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Oriente Médio

Iraque: violência frustra esperanças dez anos após morte de Saddam Hussein

9 abr 2013 - 16h04
(atualizado às 16h39)
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A praça Fardus, em Bagdá; no canto superior direito, o pedestal de onde foi derrubada a estátua de Saddam Hussein
A praça Fardus, em Bagdá; no canto superior direito, o pedestal de onde foi derrubada a estátua de Saddam Hussein
Foto: EFE

Uma década depois da queda de Saddam Hussein, a decepção continua no Iraque entre a maior da parte dos cidadãos, que convivem com altos índices de violência e de tensão desde a mudança de regime. A queda da estátua do ditador no coração de Bagdá, derrubada pelos soldados americanos no dia 9 de abril de 2003, o que se transformou no símbolo da queda do regime, não será festejada neste décimo aniversário.

"Quando vi a estátua de Saddam no chão, sonhei com um futuro melhor depois das promessas doces dos EUA. Mas nestes anos só vimos destruição, falta de serviços básicos e um futuro desconhecido", disse à EFE o professor de história Tayer Mahdi. Mahdi afirmou que este aniversário se completa em "circunstâncias críticas", no meio de uma crise política e protestos dos sunitas, e com o implacável número de vítimas deixados diariamente pelas explosões e ataques armados.

A invasão de uma coalizão internacional liderada pelos EUA no dia 20 de março de 2003, com o argumento de que Saddam tinha armas de destruição em massa, foi o início de uma ocupação no Iraque, que ocorreu em meio a violência devido ao desmantelamento do antigo aparelho de segurança.

Para o prestigiado jornalista Mazen Abdulqader, embora Saddam tenha causado um grande prejuízo aos iraquianos, o povo "não aprova o apoio de um estrangeiro para se salvarem de um governante injusto". "A maioria dos iraquianos sente remorso depois de dez anos de fracasso, assassinatos, conflitos étnicos e corrupção", afirmou Abdulqader em artigo de opinião publicado no jornal "Al Mashreq".

Este sentimento foi despertado, segundo sua opinião, pois a queda do regime se deu em troca de centenas de milhares de vidas e de uma classe política fanática que frauda os fundos públicos. Abdulqader faz alusão ao desgosto dos iraquianos pela continuação dos atos terroristas no Iraque e pela má gestão do governo atual, dirigido pelo xiita Nouri al-Maliki, acusado pelos sunitas de ser corrupto e extremista.

O estudante Abu Amar Hadi, de 21 anos, disse à Efe que os americanos entraram "como invasores e não como libertadores e como tal destruíram a estátua de Saddam e também tudo o que havia de bom no país". "O dia 9 de abril é um dia triste para nós e um ponto negro que nos lembra toda essa destruição provocada pelo ocupante, que despertou o rancor entre os iraquianos", afirmou Hadi, em alusão à tensão entre sunitas e xiitas.

Os sunitas protagonizam há meses grandes protestos para se queixarem da discriminação que dizem ser submetidos por parte do governo de al-Maliki, após terem sido privilegiados durante a época de Saddam.

Não são só os sunitas que se sentem injustiçados. Muitos cristãos também acham que suas condições eram melhores antes da invasão americana. Samy Yousef, um cristão de 35 anos, considera uma "grande mentira" a existência de democracia e liberdade no Iraque. "Houve só uma mudança de pessoas, mas pagamos um preço muito alto por esta falsa democracia", lamentou em declarações à Efe em Bagdá.

Outros consideram que a situação da liberdade no país melhorou, como o xiita Ali Lami, dono de uma loja de aparelhos elétricos em Bagdá. Segundo Lami, Saddam e sua família, de confissão sunita, dominavam todo o país e impediam os xiitas de exercer seus direitos, como por exemplo visitar seus santuários. À margem das rivalidades religiosas, todos concordam que o pior legado da invasão é a violência.

O taxista Ali al Halfi resume a situação de forma simples: "Antes podia se estacionar o carro na beira da estrada e dormir tranquilamente. Agora o mínimo que pode acontecer é que uma patrulha da polícia dispare contra o veículo pensando que é um carro-bomba".

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EFE   
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