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Oriente Médio

Estado Islâmico perde cidade de Tall Abyad, sua maior derrota na Síria

16 jun 2015 - 18h12
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O grupo Estado Islâmico (EI) sofreu sua pior derrota na Síria até a data com a captura por parte das forças curdas de Tall Abyad, uma cidade fronteiriça com a Turquia e ponto de trânsito vital para os jihadistas.

Em cinco dias de ofensiva, apoiada pelos bombardeios aéreos da coalizão antijihadista dirigida pelos Estados Unidos e por grupos rebeldes sírios, as Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG) tomaram o controle total da cidade na madrugada desta terça-feira, após combates que obrigaram milhares de civis a fugir.

Tall Abyad era um dos principais pontos de trânsito informais com a Turquia, através do qual o grupo passava armas e combatentes. Na fronteira resta apenas a passagem de Jarablos, na província setentrional de Aleppo (norte), assim como passagens secundárias.

"A cidade está inteiramente sob controle de combatentes curdos", declarou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ressaltando que "não foi ouvido nenhum disparo desde o amanhecer".

Um responsável curdo, Ahmed Seyxo, disse à AFP que "o EI se retirou sem muita resistência (...) foi uma vitória fácil".

"A aliança anti-EI (curdos e rebeldes) está vasculhando Tall Abyad para permitir que os civis retornem", explicou à AFP Cherfan Darwich, porta-voz de um grupo rebelde aliado aos curdos, Burkan al-Furat. "Há minas e carros-bomba por todos os lados, e os corpos dos combatentes do EI jazem nas ruas".

Um comandante do EI que não quis se identificar indicou por telefone à AFP que os jihadistas haviam se "retirado a 20 quilômetros de Tall Abyad".

Nesta terça-feira, pelo menos 16 pessoas, entre elas 13 crianças e uma mulher, morreram em bombardeios do regime sírio na província meridional de Daraa, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Os ataques aéreos, lançados pelas forças do regime de Bashar al Assad afetaram uma escola corânica na localidade de Gharia al Sharqiya, informou a ONG e advertiu que o número de vítimas pode aumentar.

A ONG com sede em Londres acusou o governo da Síria de lançar um verdadeiro "massacre".

"É, certamente, a maior perda do EI até agora", afirmou à AFP Aymenn Jawad al-Tamini, do centro de investigação Middle East Forum. Tall Abyad era "uma importante rota de trânsito para os combatentes, as armas e as mercadorias da Turquia ao território controlado pelo EI", afirma o analista.

A cidade era vital para o abastecimento de seu reduto, Raqa, 87 km ao sul. Raqa caiu junto a outros territórios da Síria nas mãos dos jihadistas, que também controlam grandes extensões de terra no vizinho Iraque.

Abdel Rahman concorda que se trata "da maior derrota do grupo desde sua proclamação do califado, em junho de 2014".

"A partir de agora, os jihadistas na província de Raqa e Deir Ezzor (leste) devem percorrer centenas de quilômetros para chegar à fronteira turca", disse.

Segundo o analista Charlie Witer, esta vitória curda é "mais importante no longo prazo que a de Kobane", recuperada das mãos do EI em janeiro.

Além disso, a derrota de Tall Abyad "acaba com o mito da vitória divina constante" do EI na Síria desde 2013.

As forças curdas "controlam agora 400 quilômetros da fronteira com a Turquia, desde Kobane, na província de Aleppo, até a fronteira iraquiana", a leste, indicou o diretor do OSDH.

A vitória curda em Tall Abyad gerou os temores da Turquia, que considera as milícias YPG o braço sírio dos rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado por Ancara como um grupo terrorista.

A Turquia teme, sobretudo, que, assim como os curdos iraquianos, os curdos sírios criem um território autônomo ao longo da fronteira sírio-turca, unificando os três cantões existentes de Kobane, Jaziré e Afrin. Identificada pelos curdos sob o nome de Rojava, esta entidade não é reconhecida por Damasco.

A Síria encontra-se devastada por quatro anos de conflito, no qual o regime, os rebeldes, os curdos e os jihadistas lutam para ganhar espaço às custas da população. A guerra já deixou mais de 230.000 mortos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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