PUBLICIDADE

Oriente Médio

Governo turco tenta apagar o incêndio, manifestantes mantêm mobilizações

4 jun 2013 - 18h40
(atualizado às 18h56)
Compartilhar

Os manifestantes que desafiam há cinco dias o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, voltaram às ruas aos milhares nesta terça-feira à noite em Istambul e em Ancara, apesar do pedido de desculpas do governo às vítimas da brutalidade policial.

No dia seguinte a uma nova noite de violência marcada pela morte de um segundo manifestante, o vice-primeiro-ministro Bülent Arinç tentou acalmar a situação, considerando "legítimas" as reivindicações dos ambientalistas que desencadearam as mobilizações e pediu que os descontentes ficassem em casa.

Afastando-se da postura firme do chefe de governo, em viagem ao Magreb até quinta, Arinç adotou um discurso mais conciliador.

Ao deixar uma reunião com o presidente Abdullah Gül, ele pediu desculpas aos civis feridos, à exceção daqueles "que causaram estragos nas ruas e tentaram comprometer a liberdade das pessoas".

Arinç assegurou que seu governo respeita "os diferentes modos de vida" dos turcos.

Os manifestantes acusam Erdogan de uma guinada autoritária e de querer "islamizar" a Turquia laica.

"Não temos o direito ou o luxo de ignorar o povo, as democracias não podem existir sem oposição", ressaltou Arinç, afirmando que seu governo havia "tirado uma lição" destes eventos.

O pedido de desculpas do vice-primeiro-ministro foi saudado pelos Estados Unidos, que manifestaram sua preocupação com o uso "excessivo" da força. "Saudamos os esforços do presidente Gül e de outros para acalmar as coisas", reagiu a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.

Mas o discurso de Arinç não convenceu os manifestantes, que tomaram novamente no início da noite a Praça Taksim de Istambul, onde bradavam palavras de ordem exigindo a renúncia do primeiro-ministro. Milhares de pessoas também se reuniram à noite em Ancara.

"Se eles voltarem atrás, se mudarem alguma coisa na Turquia, o conservadorismo e tudo o que fizeram, então talvez a multidão possa voltar para casa", disse à AFP Didem Kul. "Mas não podemos voltar para casa sem termos a prova", acrescentou esta estudante de 24 anos que "ocupa" a Taksim.

"Mesmo se voltarmos para as nossas casas, nossos sentimentos (em relação ao poder) não terão mudado".

"Este pedido de desculpas serve para limitar a divisão e porque eles estão encurralados", considerou Baki Cinar, porta-voz da Confederação dos Sindicatos do Setor Público (KESK), que iniciou uma greve nesta terça em solidariedade com os manifestantes.

O KESK entrou nesta terça no movimento de contestação convocando uma paralisação de dois dias e será acompanhado na quarta pela Confederação Sindical dos Trabalhadores Revolucionários (DISK), que reivindica 420.000 membros, em uma jornada de manifestações.

Após a morte no domingo de um jovem atropelado por um carro durante uma manifestação em Istambul, um segundo manifestante, de 22 anos, morreu na noite de segunda durante um ato em Hatay (sudeste), atingido por vários "disparos efetuados por uma pessoa não identificada", anunciou o governador da cidade, Celalettin Lekesiz.

O primeiro relatório da necropsia divulgado pelo procurador colocou em questão as circunstâncias de sua morte, afirmando que não foram identificadas marcas de tiros.

Violentos confrontos foram registrados na noite de segunda para terça-feira entre policiais e manifestantes em Istambul, Ancara e Izmir (oeste), deixando vários feridos.

Além das duas pessoas mortas no domingo e na segunda, a violência dos quatro últimos dias registrou mais de 1.500 feridos em Istambul e pelo menos 700 em Ancara, segundo organizações de defesa dos direitos humanos e sindicatos de médicos.

Esses números não foram confirmados pelas autoridades. O porta-voz do governo indicou nesta terça apenas 64 manifestantes e 244 policiais feridos.

A brutalidade da repressão, amplamente divulgada nas redes sociais turcas, suscitou diversas críticas nos países ocidentais.

Uma porta-voz da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navy Pillay, pediu que a Turquia investigue de forma "rápida, completa, independente e imparcial os policiais que teriam violado a lei e as normas internacionais dos direitos humanos".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade