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Oriente Médio

Famílias palestinas vivem na incerteza sobre libertação de presos

11 ago 2013 - 10h13
(atualizado às 11h11)
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Aise Daajne já não tem mais esperança: lhe comunicaram que seu marido está na lista dos 104 presos que serão libertados em Israel nos próximos meses, mas também estava em uma lista de 2011 e em um acordo de 1999 - e ele continua atrás das grades, motivo pelo qual ela prefere reprimir a esperança. "Ele está preso desde 1993. Até o ver em casa, não acreditarei", disse à agência EFE a palestina de 64 - anos com firmeza, embora com um tímido traço de esperança no olhar.

"O problema é que sua saída depende da situação política, portanto preferimos não ter certeza de nada", completou seu irmão Fadi, principal apoio nestas duas décadas nas quais criou dez filhos sozinha.

Como gesto de aproximação perante a retomada do processo de paz parado desde 2010, Israel anunciou que libertará 104 palestinos presos desde antes dos Acordos de Oslo (1993). As libertações serão feitas em função do andamento do diálogo e por fases - os primeiros 26 sairão no dia 13 de agosto, embora se desconheçam seus nomes.

Durante 20 anos, Aise visitou seu marido na prisão de 15 em 15 dias, exceto em períodos de extrema violência, nos quais Israel impede os contatos. "Não conhece os cônjuges de nenhum de seus filhos e sua mãe morreu neste ano", lamentou.

Apenas os familiares de primeiro grau podem entrar nas prisões, por isso Mahmoud não conhece seus 47 netos a não ser por foto, exceto um deles. "Tem dois netos na prisão: Mahmoud, de 21 anos, e Ayman, de 16, detidos por atirar pedras. Um dia ouviu seu nome no megafone, foi assim que ficou sabendo que seu neto estava na mesma prisão. A princípio não os deixavam ficar juntos, mas o menino fez greve de fome até que o colocassem junto a seu avô", contou Fadi.

Segundo Aise, seu marido "não fez nada", mas o acusaram de participar de uma operação com a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e foi capturado quando tentava atravessar a fronteira para a Jordânia.

Amjad Abu Asab, presidente da Associação de Familiares de Presos de Jerusalém, o considera um "lutador pela liberdade" e explica que "o sentenciaram a uma pena de 109 anos por receber instruções da FPLP e matar um soldado (israelense) em Rehovot (perto de Tel Aviv)". "Como os Daajne, todas as famílias estão muito nervosas. Não têm informações. Temem que as negociações não corram bem e acham que é sua última oportunidade e que, se não saírem agora, morrerão na prisão", relatou Asab.

São os presos palestinos mais antigos em Israel, todos aproximadamente acima dos 50 anos e cumpriram duas décadas de prisão, apesar de o Estado judeu ter se comprometido a libertá-los no Memorando de Sharm el- Sheikh de 1999.

Na casa dos Daajn, o ausente ocupa um lugar privilegiado, presente quase em cada parede, em cada adorno. Uma foto sua quando jovem está na sala, outra - na qual ele já está mais velho e na prisão - está ladeada por duas fotografias de seus netos presos e suas maquetes e quadros enfeitam a vida diária da família.

"Os primeiros cinco anos foram muito difíceis. Passou 60 dias preso em interrogatórios. Agora está melhor, mas tem 66 anos, está doente do coração e tem problemas nos rins e nos joelhos. Se não sair, morrerá lá dentro", disse Aise.

Quando foi preso, o exército fechou a casa e ela viveu com seus filhos em uma barraca de campanha com a ajuda que seus vizinhos lhe traziam, mas depois construiu um apartamento melhor com uma impressionante vista para o campo de refugiados de Shuafat e o muro de concreto de oito metros que o rodeia.

"Aqui estamos como em uma pequena prisão, fechados perante o muro", afirmou Fadi, explicando que a família veio de Beit Yibrin, de onde fugiu dos bombardeios de 1948 para se instalar em Jerusalém antes de voltar a se deslocar na guerra de 1967 e acabar neste campo nos arredores da cidade. "Os israelenses não querem árabes em Jerusalém. Mas temos direito à liberdade e a lutar para recuperar nossa terra", afirmou.

Apesar de sua recusa a se entusiasmar, Aise reconheceu que pintou a casa e planejou o jantar que irá preparar para Mahmoud: as tradicionais "warak dawali", folhas de parreira recheadas de arroz, e "mansaf", cordeiro com molho de iogurte seco, que nunca comeu na prisão.

EFE   
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