síria, já que se autoproclamou como única representante da oposição e da sociedade síria, mas muitos componentes estão excluídos", explicou.

Segundo Manna, seu objetivo é formar uma delegação "equilibrada, representativa, eleita democraticamente e que não exclua ninguém" para dialogar com o governo nas negociações.

A Síria está afundada há quatro anos em uma guerra civil, que explodiu após manifestações pacíficas que exigiam mudanças democráticas, e que deixou até agora mais de 215.000 mortos.

A oposição política foi incapaz de formar uma frente comum por culpa das divisões e das ingerências estrangeiras, enquanto muitos grupos hostis ao regime, incluindo os jihadistas, foram se expandindo.

A nova união opositora se considera mais pragmática que a Coalizão, cujo presidente, Khaled Khoja, "é considerado um homem da Turquia e próximo à Irmandade Muçulmana", explica o especialista Aaron Lund no site "Syria in Crisis".

"Como Ancara, Khaled Khoja adotou uma linha dura nas negociações de paz, afirmando que devem se concentrar na forma, e não em se Assad deve renunciar", explica.

Segundo Manna, o novo movimento insiste em estabelecer "uma agenda precisa e de compromisso firme do Conselho de Segurança da ONU para fazer com que as decisões tomadas sejam respeitadas".

"Negociaremos com a equipe (de Assad) e (...) todos os temas estarão na mesa, incluindo o destino de Assad", afirma Manna.

Manna diz que já foram recebidas 300 solicitações de organizações e personalidades árabes, principalmente, incluindo as de "18 membros da Coalizão que comunicaram seu desejo" de participar da Conferência.

O núcleo radical do movimento é constituído por dissidentes pertencentes, em sua maioria, ao Comitê de Coordenação Nacional para as Forças das Mudanças Democráticas (CCND) ou por personalidades como Luay Hussein.

Embora os organizadores digam rejeitar "toda ingerência regional", contam com a bênção do Cairo e de Riad, que acusam a Coalizão de estar nas mãos da Turquia e da Irmandade Muçulmana.

Mas Lund duvida que "a Coalizão se deixe destronar". E, "em todo o caso, a conferência do Cairo não terá nenhum impacto sobre os grupos armados".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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