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Oriente Médio

Entenda o conflito sectário que a impulsiona violência no Iraque

6 jan 2014 - 20h48
(atualizado às 20h52)
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<p>Militantes se preparam para enfrentar as forças de segurança iraquianas em Falluja (foto de arquivo)</p>
Militantes se preparam para enfrentar as forças de segurança iraquianas em Falluja (foto de arquivo)
Foto: Reuters

O governo do Iraque está em confronto aberto com militantes aliados à rede Al-Qaeda para retomar o controle das cidades de Ramadi e Fallujah. Os choques entre revoltosos sunitas e o governo controlado por xiitas ecoa, mais uma vez, os conflitos sectários no Oriente Médio.

As cenas de violência no Iraque têm influência do conflito sectário da vizinha Síria, que também pode ser sentido no Líbano, no embate entre sunitas e xiitas. Entenda o que está motivando a crise no país.

O que está acontecendo?

Basicamente, o governo perdeu o controle sobre as cidades estratégicas de Ramadi e Fallujah, a oeste de Bagdá. Em Fallujah, militantes sunitas de um grupo filiado à al-Qaeda, o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), juntou suas forças com combatentes de tribos sunitas contrárias ao governo.

Essas tribos também assumiram o controle da cidade de Ramadi depois que o Exército se retirou em meio a um sentimento de descontentamento em relação ao governo. Alguns militantes, possivelmente ligados ao EIIL, têm tentado controlar algumas partes da cidade, enfrentando a reação das tribos.

Mas se sempre há violência na região, por que isso é importante?

Anbar é a maior província do Iraque, sua população é de maioria sunita e faz fronteira com a Síria, com a Jordânia e com a Arábia Saudita. Essa é a primeira vez que insurgentes conseguem controlar Anbar desde 2004, quando eles foram expulsos da região por forças do governo apoiadas por militares americanos.

A retomada é uma ameaça séria para a autoridade do primeiro-ministro Nouri Maliki e uma reviravolta nos esforços para reprimir a violência sectária no Iraque - que voltou a crescer desde que as tropas americanas completaram sua retirada do país há dois anos.

Os árabes sunitas, uma minoria no Iraque que deteve o poder durante o governo de Saddam Hussein, vêm por muito tempo reclamando de discriminação do governo Maliki, predominantemente xiita, e de serem o principal alvo das forças de segurança iraquianas.

Ramadi e Falluja juntas possuem cerca de um milhão de habitantes. A perda delas pode encorajar militantes e comunidades sunitas descontentes a ameaçar a unidade do Iraque. Anbar foi o foco da insurgência que tomou o Iraque logo após a invasão americana de 2003. A resistência na área nunca foi completamente neutralizada.

<p>Militantes combatem as forças de segurança em Falluja no domingo</p>
Militantes combatem as forças de segurança em Falluja no domingo
Foto: AP

O que deu início aos problemas?

O principal catalisador foi o fato de as forças de segurança iraquianas terem dispersado um acampamento de protesto de sunitas em Ramadi em dezembro do ano passado. Maliki disse que o acampamento "havia se transformado em um quartel-general para a liderança da Al-Qaeda".

Militantes sunitas responderam violentamente. Para acalmar a situação, Maliki concordou em retirar o Exército das áreas urbanas. Entretanto, assim que os soldados deixaram seus postos, os militares apareceram e tomaram as ruas de Ramadi, Falluja e Tamiya, invadindo delegacias, libertando prisioneiros e roubando armas.

Maliki voltou atrás em sua decisão no dia seguinte, mas as tropas do governo não foram capazes de retomar controle completo de Ramadi. As autoridades também reconheceram que não têm mais controle sobre a cidade de Faluja.

Como os militantes tomaram o controle de Faluja?

A província de Ambar faz fronteira com a Síria. Nos últimos meses, militantes do grupo EIIL deixaram a Síria rumo ao Iraque, ajudando a ampliar a insurgência no país, de acordo com o governo iraquiano.

A Al-Qaeda no Iraque, que deu origem ao grupo, foi quase eliminada no país em 2004, mas se estabeleceu na Síria depois que a guerra civil começou no país. Hoje, é o grupo jihadista mais forte em território sírio.

Homens armados patrulham rua de Falluja em meio a confrontos com as forças de segurança iraquianas
Homens armados patrulham rua de Falluja em meio a confrontos com as forças de segurança iraquianas
Foto: AP

O EIIL foi capaz de se estabelecer bases no norte e no leste da Síria, fora do alcance das forças de segurança iraquianas. Em Faluja, tribos sunitas contrárias ao governo se aliaram ao EIIL, ajudando o grupo a assumir o controle da cidade. No entender das tribos, os militantes são companheiros sunitas que travam uma luta contra um governo dominado pelos xiitas.

Mas o apoio é limitado. Em Ramadi, há um quase consenso entre as tribos sunitas de que o EIIL deve ser combatido, já que o grupo é visto como um bando de terroristas que quer sujar a imagem do reduto sunita iraquiano.

O governo será capaz de retomar o controle?

Não há dúvida de que a Al-Qaeda é uma imensa ameaça à segurança do Iraque. O ministro do exterior iraquiano, Hoshyar Zebari, estimou que o EIIL mobiliza 12 mil milicianos na Síria e no Iraque. Entretanto, acredita-se que o governo iraquiano tenha a seu lado 930 mil membros das forças de segurança, divididos entre Exército, polícia e serviços de inteligência.

Maliki já superou desafios no passado. Em 2008, ele lançou uma ofensiva em Basra com quatro divisões do Exército para retomar o controle da cidade, que estava nas mãos de milicianos xiitas. O governo reconquistou o controle sobre o subúrbio de Cidade Sadr, em Bagdá, que permanecia nas mãos da milícia Exército Mehdi, do clérigo Moqtada Al-Sadr.

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que, ainda que Washington possa ajudar o Iraque, a luta contra os militantes "cabia aos iraquianos" e os soldados americanos não voltariam ao país. Em 2004, tropas dos Estados Unidos participaram de duas grandes batalhas com milicianos sunitas pelo controle de Faluja, gerando alguns dos episódios mais violentos vividos pelos soldados americanos desde o final da Guerra do Vietnã.

Mohammed Layth Ahmed chora sobre o caixão de seu pai, Layth Ahmed, soldado iraquiano morto nos confrontos em Ramadi
Mohammed Layth Ahmed chora sobre o caixão de seu pai, Layth Ahmed, soldado iraquiano morto nos confrontos em Ramadi
Foto: AP

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