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Oriente Médio

Homs é bombardeada pelo 20º dia seguido; oposição pede socorro

23 fev 2012 - 11h23
(atualizado às 13h19)
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Os militantes sírios lançaram nesta quinta-feira um "último grito de angústia" dos bairros rebeldes da cidade de Homs bombardeados pelas forças do regime, no momento em que a comunidade internacional procura estabelecer uma trégua para levar ao país ajuda humanitária emergencial.

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Em Homs existe ainda a incerteza sobre o destino dos corpos da americana Marie Colvin, jornalista do Sunday Times, e do fotógrafo francês Rémi Ochlik, mortos na quarta-feira em um bombardeio. Também há poucas informações sobre outros jornalistas feridos, como a francesa Edith Bouvier, devido à impossibilidade de comunicação.

A situação no país piora a cada dia diante do impasse da comunidade internacional sobre os meios para resolver a crise. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos anunciou que dispõe de uma lista confidencial de autoridades políticas e militares suspeitas de estarem ligadas a crimes contra a Humanidade.

Pelo 20º dia consecutivo, bairros de Homs foram violentamente bombardeados, principalmente Baba Amr, que sofreu com explosões "aterrorizantes", segundo os militantes. "Nós lançamos um último grito de angústia. As pessoas, se não forem mortas nos bombardeios, vão morrer de fome e sede", afirmou à AFP Omar Chaker, um militante.

Os ataques são tão intensos que torna difícil a comunicação com os militantes. Todas as pessoas contactadas pela AFP não sabiam fornecer informações sobre o local onde estão os corpos de Marie Colvin e Rémi Ochlik. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) tenta se comunicar com seus contatos em Homs, mas "como os bombardeios são particularmente intensos, ninguém consegue subir no telhado para utilizar telefones via satélite", explicou um porta-voz.

Os ferimentos sofridos por Bouvier necessitam de intervenção cirúrgica, afirmou um funcionário do jornal Figaro. O regime sírio negou nesta quinta-feira qualquer responsabilidade no caso, justificando que os dois jornalistas assumiram os riscos ao entrarem clandestinamente no país.

Mas, segundo militantes e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o edíficio transformado em "centro de imprensa" onde estavam os jornalistas foi deliberadamente atingindo, depois que os aviões de reconhecimento "captaram sinais de transmissão". A violência já causou a morte de pelo menos 7,6 mil pessoas, a maioria civis, em pouco mais de 11 meses de contestação, de acordo com o OSDH.

Esforço internacional
"As pessoas morrem aos milhares (...), o regime de Assad continua agindo impunemente", declarou o chanceler britânico William Hague nesta quinta-feira à BBC. Ele indicou que deseja discutir durante o encontro de Túnis, que reunirá na sexta-feira os representantes de mais de 50 países, com a exceção notável da Rússia, o "envio de uma mensagem clara" para Damasco e pedir que a oposição se una em vista de um eventual reconhecimento.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que recebeu na quarta-feira em Genebra membros do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, fez um apelo por tréguas diárias de duas horas para permitir a entrada de ajuda humanitária, uma ideia aprovada pela Rússia, que continua a se opor aos "corredores humanitários" propostos por Paris.

Damasco acusou na quarta-feira as sanções econômicas ocidentais e os rebeldes de serem responsáveis pela deterioração da situação sanitária do país. Diante do aumento da violência, o CNS pediu a criação de "áreas de proteção" e sua porta-voz, Basma Kodmani, estimou que uma intervenção militar "pode ser a única opção".

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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