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Oriente Médio

Hezbollah tenta provar que Israel assassinou ex-premiê libanês

9 ago 2010 - 15h39
(atualizado às 18h37)
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Gabriel Toueg
Direto de Jerusalém, em Israel

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, começou na noite desta segunda-feira o discurso que prometeu na semana passada em que apresentaria provas sobre o envolvimento de Israel no assassinato do ex-premiê libanês Rafik Hariri, em 2005.

Hassan Nasrallah discursa em vídeo transmitido pela rede Al-Manar
Hassan Nasrallah discursa em vídeo transmitido pela rede Al-Manar
Foto: AP

Durante o discurso, televisionado pela rede Al-Manar, um vídeo foi transmitido mostrando uma pessoa que o líder do Hezbollah afirma ser um espião de Israel, Ahmad Nasrallah. Segundo ele, não há relações familiares entre os dois, apesar do sobrenome comum.

Segundo o vídeo, Ahmad Nasrallah teria sido preso em 1996 e liberado em 2000 - e teria então fugido para Israel através da fronteira entre os dois países. Ele teria ainda confessado que as informações de que o Hezbollah estaria planejando assassinar Hariri eram falsas.

Nasrallah disse ainda que "Israel teria a capacidade de realizar uma operação contra Hariri" e apontou o Líbano como "o melhor lugar para (essas) operações, devido à sua localização geográfica". Para ele, Jerusalém tem "colaboradores em todos os campos" no Líbano.

Depois de mostrar diversos vídeos de "espiões israelenses", segundo Nasrallah, ele disse que revelaria "um segredo", que seria um avanço tecnológico estratégico do grupo. "Antes de 1997, o Hezbollah foi capaz de capturar um avião espião israelense fotografando o sul do Líbano e enviando imagens para um centro de operações em Israel". Com a apreensão, segundo ele, "o Hezbollah conseguiu ter acesso às manobras de espionagem de Israel".

Nasrallah começou por volta das 20h30 locais (14h30 no Brasil) desta segunda-feira o discurso que prometeu na semana passada para provar que Jerusalém esteve por trás do assassinato de Hariri. Ele falou por duas horas e meia. Logo no começo do discurso, realizado em Beirute, Nasrallah disse que em 1993 um membro do Hizballah - que é também partido político no Líbano - foi detido pela Inteligência síria. Segundo ele, o nome do sujeito preso seria Ali Deeb.

Ainda de acordo com Nasrallah, a prisão ocorreu porque a Inteligência em Damasco recebeu uma informação de Hariri segundo a qual Imad Mughniyeh estaria planejando assassiná-lo. Mughniyeh era o comandante do braço armado do grupo e foi morto em 2008. Segundo Nasrallah, Hariri teria recebido a informação de um "colaborador" (ou espião) de Israel no país.

No discurso, Nasrallah afirmou que "desde 1993, Israel tem tentado, por meio de seus agentes, convencer Hariri de que o Hizballah estaria tentando assassiná-lo". Ele mencionou ainda que no mesmo ano, quando o grupo organizou protestos contra os acordos de Oslo, a tensão aumentou entre o premiê e o Hezbollah. Para o líder do grupo, Israel teria matado Hariri para forçar a Síria a retirar suas tropas de território libanês, o que de fato ocorreu, "e para perpetuar uma atmosfera anti-síria" (no Líbano).

Reação

No Brasil, o embaixador de Israel Giora Becher classificou as acusações de Nasrallah de "absurdas". Para Becher, o líder do Hezbollah tenta "fugir de sua responsabilidade (no assassinato de Hariri)" ao fazer as declarações. Com relação à acusação de que Jerusalém teria tentado desestabilizar as relações entre Síria e Líbano, o embaixador afirmou que "é típico de Nasrallah buscar pretextos embaixo da terra". "Travamos uma guerra contra o terror, não contra líderes políticos no mundo árabe", completou, em referência a Rafik Hariri. O embaixador disse ainda que Nasrallah "se esconde em seu abrigo".

Para o diplomata, não há sinais de que uma guerra pode ocorrer na região. Nas últimas semanas, contudo, diversos eventos aumentaram a tensão em Israel. Apenas na última semana, mísseis foram disparados a partir da península do Sinai aparentemente contra Israel, mas um deles atingiu um taxista jordaniano em Aqaba, que morreu no local. Dias depois, um enfrentamento entre os exércitos de Israel e do Líbano matou três soldados e um jornalista - todos libaneses -, e um militar israelense.

Becher afirmou que os eventos são isolados e que, embora aumentem a tensão, não estão relacionados e não são um sinal de que um confronto maior pode ocorrer na região.

Mapa político

O discurso de Nasrallah foi comentado intensamente na imprensa internacional desde que foi anunciado na semana passada. De acordo com analistas, as falas do líder do Hezbollah podem determinar o novo mapa político libanês. Jerusalém acusa o grupo pelo assassinato de Hariri, mas ele assegura ter provas do envolvimento israelense no incidente, que deixou outros 20 mortos e dezenas de feridos.

Uma investigação realizada pelas Nações Unidas no caso não aponta culpados mas revela que o assassinato ocorreu quando um suicida, identificado apenas como um "homem jovem" teria detonado explosivos, matando Hariri, seus guarda-costas e outras pessoas. O método não é comum no serviço secreto israelense.

Nasrallah assumiu a liderança do Hezbollah em 1992, depois do assassinato de Abbas al-Musawi, atribuído a Israel. Jerusalém assumiu a autoria de um ataque realizado com um helicóptero no sul do Líbano, afirmando ainda que se tratava de um plano elaborado com objetivo de assassinar al-Musawi. O Hezbollah não reconhece Israel e há quatro anos capturou dois reservistas israelenses na fronteira comum, provocando a Segunda Guerra do Líbano.

Fonte: Especial para Terra
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