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Oriente Médio

Mulher afegã linchada por suposta profanação de Corão é enterrada

22 mar 2015 - 13h11
(atualizado às 13h11)
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A mulher linchada com combustível de origem vegetal acusada de queimar um Corão foi enterrada neste domingo em Cabul entre medidas de segurança e perante dezenas de pessoas que reivindicaram justiça, enquanto o presidente afegão, Ashraf Gani, formou uma comissão de investigação.

O corpo da jovem, de 27 anos, chamada Farjonda, foi levado nos ombros de mulheres, algo incomum em um enterro islâmico, como demonstração de sua luta em defesa dos direitos da mulher, e seu funeral foi transmitido por televisões locais.

Na cerimônia no cemitério de Panjsad no distrito 11 de Cabul, perto de onde vivia a vítima, participaram representantes governamentais, parlamentares e de sociedades civis.

Alguns dos presentes advertiram a um conhecido mulá ou líder religioso, Ayaz Niazi, que não participasse do funeral depois que na oração da sexta-feira supostamente justificou o linchamento.

Farjonda morreu na quinta-feira depois que uma multidão, em sua maioria homens jovens, a atingiu com pauladas, pedras, antes de queimar seu corpo e jogá-lo no rio Cabul.

O fato ocorreu no cêntrico santuário Shah-Do-Shamshira Shrine e a polícia deteve depois pelo menos 11 pessoas, em uma investigação que segue aberta após não encontrar provas de que a mulher, que sofria de problemas mentais, tenha queimado uma cópia do livro sagrado, mas simples papéis.

O governo afegão suspendeu hoje 13 policiais, um deles chefe de distrito, destinados a fazer a segurança na zona quando ocorreram os fatos, informou à Agência Efe uma fonte do Ministério do Interior afegão.

A divulgação em redes sociais de fotografias e vídeos do linchamento da jovem, que estava graduada em uma escola religiosa e usava véu, levou grupos de internautas do país a pedir justiça e promover protestos para os próximos dias.

O presidente afegão constituiu ontem à noite uma comissão de investigação integrada por líderes religiosos, parlamentares e ativistas pelos direitos das mulheres.

O presidente Gani, as Nações Unidas e organizações civis condenaram o fato.

A sociedade afegã é muito sensível a casos de blasfêmia e profanação do Corão, que costumam gerar represálias violentas.

Pelo menos quatro civis morreram em 2013 depois que vários homens dispararam, durante um protesto, contra um policial que profanou um livro sagrado, no sul do Afeganistão.

Em 2012, a queima de exemplares do Corão, que tinham sido retirados de uma prisão e levados à base militar de Bagram, perto de Cabul, e que aconteceu por erro segundo uma investigação militar americana, suscitou uma onda de violência em diferentes pontos do país na qual morreram cerca de 30 pessoas.

EFE   
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