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Oriente Médio

Jovens sírias são forçadas a se casar para deixar a vida de refugiada

12 jun 2013 - 16h19
(atualizado às 17h12)
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"Esta é a última coisa que gostaria de fazer", mas o rico esposo saudita "prometeu nos ajudar". Assim como Abu Mohamed, cada vez mais refugiados sírios na Jordânia casam suas filhas adolescentes na esperança de lhes proporcionar segurança.

Este senhor de 60 anos, que vive com seus seis filhos no campo de Zaatari assim como outros 160.000 refugiados, tomou esta difícil decisão para garantir a segurança de sua filha e melhorar as condições de vida da família.

"Esta imensa prisão na qual vivemos é insuportável", diz. E o homem de 40 anos que casou com sua filha há três meses prometeu ajudar a família "até o final da crise na Síria e o nosso retorno para casa", explica à AFP em frente a sua barraca.

O caso de Abu Mohamed e de sua filha está longe de ser isolado.

"Jordanianos e outros árabes vêm com frequência perguntar se conheço refugiadas sírias para casar", testemunha Fares Hocha, vendedor de eletrodomésticos em Zaatari.

"Dois homens que não eram do campo me perguntaram isso recentemente. Um cliente lhe disse que tinha duas filhas. Eles deixaram a minha loja juntos e eu não sei o que aconteceu depois".

Para este comerciante, os refugiados aceitam "casamentos rápidos e sem pré-condições porque têm medo do desconhecido e porque querem garantir a segurança de suas filhas".

É o que aconteceu com Said, que casou no mês passado as suas duas filhas de 15 e 16 anos.

"Estou desempregado, paraplégico e não posso atender às necessidades de minha família", lamenta este pai de dez jovens.

"O campo é um local perigoso e tinha medo por minhas filhas. Pensei que o casamento seria a solução".

E os comerciantes não são os únicos a serem consultados. A organização de caridade Kitab wa Sunna, que ajuda milhares de refugiados, diz receber dezenas de pedidos de homens que vieram buscar uma esposa em Zaatari.

"Nós somos uma associação humanitária e devemos nos concentrar em nossa missão. Não queremos nos envolver nesta questão, isso poderia criar problemas", explica o diretor Zayed Hammad.

Outros viram nesta demanda uma oportunidade. Na principal rua de de Zaatari, Abu Ahmed aluga há seis meses vestidos de casamento por vinte euros ao dia.

"Todos os dias alugo pelo menos um", assegura, enquanto um casal observa a mercadoria sem querer responder as perguntas da AFP.

É difícil medir a extensão do casamento precoce, mas muitos sinais mostram que o fenômeno se desenvolveu, segundo Dominique Hyde, representante do Unicef na Jordânia, onde o casamento é permitido a partir dos 15 anos.

"Em todas as situações de emergência, as mulheres e as jovens são expostas ao risco de exploração", afirma, enquanto Amã indica a existência de pelo menos 500.000 sírios em seu território. Entre os refugiados que fugiram da guerra civil que devasta o país há mais de dois anos, 70% são mulheres e crianças, segundo a ONU.

"Os sírios explicam que mesmo que o casamento precoce já fosse frequente em seu país antes da crise, aconteceram mudanças depois de sua chegada à Jordânia. A principal novidade é a diferença de idade crescente entre o casal", acrescenta.

Mas o Ministério jordaniano do Interior estima que o número de casamentos continua "na média", com 1.029 uniões celebradas entre jordanianos e sírias desde a chegada dos primeiros refugiados ao reino em 2011. E são "331 sírias casadas com não-jordanianos".

Outros, como a "Campanha Nacional pela Proteção das Mulheres Sírias", alertam para "os pedidos de casamento de árabes do Golfo e de outras regiões por motivações estritamente sexuais".

Esta página do Facebook é seguida por mais de 20.000 internautas que denunciam "uma escravidão dissimulada" e o "comércio sexual".

Apesar disso, alguns refugiados como Said Hariri, de 60 anos, defendem o casamento precoce. "Na tradição síria é normal que uma jovem se case aos 16 anos. Se aos 20, ainda for solteira, ela será destratada", explica este ex-membro das forças de segurança sírias.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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