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Oriente Médio

Israelenses e palestinos fazem ato conjunto pela memória de mortos

Cerimônia binacional lembra vítimas dos conflitos entre os dois povos ao longo da história

14 abr 2013 - 19h37
(atualizado às 19h37)
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Foto: Guila Flint / Especial para Terra

Centenas de israelenses e palestinos participaram neste domingo, dia 14, de uma cerimônia binacional em Tel Aviv para lembrar os mortos dos dois lados no conflito entre os dois povos. A cerimônia, organizada pelo grupo israelense-palestino Combatentes pela Paz, ocorreu às vésperas do Dia da Independência de Israel, quando o país marca o Dia da Memória e homenageia as vítimas israelenses.

"Diferentemente das cerimônias oficiais de Israel, a nossa cerimônia respeita e reconhece o sofrimento do outro povo", disse Erez Krispin ao Terra.

Krispin, 46 anos, um dos organizadores da cerimônia binacional, é capitão da reserva do Exército israelense. "Nosso grupo inclui militares e civis dos dois lados, que chegaram à conclusão de que só com reconhecimento e respeito mútuos os dois povos poderão alcançar a paz", disse Krispin. "A cerimônia binacional é fruto da iniciativa de famílias enlutadas israelenses e palestinas, que decidiram marcar o luto juntas, assim manifestando a esperança de que não haja mais famílias enlutadas no futuro".

Palestino Mohamed Aweda, ativista do grupo Combatentes pela Paz
Palestino Mohamed Aweda, ativista do grupo Combatentes pela Paz
Foto: Guila Flint / Especial para Terra

A mesma dor

O palestino Mohamed Aweda, 41 anos, resolveu aderir ao grupo dos Combatentes pela Paz há 5 anos. Morador do vilarejo de Silwan, em Jerusalém Oriental, ele também é um dos organizadores da cerimônia alternativa. "O sangue é o mesmo sangue, as lágrimas são as mesmas lágrimas e a dor é a mesma dor", disse ao Terra, em referência aos mortos dos dois lados do conflito e ao luto das famílias. "Somos todos seres humanos".

Para Aweda, que atua contra a ocupação israelense e principalmente contra o confisco de terras e a destruição de casas palestinas em Silwan, o reconhecimento à dor do outro lado "não significa abrir mão dos nossos direitos". "O fato de irmos a Tel Aviv e participarmos de uma cerimônia conjunta com israelenses não quer dizer que aceitamos a ocupação. Continuaremos lutando por um Estado palestino independente, com a capital em Jerusalém Oriental, mas sabemos que, para que a paz seja possível, os dois povos têm que conhecer e reconhecer um ao outro", afirmou Aweda. "Sem a paz os palestinos não terão liberdade e os israelenses não terão segurança", disse.

Parentes enlutados

Entre os oradores estavam parentes enlutados dos dois lados do conflito. O israelense Ben Kfir, 66 anos, perdeu a filha Yael em um atentado suicida cometido por um militante do Hamas, em 2003. "Sinto raiva dos políticos, que depois de tantos anos ainda não conseguiram fazer a paz e evitar que as crianças dos dois lados continuem morrendo", disse.

Foto: Guila Flint / Especial para Terra

O palestino Jamil El Kassas, de Belém, perdeu o avô, o tio e o irmão no conflito. O avô morreu durante a guerra de 1948 e o tio, na Guerra do Líbano, em 1982. Seu irmão, Nasser, 14 anos, morreu na primeira Intifada (levante palestino), quando foi atingido por balas disparadas por um soldado israelense. "O povo palestino e o povo israelense já tentaram todos os caminhos violentos, sem obter resultado algum. O caminho certo é o do diálogo", declarou ao Terra.

De acordo com o grupo Combatentes pela Paz, é necessário criar "a política da esperança, em vez da política do luto". "Conseguimos reunir em Tel Aviv, no Dia da Memória, 2,4 mil israelenses e palestinos capazes de compartilhar o luto e a esperança de paz, demonstrando que a solidariedade humana é possível e que podemos tirar as armaduras militaristas e nacionalistas que nos envolvem".

Fonte: Especial para Terra
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