Funeral de "mártires" xiitas em Bahrein termina em passeata política
18 fev2011 - 15h07
(atualizado às 15h30)
Compartilhar
Apesar de não terem uma Praça Tahrir (Praça da Libertação) e de estarem agora nas mãos do exército, milhares de bareinitas protestaram nesta sexta-feira na cidade de Sitra, dando adeus aos três jovens mortos ontem durante a repressão policial a um movimento pacífico contra o regime em Manama.
Gritando "O povo quer a queda do regime" ou "Morte aos Al-Khalifa", a família real, a multidão marchou por horas no centro desta cidade xiita na periferia de Manama, onde foram enterrados três dos quatro manifestantes mortos na quinta-feira por policiais na Praça da Pérola, apelidada de "Praça da Libertação" pelos manifestantes.
Avançando lentamente, a multidão acompanhou cada um dos três "mártires" em uma procissão que acabou se transformando em um verdadeiro movimento político.
"Na Praça da Pérola, vocês impuseram suas vontades às autoridades, que tentaram lhes reprimir com violência", lançou o militante islâmico Abdel Wahab Hussein, antes de acrescentar que a repressão é "a prova do colapso do regime".
Falando para a multidão através de um megafone, ele enumerou as reformas políticas reivindicadas pela oposição, antes de destacar que "o ministro do Interior e os dirigentes que deram a ordem de atirar contra os manifestantes na quinta-feira deveriam ser julgados".
"Enquanto vivermos, não esqueceremos jamais o sangue dos mártires", respondeu a multidão, de forma sincronizada e organizada. Agitando a bandeira vermelha e branca de Bahrein, oradores tentavam não dar dimensões confessionais à procissão, entoando um slogan que ficou popular nos últimos dias no país: "Nem xiitas, nem sunitas. Unidade Nacional".
"Não se lamentem. Não batam no peito. Hoje é um dia de alegria e dignidade", insistiu um deles, referindo-se a um dos gestos de luto dos xiitas. Tirando proveito da presença de inúmeros jornalistas estrangeiros, principalmente dos ocidentais, "voluntários" se mobilizaram para servir de interpretes ou para explicar "a injustiça" que sofrem os xiitas em Bahrein - grupo étnico majoritário em um país governado por uma dinastia sunita.
"Peço aos irmãos sunitas para que sejam solidários, pois, um dia, eles podem ser as próximas vítimas" do regime, disse Ahmed Moumen, após ter convidado representantes da imprensa a ver, antes do enterro, o corpo de seu filho, Ali, 22 anos, com vários ferimentos.
"Não protesto porque tenho fome, mas pela dignidade e para dividir o poder com os Al-Khalifa", explicou Ali Abdel Jabbar Hassan, que participou dos funerais.
"Senhor Ecclestone, será que vale sacrificar nossas vidas pelo prêmio de Fórmula 1?", proclamava uma faixa agitada por jovens, à frente do cortejo.
Bernie Ecclestone é o grande chefe da Fórmula 1, cuja temporada 2011 deveria começar no dia 13 de março, no circuito Sakhir de Bahrein. "De manhã, o rei lamenta as mortes; a noite, nos ataca", esbravejou Jaafar Abdel Hussein Mohamed, um aposentado da companhia local de Alumínio, Alba.
Ele se referia à decisão do rei, o xeque Hamad ben Issa Al Khalifa, anunciada na última terça-feira, de formar uma comissão de investigação para apurar as mortes de dois manifestantes, mas que, dois dias depois, foi seguida pelo ataque à Praça da Pérola.
