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Oriente Médio

Futuro da Síria é "incerto e pessimista", dizem analistas

27 ago 2012 - 06h00
(atualizado em 10/5/2013 às 15h51)
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Com a guerra civil na Síria cada vez mais violenta e o aumento na intensidade dos confrontos entre tropas leais ao presidente Bashar al-Assad e rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS), o futuro da Síria, segundo analistas ouvidos pelo Terra, não é promissor e pode levar o país a um segundo conflito entre diferentes facções políticas.

Rebelde sírio circula por ruínas no bairro Saif al-Dawla, em Aleppo; previsão de um futuro negro para a Síria
Rebelde sírio circula por ruínas no bairro Saif al-Dawla, em Aleppo; previsão de um futuro negro para a Síria
Foto: AFP

Para eles, um possível colapso do governo, e a saída de Assad, deixaria a Síria com "um vácuo de poder, sem líderes políticos capazes de unificar os diferentes grupos de oposição, atualmente muito divididos". Além disso, o risco do país pós-Assad de entrar em uma guerra armada entre diferentes facções é real e já preocupa, segundo eles, os governos árabes e ocidentais.

"Hoje, a Síria é uma incógnita. O futuro do país é incerto e pessimista", salientou o analista Oussama Safa, diretor do Centro Libanês para Estudos Políticos em Beirute.

O conflito na Síria já dura 17 meses, e passou de protestos pacíficos para confrontos armados entre tropas leais ao governo e militantes rebeldes, formado por desertores do exército nacional e civis. Grandes cidades como Homs, Hama, Deera, Idlib e Deir al-Zor sofreram com cercos das forças de segurança e exército do governo, com bombardeios que deixaram muitas vítimas.

Recentemente, as duas maiores cidades, a capital Damasco e Aleppo - o centro comercial da Síria - também passaram a ser palcos de intensos combates entre os dois lados. A capital chegou a ter alguns bairros ocupados por rebeldes, depois expulsos pelas tropas governamentais. Já Aleppo sofre bombardeios pesados do exército nacional que tenta expulsar os rebeldes, em poder de cerca de 50% da cidade.

Segundo analistas e comentaristas políticos, os governos estrangeiros já mostram preocupação com a Síria pós-Assad, vendo poucas chances de um processo de transição pacífico no país, tentando, ao menos, minimizar os efeitos colaterais de um colapso do regime sírio.

"Com armas químicas do governo podendo cair em mãos erradas, oposição dividida, rebeldes compostos por seculares, mas também por islamistas radicais, os governos ocidentais se mostram cautelosos em seu apoio aos opositores", disse outro analista, o egípcio Hani Raslan, do Centro Al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos do Cairo.

Complexidade

Segundo as Nações Unidas, o conflito na Síria já deixou mais de 15 mil mortos (ativistas sírios falam em 25 mil). O levante popular iniciou em março de 2011, protestos exigiram democracia e a renúncia do presidente Assad, que há 10 anos comanda o país e herdou o posto de seu pai, Hafez al-Assad, que por 30 anos governou a Síria.

O governo sírio respondeu com repressão e justificava suas ações dizendo que combatia "gangues armadas e terroristas" apoiados por governos estrangeiros. O uso da força pelo governo levou à criação de uma frente militar rebelde para derrubar o regime sírio, fazendo a crise síria tornar-se uma ampla guerra civil.

De acordo com o libanês Oussam Safa, o atual momento da Síria indica que o caos deverá emergir após uma eventual saída de Assad do poder pelo fato de os rebeldes já são compostos por diferentes grupos que não mostram sinais de afinidade ideológica.

"Entre os rebeldes há militares, seculares, liberais, islamistas conservadores, jihadistas e até alguns membros da Al-Qaeda. Pode haver surpresas e uma transição pacífica. Mas em tese, não há como eles se unirem num cenário pós-Assad", disse.

Para Safa, há o sério risco de a Síria mergulhar em mais uma guerra civil no futuro, com diferentes facções disputando o poder. "Seria uma batalha entre seculares e islamistas, militares e jihadistas, liberais e conservadores. Sem contar o componente sectário, sempre perigoso, onde há uma maioria de sunitas e minorias de curdos, alauítas e cristãos".

Ele exemplifica os crimes que vêm sendo cometidos pelos dois lados no atual conflito sírio. "Embora o governo tenha cometido muito mais crimes, até pelo seu poder bélico ser maior, os rebeldes também fizeram atrocidades e execuções sumárias que já levantaram a preocupação de entidades de direitos humanos internacionais como a Anistia Internacional", falou Safa ao Terra.

Isso mostra, segundo ele, que os rebeldes não estão sob um controle central e que após uma saída de Assad do poder, a tendência é que haja uma desintegração das forças opositoras em pequenos grupos, cada qual lutando pelos seus interesses.

"O mesmo ocorreu na Líbia, onde até hoje as milícias são um desafio ao governo líbio. Mas lá, a população é mais ou menos homogênea, não há cristãos, somente sunitas, com brigas tribais. A Síria é mais complexa pela diversidade de etnias e religiões e seus interesses".

Oposição dividida

O colunista político Abdel-Moneim Said, da prestigiada revista semanal egípcia Al Ahram, escreveu recentemente que a Síria, por estar situada em uma região instável, será mais complicada para os governos ocidentais do que foi a Líbia.

"A Líbia está isolada no norte da África em uma região relativamente calma, enquanto que a Síria está situada no meio de uma região de instabilidade étnica, religiosa, política e militar. Os problemas são muito maiores, como os Estados Unidos, Rússia, Irã, Turquia e Arábia Saudita lutando por influência", escreveu ele.

Em seu artigo, ele também fala que "diferentemente de Tunísia e Egito, onde as revoluções terminaram de forma rápida, Líbia e Síria fazem parte de uma outra categoria, mais violenta, onde geralmente o exército, sociedade e instituições se fragmentam".

Fonte: Especial para Terra
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