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Oriente Médio

Morte de mulá Omar ameaça unidade e futuro dos talibãs

30 jul 2015 - 16h11
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A notícia da morte do líder supremo dos talibãs, o mulá Omar, representa um duro golpe para a unidade deste grupo insurgente, põe em xeque as conversas iniciadas com o governo do Afeganistão e deixa o movimento talibã entre a ruptura e novas aventuras como a do Estado Islâmico (EI).

O anúncio feito pelo governo afegão na quarta-feira da morte do líder talibã, confirmada hoje por seus próprios seguidores, veio referendar uma realidade que para muitos era evidente há tempos.

O dirigente talibã não aparecia em público desde que foi tirado do poder em 2001 após a invasão americana, mas em duas ocasiões enviou mensagens de felicitação pelo fim do Ramadã, o mês de jejum muçulmano.

Há menos de 15 dias, os talibãs divulgaram uma mensagem atribuída a ele na qual pela primeira vez o líder insurgente aceitava que a solução política para a guerra afegã era legítima.

A mensagem, ainda hoje no site talibã, foi elogiada pelo presidente afegão, Ashraf Ghani, que agradeceu a mulá Omar por sua flexível postura em relação às conversas.

O mulá Omar exercia um papel importante como símbolo da unidade para os comandantes talibãs, que lutam contra o governo e o contingente militar internacional presente no país há 14 anos.

Essa unidade, segundo afirmaram analistas consultados pela Agência Efe, não poderá ser mantida perante a iminente luta interna por poder e a reacomodação de forças e posições, o que representará a mais que segura ruptura entre as diferentes facções.

O segundo no comando e chefe militar talibã, o mulá Akhtar Muhammad Mansour, considerado próximo ao Paquistão e apontado como favorito para assumir a liderança talibã, não tem o respaldo da família de Omar, nem do escritório dos talibãs no Catar nem do mulá Abdul Qayum Zakir, número três do grupo insurgente, segundo disse à Efe o diplomata afegão Ahmad Sayeedi.

"Vendo estas fendas, os talibãs não se manterão juntos após a morte do mulá Omar", disse este especialista em insurgência.

Sayeedi acrescentou ainda que o mulá Omar tinha sugerido como sucessores o mulá Obaidullah, já morto, e o mulá Brother, atualmente sob prisão domiciliar no Paquistão, razão pela qual, em sua opinião, quem assumir a liderança não será aceito por todos os grupos talibãs.

A insurgência mantida durante 14 anos também se debilitará após a morte de seu líder. Alguns de seus comandantes aceitarão as conversas de paz que começaram este mês com o governo e aqueles que se oponham não terão mais alternativa que unir-se ao braço local do Estado Islâmico, declarou à Efe o ex-oficial de inteligência afegão, Javid Kohistani.

"O status de Amirul Muminin (comandante dos fiéis, outorgado a Omar) respaldado por 1.500 ulemás (doutores no Corão) já não é viável para os talibãs; portanto as fatwa (ordens do comandante) não serão efetivas nem aceitas pelos comandantes talibãs", opinou Kohistani.

Em sua opinião, este será o último ano durante o qual os talibãs mostrarão todo seu poder militar.

Vários comandantes talibãs desertaram nos últimos meses para unir-se ao EI, motivo pelo qual o grupo insurgente advertiu Abu Bakr al-Baghdadi, líder dessa organização, para que não criasse uma segunda frente jihadista no país se não queria se ver confrontado e derrotado pela força.

Mas o anúncio da morte do mulá Omar chegou após a tão ansiada primeira rodada de conversas entre os talibãs e o governo, no último dia 7 de julho, e o momento em que se preparava a segunda, adiada a pedido dos insurgentes perante os últimos eventos.

"A morte do mulá Omar terá sérias consequências para as conversas de paz no curto prazo e as complicará mais, mas em longo prazo é vista como uma oportunidade para o governo alcançar uma paz com aqueles insurgentes a quem seus companheiros não permitiram buscar um acordo no passado", disse à Efe Mohammad Natiqi, da delegação afegã nas conversas.

Nesse sentido, Natiqi lembrou que as facções mais influentes dos talibãs são o grupo do mulá Akhtar Mansour e a rede Haqqani, que mostraram no passado o desejo de conseguir um acordo para acabar com a guerra.

"Se o governo alcançar um acordo com estes dois grupos, os demais talibãs não terão outro remédio que submeter-se ao acordo de paz", concluiu Natiqi.

EFE   
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