16 de fevereiro - Familiar de Fadel al-Matrook discursa durante seu velório, em Manama
Foto: Reuters
16 de fevereiro - O ministro do Interior de Bahrein pediu desculpas pelas duas mortes no protesto
Foto: Reuters
16 de fevereiro - Familiares e manifestantes levam o caixão de Fadel al-Matrook, morto na terça-feirs, em Manama
Foto: Reuters
16 de fevereiro - Manifestantes acompanham o funeral de Fadel al-Matrook, morto na terça-feira durante protestos
Foto: Reuters
15 de fevereiro - Milhares de manifestantes ocupam a Pearl Roundabout, em Manama, para protestar contra duas mortes
Foto: Reuters
14 de fevereiro - Manifestantes protestam contra o governo, em Manama, inspirados pelo levante no Egito
Foto: Reuters
16 de fevereiro - Manifestantes oram no centro da capital após mais um dia de protestos
Foto: AP
16 de fevereiro - Manifestantes oram, descansam e se alimentam no centro de Manama após mais um dia de protestos
Foto: AP
17 de fevereiro - Militares invadem a praça Pearl, lançando bombas de gás e expulsando manifestantes que estavam acampados, em Manama
Foto: AP
17 de fevereiro - Mulheres gritam em protesto após os conflitos entre manifestantes e policiais, em Manama
Foto: AP
17 de fevereiro - Manifestantes carregam para hospital um homem ferido nos conflitos com militares, em Manama
Foto: AP
17 de fevereiro - Tanques do exército barenita tomam as ruas do centro de Manama
Foto: Reuters
17 de fevereiro - Após noite violenta e ação das forças de segurança, acampamento de manifestantes fica deserto
Foto: Reuters
17 de fevereiro - Tanques do exército patrulham ruas centrais da capital barenita após noite de confrontos
Foto: Reuters
18 de fevereiro - Manifestantes pró-governo agitam as bandeiras do Bahrein e seguram um cartaz onde pode-se ler "a família Khalifa é o símbolo da legitimidade" em árabe durante manifestação em Manama
Foto: AFP
18 de fevereiro - Um parente de um manifestante morto pela polícia durante protesto é consolado por um amigo durante o cortejo fúnebre
Foto: Reuters
18 de fevereiro - O corpo de um manifestante, que foi morto pela polícia, é levado para o enterro
Foto: AFP
18 de fevereiro - Corpo de um manifestante morto pela polícia é levado para ser enterrado enquanto seus familiares seguem o cortejo em Sitra
Foto: Reuters
19 de fevereiro - Tanques do exército saem da praça da Pérola, em Manama, depois que a oposição exigiu a retirada militar
Foto: AFP
19 de fevereiro - Militares saemm da praça da Pérola depois de exigência da oposição como condição para o diálogo
Foto: AFP
19 de fevereiro - Policiais perseguem panifestantes depois que os militares deixaram a praça da Pérola, em Manama
Foto: AP
19 de fevereiro - Policiais lançam bombas de gás lacrimogêneo na praça da Pérola, em Manama
Foto: AP
19 de fevereiro - Manifestantes voltam à praça da Pérola depois da retirada dos militares, em Manama
Foto: AP
19 de fevereiro - Manifestante grita palavras de ordem em novo protesto na praça da Pérola, em Manama
Foto: AP
19 de fevereiro - Milhares de manifestantes celebram na Praça da Pérola, que foi o epicentro de uma mobilização contra o governo na capital do Bahrein, Manama. Com a saída dos militares, que impediam os protestos, a população voltou ao local
Foto: AP
20 de fevereiro - Mensagem escrita com pedras contra o governo direcionada ao rei Hamad bin Isa al-Khalifa, próxima à Praça da Pérola, em Manama
Foto: Reuters
21 de fevereiro - Manifestantes levam cartaz com fotos dos líderes do Bahrein, na praça da Pérola
Foto: AFP
21 de fevereiro - Enroladas em bandeiras do Bahrein, mulheres vão a protesto antigoverno, em Manama
Foto: AFP
21 de fevereiro - Mulheres conversam durante protesto contra o governo do Bahrein, na praça da Pérola
Foto: AFP
21 de fevereiro - Mulher segura cartaz que diz "Nós somos pessoas de paz", na praça da Pérola, em Manama
Foto: AFP
22 de fevereiro - Dezenas de milhares de xiitas protestam no centro de Manama pedindo a queda do governo
Foto: AFP
25 de fevereiro - Dezenas de milhares de manifestantes antigoverno exibem bandeiras nacionais e marcham até a Praça Pérola em Manama
Foto: AP
26 de fevereiro - Manifestantes contrários ao governo se aglomeram na Praça Pérola em Manama
Foto: Reuters
03 de março - Manifestante antigoverno beija um policial que pediu para ele liberar o caminho para uma motorista do sexo feminino. Ele estava bloqueando a estrada durante uma manifestação antigovernamental
Foto: Reuters
03 de março - Moradores seguram uma bandeira do Bahrein em frente à polícia de choque após uma briga entre sunitas e xiitas em Hamad Town, ao sul de Manama
Foto: Reuters
05 de março - Manifestantes antigoverno formam uma corrente humana que se estendeu por cerca de 7 km ao redor de Manama
Foto: AP
07 de março - Cerca de 150 manifestantes antigoverno balançam bandeiras e cartazes em protesto em frente à embaixada dos EUA em Manama