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Oriente Médio

"Israel não perde o sono com pressão da Europa", diz analista

9 dez 2012 - 11h35
(atualizado às 12h46)
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LUÍS EDUARDO GOMES

Após a ONU elevar a Palestina ao status de Estado-observador, Israel decidiu aumentar o assentamento de Maaleh Adumin, o que praticamente dividiria o território palestino na Cisjordânia em dois. Com os Estados Unidos passivos, é provável que a pressão contra o movimento ilegal de Israel venha da Europa, provavelmente via boicote econômico. Apesar disso, o governo Netanyahu não parece se importar muito em manter uma relação melhor com o Velho Continente. Essas são as opiniões de duas analistas, uma palestina e outra israelense, ouvidas pelo Terra sobre o atual momento das negociações de paz no Oriente Médio.

A ampliação do assentamento de Maaleh Adumin, próximo a Jerusalém, é motivo de preocupação para a comunidade internacional
A ampliação do assentamento de Maaleh Adumin, próximo a Jerusalém, é motivo de preocupação para a comunidade internacional
Foto: Reuters

"Nós provavelmente veremos mais pressão vinda Europa - eles estão sendo forçados a agir, visto que os EUA são completamente passivos face às atividades ilegais de colonização de Israel", disse Nadia Hijab, diretora da rede política palestina Al-Shabaka, com sede em Washington. Segundo ela, isso poderia virar realidade com a oficialização de restrições à entrada de produtos das colônias em seus mercados. "Isso teria um impacto em todas as mercadorias israelenses, visto que os assentamentos são muito interligados com a economia de Israel", afirmou.

Por outro lado, analista do Instituto para Estudos de Segurança Nacional (INSS) israelense e professora da Universidade de Tel Aviv, Benedetta Berti, afirma o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não leva em grande consideração a pressão que vem recebendo dos países europeus para frear sua política de assentamentos. "Não é algo que o governo descarte, mas também não acho que eles percam o sono por a relação de Israel com a Europa não ser tão boa como poderia ser", disse.

"Desde que tomou posse, este governo deixou claro que o processo de paz e as negociações não eram uma prioridade. E eles entendem que uma das consequências disso era o estremecimento das relações com a Europa", afirmou Berti, acrescentando que Israel adota uma política de contenção de danos para lidar com o descontentamento de líderes europeus com suas ações.

Por outro lado, ela afirma que Israel não poderia ignorar as pressões caso o governo americano de Barack Obama se somasse às vozes críticas. "Se em algum momento o governo americano pressionar para que Israel interrompa os assentamentos, é algo que o governo israelense vai ter que considerar", diz Berti. Contudo, ela acrescenta que Israel já tomou ações no sentido de ampliar os assentamentos desde que Obama chegou ao poder e os Estados Unidos nunca pressionaram Israel sobre o assunto.

Eleições israelenses

Em 18 de janeiro de 2013, os israelenses vão às urnas para renovar o Parlamento do país, atualmente comandado pela coalizão liderada pelos partidos Likud, de Netanyahu, e Yisrael Beitenu, do ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman.

Berti afirma que as últimas ações do governo israelense, incluindo a operação que matou o líder militar do Hamas e culminou em um violento conflito entre os dias 14 e 21 de novembro em que morreram de 174 palestinos e seis israelenses, têm conexão direta com o pleito que se aproxima. "Tudo que tem acontecido, além de ter a ver com as relações políticas entre Israel e Palestina, tem a ver com projeto de reeleição de Netanyahu", diz Berti.

Para a palestina Hijab, qualquer que seja o resultado do pleito, não haverá avanços nas negociações de paz. "Assumindo que Netanyahu e outros partidos de direita vençam, as políticas em relação aos palestinos ficarão mais duras, com mais desapropriações de terra", disse Hajib. "Se os centristas ganharem, talvez nós vejamos esforços para reiniciar o processo de paz, mas os centristas não serão capazes de aceitar os mínimos direitos palestinos nas negociações, como eles não foram capazes no passado, e o processo vai voltar a se arrastar", acrescenta.

Segundo Berti, esta manutenção de um status quo é sustentada por um sistema que, desde 2008, estipula que na maior parte do tempo o Hamas não lança foguetes contra o território israelense e Israel deixa o movimento quieto. "No entanto, este não é um sistema estável, porque a cada poucos meses o Hamas lança foguetes e o Israel retalia atacando a estrutura de lançar foguetes".

Apesar da instabilidade desse processo, ela não acredita que a situação possa mudar em caso de vitória governista em janeiro. "Se a coalizão governista vencer, eles podem receber isso como um mandato para continuar sem a paz e ampliar os assentamentos", diz. "Se eles conseguirem resultados positivos, você definitivamente pode esperar que essas políticas continuem. Elas fazem parte da ideologia desses partidos. Não é algo que vá mudar".

Fonte: Terra
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