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Oriente Médio

Jovem somali conta estupro que sofreu de soldados africanos

20 ago 2013 - 14h55
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Depois de ter sido sequestrada, drogada e estuprada, uma jovem mãe somali contou a brutalidade da violência sexual cometida, segundo ela, por soldados da União Africana (UA) e do Exército somali, em um caso chocante que pode comprometer as vitórias militares contra os rebeldes shebab.

"Os soldados me estupraram (...) Eu tentei me defender, mas eles me bateram e eu desmaiei", contou ao canal Somali Channel a mulher de 20 anos, mãe de um bebê.

Ela contou que foi surpreendida por três soldados do Exército Nacional somali em uma rua de Mogadíscio, em um dos dias do feriado do Eid al-Fitr, que marca o fim do mês do Ramadã. Eles vendaram seus olhos e a colocaram em um carro, antes de entregá-la a soldados da Força da UA na Somália (Amisom), no campo militar de Maslah, na periferia norte da capital.

Foi em Maslah que os soldados estupraram a jovem repetidamente.

Marcas de injeções em seu braço mostram que ela foi drogada durante seu calvário.

"Havia outras mulheres no local (...) uma delas sangrava muito", acrescentou ela, afirmando ter ficado inconsciente na maior parte do tempo e que, por isso, não sabe quantos homens a estupraram.

A Amisom, que conta com 17.700 homens e que apoia militarmente o frágil governo somali em seu combate contra os islamitas shebab, afirmou que investigará essas acusações em conjunto com as autoridades do país.

"Medidas apropriadas serão adotadas depois que os fatos forem esclarecidos", ressaltou em um comunicado a Amisom, que corre o risco de ter sua imagem manchada.

Os rebeldes shebab imediatamente aproveitaram o caso.

"Os soldados somalis sequestram meninas e as estupram. Eles as dividem com as tropas da Amisom", declarou à AFP o porta-voz dos islamitas somalis, Ali Mohamed Rage.

"Os soldados somalis são o que resta do antigos senhores da guerra. Eles matam seus compatriotas e violam nossas filhas e mães (...) as tropas da UA são brutais", explicou.

A ONU considerou recentemente que o estupro era algo "generalizado" na capital somali, particularmente nos campos de refugiados.

Esta prática é, normalmente, atribuída ao Exército Nacional somali (SNA), que integra as suas tropas ex-milicianos acusados das mais diversas violações dos direitos humanos.

Apenas no primeiro semestre de 2012, cerca de 800 casos de violência sexual foram registrados em Mogadíscio, de acordo com o Escritório de Coordenação das Questões Humanitárias da ONU (Ocha), que descreve os criminosos como "homens não identificados, armados e vestidos com uniformes militares".

"A violência sexual na Somália é um dos desafios mais urgentes e mais graves", considerou recentemente Nicholas Kay, representante das Nações Unidas no país, pedindo uma investigação "rápida e rigorosa" sobre as acusações que pesam sobre os soldados da UA.

Segundo a organização Human Rights Watch, muitas vítimas de estupro temem represálias caso denunciem as agressões sofridas.

A justiça somali está, de fato, mais propensa a julgar as vítimas do que os culpados.

Em fevereiro, uma mulher que afirmava ter sido violentada por soldados malinenses, assim como uma jornalista a quem ela contou o caso, foram condenadas à prisão em regime fechado por "injúrias às instituições", o que provocou a reação da comunidade internacional.

E, embora o primeiro-ministro somali Abdi Farah Shirdon se diga "profundamente preocupado com as acusações de estupro (...) envolvendo membros da Amisom", sua ministra do Desenvolvimento Humano, Mariam Qasim, minimizou a amplitude dessas agressões e preferiu denunciar a tentativa de manchar a reputação do Exército somali.

Qasim falou de "um exagero e de um aumento" do número de casos, ressaltando que é "preferível" que as mulheres que aparecem na televisão para denunciar um estupro sejam "mortas" porque perderam sua "dignidade".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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