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Oriente Médio

EUA e Rússia se reúnem para discutir 'interesses comuns'

9 ago 2013 - 15h04
(atualizado às 15h14)
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Os Estados Unidos e a Rússia se empenharam nesta sexta-feira em ampliar a cooperação em assuntos que vão desde a Síria até a defesa antimísseis, focando em interesses comuns, apesar do momento difícil na relação entre os países.

Os ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos ex-inimigos da Guerra Fria participaram de um encontro em Washington, apesar de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter cancelado uma reunião de cúpula em Moscou.

A Rússia enfureceu os Estados Unidos ao conceder asilo a Edward Snowden, um ex-consultor do governo americano que passou a ser procurado por Washington depois de ter revelado detalhes de um vasto programa de vigilância promovido nas comunicações dos cidadãos americanos.

O secretário de Estado americano, John Kerry, reconheceu que as duas nações estão enfrentando "momentos desafiadores", mas disse que espera um franco intercâmbio de pontos de vista.

"Não é preciso dizer que a relação entre os Estados Unidos e a Rússia é muito importante, marcada por interesses comuns e, em alguns casos, conflitantes", disse Kerry ao abrir as negociações.

"Portanto, somos sinceros, muito sinceros sobre as áreas em que estamos de acordo, mas também sobre as áreas em que discordamos", disse Kerry, se referindo ao ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.

Apesar do caso Snowden, Kerry disse que espera discutir com a Rússia a questão da Síria, especialmente para organizar uma conferência de paz em Genebra.

A Rússia fornece um apoio fundamental para presidente sírio, Bashar al-Assad, em meio a uma guerra civil que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), já causou mais de 100 mil mortes desde 2011.

Os Estados Unidos, por sua vez, dizem fornecer ajuda "não-letal" aos rebeldes, que são apoiados pelos aliados dos americanos no Oriente Médio, Qatar e Arábia Saudita.

"Sergei e eu nem sempre concordamos plenamente sobre a responsabilidade pelo derramamento de sangue ou sobre os caminhos a seguir, mas nós e nossos países concordam que, para evitar o colapso institucional e a instalação do caos, a resposta final precisa vir de uma solução política negociada", disse Kerry.

Lavrov concordou em relação à necessidade de um processo de paz, mas disse que a prioridade deve ser "lutar contra os terroristas e forçá-los a sair da Síria", referindo-se à profunda desconfiança que a Rússia tem em relação aos radicais islâmicos entre os rebeldes que lutam contra Assad.

"Estou convencido de que, na realidade atual, principalmente considerando as avaliações que tenho recebido ultimamente, esta é realmente a nossa prioridade", afirmou o chanceler russo.

Kerry também disse que pretende conversar com a Rússia sobre o Irã, onde os eleitores levaram ao poder o moderado Hassan Rohani, e sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão.

Tanto Kerry como Lavrov afirmam que discutirão a defesa de mísseis durante as negociações, que incluem também o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, e o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu.

Em junho, Obama disse em um discurso em Berlim que gostaria que os ex-inimigos da Guerra Fria reduzissem seu arsenal nuclear em até um terço. A Rússia deu uma resposta fria, dizendo que os dois países precisavam olhar para o seu equilíbrio estratégico, e não apenas para armas nucleares.

As relações se depararam com um obstáculo quando Snowden chegou ao aeroporto de Moscou, depois de inicialmente ter voado para Hong Kong.

Obama, em uma aparição recente na televisão, expressou seu desapontamento em relação ao asilo concedido a Snowden e também criticou a Rússia por causa de uma nova lei que proíbe a "propaganda gay".

Kerry não mencionou a questão em seu discurso de abertura, embora seja defensor de longa data dos direitos dos homossexuais.

Celeste Wallander, professora da Universidade Americana e ex-vice-secretária assistente de Defesa, disse que a reunião desta sexta-feira permite que os dois países se concentrem nos interesses comuns.

"Eles vão falar sobre todas essas questões que ainda não foram resolvidas de forma ampla, enfatizando a estabilidade estratégica, que inclui a defesa antimísseis. Ainda pode haver uma conferência internacional sobre a Síria? Quais são os próximos passos sobre o Irã?", explicou a acadêmica.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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