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Oriente Médio

Inteligência dos EUA está dividida sobre armas químicas na Síria

25 abr 2013 - 18h16
(atualizado às 18h44)
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O governo dos Estados Unidos reconheceu, pela primeira vez, nesta quinta-feira, que o regime sírio provavelmente utilizou armas químicas, ressaltando, contudo, que as informações disponíveis são insuficientes para ter certeza que Damasco cruzou a "linha vermelha" traçada pelo presidente Barack Obama.

"A comunidade americana de espionagem concluiu, com diferentes graus de certeza, que o regime sírio utilizou armas químicas em pequena escala na Síria, em particular (gás) sarin", explicou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional (NSC), Caitlin Hayden, pouco depois que o secretário de Defesa Chuck Hagel divulgou essa informação durante visita a Abu Dhabi.

No jargão dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, "diferentes graus de certeza" significa que as diversas agências não estão todas de acordo, explicou um funcionário do Pentágono à AFP.

A Casa Branca confirmou que uma carta foi enviada a vários membros do Congresso, mas que ainda não há provas formais.

A avaliação se fundamenta "em parte em amostras" retiradas de pessoas, revelou Hayden, mas "a cadeia de transmissão (das amostras) não está clara, por isso não podemos confirmar como a exposição (ao sarin) aconteceu".

O gás sarin é um poderoso gás neurotóxico descoberto na véspera da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha. O simples contato com a pele atua no sistema nervoso e pode levar à morte por parada cardiorrespiratória. É inodoro e incolor.

"Considerando-se a importância do tema e o que sabemos por experiência, as avaliações de inteligência não são suficientes por si mesmas. Apenas os fatos dignos de fé e indícios que nos tragam um certo grau de confiança guiarão nosso processo de tomada de decisões, e reforçarão nossa influência à frente da comunidade internacional", acrescentou Hayden.

Já uma outra fonte de alto escalão do governo comentou que, embora todas as opções estejam sobre a mesa, a administração quer estar absolutamente segura de que essas armas foram utilizadas, antes de concluir que a "linha vermelha" traçada por Obama foi, de fato, ultrapassada.

Em diferentes ocasiões, Obama advertiu o regime de Bashar al-Assad sobre o uso de armas químicas, afirmando que seria "um grave e trágico erro" e que isso implicaria uma "mudança das regras do jogo". O presidente americano falou ainda da "linha vermelha" que Damasco não deveria cruzar.

"Exatamente porque o presidente leva essa questão muito a sério, temos a obrigação de investigar escrupulosamente todos os indícios sobre a utilização de armas químicas na Síria. É a razão pela qual insistimos em uma investigação das Nações Unidas que poderia avaliar as evidências e comprovar o que aconteceu", afirmou Hayden.

O senador republicano John McCain disse aos jornalistas que "é evidente que uma linha vermelha foi cruzada".

"Esses estoques de armas químicas, algumas das quais se encontram em zonas de combate, devem estar seguros e devemos dar à oposição a capacidade de derrotar Bashar al-Assad de uma vez por todas", acrescentou, ressaltando que isso não deve implicar o envio de soldados americanos para o terreno.

O governo mantém cautela, porém, em função da experiência no Iraque, país que foi invadido pelos Estados Unidos em 2003, sob a justificativa de que o regime de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. Até hoje, nenhum armamento foi encontrado.

Nesta quinta-feira, o governo da Grã-Bretanha anunciou que possui informações "convincentes" sobre o uso de armas químicas na Síria. Isso provocou uma forte reação dos republicanos no Congresso, e alguns democratas também manifestaram sua preocupação.

O democrata Richard Durbin avaliou que a situação exige uma resposta de Obama: "isso depende do comandante-em-chefe, mas é necessário fazer alguma coisa".

"Preocupa-me que, com essas afirmações públicas (do uso de armas químicas), o presidente Assad calcule que não tem mais nada a perder", e que o conflito se intensifique, declarou a presidente da Comissão de Inteligência do Senado, a democrata Dianne Feinstein, para quem "a linha vermelha foi cruzada".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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