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Oriente Médio

Israel caminha para maioria ortodoxa e nacionalista, diz estudo

4 abr 2011 - 06h06
(atualizado às 07h09)
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A sociedade israelense experimenta nos últimos anos uma rápida mudança demográfica que a condenará à pobreza e ameaça sua existência como sociedade ocidental e democrática, revela um estudo da Universidade de Haifa.

"Israel está a caminho de se transformar em um Estado religioso, o que ameaça sua própria existência", afirma o estudo realizado pelo pesquisador Arnon Soffer, um dos principais especialistas em demografia do país.

Soffer analisa em um relatório a evolução dos distintos grupos que convivem no país e chegou à conclusão de que em 2030 a população ultraortodoxa e a denominada sionista religiosa serão a maioria.

Em Israel vivem 7,2 milhões de habitantes, dos quais 5,6 milhões são judeus, 1,2 milhão árabes de origem palestina, enquanto os outros pertencem a minorias.

Soffer, que no passado analisou a evolução da minoria árabe diante da maioria judaica, dá destaque agora a esta última e descreve as consequências que as mudanças demográficas terão.

"Em 2030, os ultraortodoxos serão mais de um milhão de habitantes", prevê o especialista, alertando que seu ritmo de crescimento natural de entre 6% e 7% afetará toda a sociedade, pois representará "uma maior carga para as instituições de Governo" das quais vivem.

A comunidade ortodoxa não costuma trabalhar porque considera que deve dedicar seu tempo ao estudo da Torá e devido a interesses políticos que datam da fundação do Estado de Israel em 1948.

Essa população recebe dos cofres públicos pensões, ajudas sociais, isenções fiscais e benefícios conforme o número de filhos que tem.

Segundo ele, essas contribuições criam "uma crescente desigualdade, insatisfação, ressentimento e sensação de asfixia entre os que pagam os impostos".

Ao impacto na produtividade, se soma também uma reorientação ideológica a nível nacional.

Grande parte deste grupo é de inclinação nacionalista, situação que se vê potencializada pelo maior crescimento entre os sionistas religiosos.

"Por sua forma de vida e suas crenças, ambos os grupos têm muitos filhos e continuarão tendo", prevê o especialista em declarações à Efe.

Ele cita como exemplo o caso de Jerusalém, onde a maioria das crianças em idade pré-escolar é ultraortodoxa.

"Neste ano, cerca de 40% das crianças nascidas em todo o Estado Israel serão ultraortodoxos e, se a eles acrescentamos os que são sionistas-religiosos (uma percentagem similar), o resultado é que os laicos estão desaparecendo".

Soffer, que se declara laico, evita qualificar a situação como "boa ou ruim" e diz simplesmente "descrever a realidade e seu impacto futuro para o país, sem nenhum tipo de avaliação moral".

No entanto, os estudos que este pesquisador realizou nos últimos anos se traduziram em políticas de Estado, entre eles a recomendação que fez ao ex-primeiro-ministro Ariel Sharon de "separar" Israel da Cisjordânia.

Com a agravante situação dos atentados suicidas, Sharon ordenou levantar o polêmico muro da Cisjordânia em 2002.

Suas recomendações foram assumidas também pelo ex-primeiro-ministro Ehud Olmert para negociar em 2007-2008 a criação de um Estado palestino e, mais recentemente, a líder do Kadima, Tzipi Livni, disse ter se "surpreendido" com suas previsões.

Consciente de que não há soluções mágicas nem rápidas, Soffer propõe a educação como uma aposta para o futuro e como garantia de que "a população laica não fugirá do país" dentro de duas décadas.

"A pergunta é se meus netos viverão aqui dentro de 20 anos. Se não viverem, o capítulo sionista de nossa história terá chegado a seu fim", alerta.

E propõe como única receita um processo político e educativo que conduza eventualmente à ocidentalização e democratização das juventudes ortodoxas e religiosas.

EFE   
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