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Oriente Médio

Mulheres do Estado Islâmico observadas em segredo

9 jun 2015 - 16h12
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Em um escritório insignificante do centro de Londres, a pesquisadora Melanie Smith examina com atenção a conta no Twitter de uma britânica de 17 anos que fugiu para se unir aos militantes do Estado Islâmico.

"O que estamos vendo aqui é quando anunciou a morte de seu marido", explica Smith, mostrando uma mensagem de meses atrás que diz: "Que Alá aceite meu marido".

Na mesma conta, há vídeos de propaganda e artigos da imprensa, principalmente na época do atentado islamita contra a revista satírica francesa Charlie Hebdo em janeiro, em Paris.

"Vimos que difundia fotos dos ilustradores que foram assassinados e outras mensagens que celebravam os atentados", disse Smith.

A conta é uma das várias usadas por Salma Halane, uma aluna da cidade de Manchester que fugiu para se unir ao grupo com sua irmã gêmea, Zahra, em julho de 2014.

As gêmeas fazem parte de um grupo de 550 mulheres ocidentais que se uniram a esses militantes islamitas que já controlam grandes extensões de território na Síria e no Iraque.

Smith e sua colega Erin Saltman, do Instituto para o Diálogo Estratégico de Londres, elaboraram o perfil de 108 dessas mulheres a partir de suas contas nas redes sociais em um projeto inovador para entender mais sobre essas recrutas femininas.

"É mais ou menos minha vida agora, é um pouco uma obsessão", diz Smith, uma jovem que acaba de completar 23 anos, idade próxima das muitas mulheres que estuda.

As duas acadêmicas não interagem com as mulheres, simplesmente as observam.

"Somos voyeuses!", diz, sorrindo, Saltman, de 30 anos, especialista em radicalização e extremismo violento.

Consultar durante horas contas do Twitter, Facebook, Ask.fm e tumblr pode ter um grande peso.

"Estamos todo o tempo vendo imagens muito inquietantes, de tudo, de decapitações a crianças mortas. Não é fácil", diz Saltman.

Alguns investigadores podem se transformar em alvos. "Pessoalmente recebi algumas ameaças de morte no Twitter," diz Saltman.

Smith começou a trabalhar na base de dados há um ano, arquivando mensagens das mulheres que deixaram suas vidas ocidentais para se transformarem em esposas de combatentes para povoar o novo "califado".

Uma das mulheres que observam tem apenas 14 anos. "Sinto compaixão pelas mais jovens", explica, um sentimento que por vezes desaparece à medida que se radicalizam.

"Não sinto muita lástima. Mas me interessa saber o que as levou a tomar essa decisão", acrescenta.

A investigação, conduzida em conjunto com o Centro Internacional para o Estudo da Radicalização do Kings College de Londres, é necessariamente limitada porque está centrada nas contas em inglês.

Um estudo recente dos Estados Unidos identificou pelo menos 46.000 contas no Twitter dos partidários do grupo, três quartos delas em árabe.

A informação desafia a noção das ingênuas "noivas jihadistas", porque algumas mulheres estão tão ideologicamente comprometidas tanto quanto os homens.

Mesmo sem poder lutar, as mulheres utilizam o livre acesso às mídias sociais para difundir a propaganda islamita e animar as novas recrutas.

"Sabemos que o que estamos vendo é propaganda, não a realidade. Lemos muito as entrelinhas", diz Saltman.

Menções de abortos involuntários, a dor de deixar as famílias em casa ou o abandono que sentem algumas viúvas aparecem em meio à glorificação dos combatentes.

As mulheres sabem que estão sendo vigiadas. Se os investigadores as leem, seria absurdo pensar que os serviços de segurança não façam isso.

"Mostram uma perspectiva íntima de sua vida, mas é também uma perspectiva muito consciente", explica Saltman.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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