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Oriente Médio

Eleições afegãs iniciam era sem Karzai ou tropas americanas

Milhares de afegãos irão às urnas no próximo sábado para escolher o sucessor do presidente Hamid Karzai; o processo eleitoral se desenvolve durante a retirada dos últimos soldados da OTAN do país

4 abr 2014 - 13h48
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<p>Existe um grande receio de que extremistas voltem a ocupar o Afeganist&atilde;o depois da retirada das &uacute;ltimas tropas americanas</p>
Existe um grande receio de que extremistas voltem a ocupar o Afeganistão depois da retirada das últimas tropas americanas
Foto: AP

Os afegãos estão convocados no sábado às urnas para eleger o sucessor do presidente Hamid Karzai, que contou durante seus treze anos no poder com o apoio das tropas americanas, que agora se retiram sem terem conseguido derrotar os talibãs.

O processo eleitoral se desenvolve em plena retirada da maior parte dos últimos 53.000 soldados da Otan. Esta partida deixará a partir do próximo ano em mãos quase exclusivamente afegãs o combate contra os islamitas expulsos do poder pela invasão militar ocidental de 2001.

As eleições, de dois turnos, são realizadas sob a ameaça de atentados e suspeitas de fraude e serão um teste essencial sobre a capacidade dos afegãos de construir um Estado legítimo e eficiente.

Elas constituirão, de fato, a primeira transferência de poder por via democrática, já que Karzai venceu as duas únicas eleições realizadas até agora e sua saída obedece à impossibilidade constitucional de se apresentar a um terceiro mandato.

Sua reeleição, em 2009, foi atingida por uma onda de atentados e por fraudes em massa.

O secretário americano de Estado, John Kerry, se atreveu a declarar na quarta-feira que estas eleições marcarão uma "transição histórica em direção à democracia" e "um ponto de inflexão depois de mais de uma década de luta e sacrifício".

Oito candidatos se apresentam nas eleições de sábado, embora apenas três tenham chances de ganhar: o ex-chanceler Zalmai Rasul, considerado o candidato do poder atual, Ashraf Ghani, um reputado economista, e Abdullah Abdullah, que havia sido derrotado por Karzai em 2009.

As pesquisas os apresentam muito emparelhados, o que aumenta os temores de fraude e de um novo período de instabilidade.

"Não há personalidades neutras capazes de determinar quem cometeu fraude e quem não cometeu. A presença internacional caiu substancialmente", lamentou o especialista em questões afegãs e paquistanesas Ahmed Rashid.

"E a retirada das tropas americanas neste momento é realmente um desastre, porque a responsabilidade total pela segurança recai sobre os afegãos", acrescentou Rashid, em declarações à AFP.

Muitos diplomatas estrangeiros expressaram preocupações similares, embora tenham apontado muitas melhorias em relação às caóticas eleições de 2009.

Já os talibãs lançaram uma advertência na quarta-feira, último dia da campanha, com um atentado suicida que matou seis policiais em frente ao ministério do Interior em Cabul.

Este ataque se soma aos dois realizados no dia 20 de março em Jalalabad (leste), que matou dez policiais, e contra o Hotel Serena de Cabul, no qual nove pessoas morreram, entre elas o jornalista afegão da AFP Sardar Ahmad, sua esposa e dois de seus filhos, assim como o diplomata paraguaio Luis María Duarte, que estava no país como observador das eleições.

O representante especial adjunto da ONU para o Afeganistão, Nicholas Hayson, advertiu, por outro lado, que nas eleições haverá perdedores e pediu que os candidatos mostrem o exemplo aos seus partidários durante o interminável processo de contagem de votos.

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As urnas onde serão depositados os votos durante o próximo sábado começam a chegar no distrito de Adraskan, na província de Herat
Foto: Reuters

Um eventual segundo turno (se ninguém superar os 50% dos votos) será realizado em maio e o vencedor iniciará seu mandato em agosto.

"A campanha até agora se desenvolveu bem, com muita participação nos comícios", afirmou Abdul Waheed Wafa, analista e diretor do Centro Afeganistão, da Universidade de Cabul.

"Mas os talibãs falam sério quando prometem perturbar a votação. Os habitantes das zonas urbanas estão decididos a votar. Nas zonas rurais do sul e do leste a situação é diferente, já que os talibãs ali têm força e a participação pode ser fraca", acrescentou.

O voto feminino será outro ponto que estará no centro das atenções, já que os direitos das mulheres foram o eixo central dos esforços internacionais após a queda do regime talibã, que obrigava as mulheres a se cobrir com burcas e vedava o acesso das meninas à escola.

Cerca de 3,8 milhões de novos eleitores - entre eles 1,3 milhão de mulheres - se inscreveram para participar das eleições. Estima-se que existam 20 milhões de cartões eleitorais em circulação, vários milhões a mais que a avaliação sobre a quantidade de cidadãos habilitados a votar.

Saiba mais: 10 curiosidades sobre o Afeganistão 

Com a aproximação das eleições, muitos funcionários e consultores de organismos internacionais preferiram se afastar de Cabul e muitos restaurantes frequentados por estrangeiros fecharam por alguns dias por medo de atentados.

Desde a deposição do regime talibã, em 2001, Cabul e outras cidades, como Herat e Mazar-i-Sharif, assistiram, com a abertura de animados mercados, a um boom do setor imobiliário e à multiplicação de automóveis.

Mas as infraestruturas do país têm enormes carências e o próximo presidente deverá enfrentar o desafio de garantir o crescimento econômico, em plena saída da ajuda externa na qual até agora se sustentava.

Também precisará enfrentar a corrupção endêmica do país e a indústria do ópio, fabricado nos campos de papoula afegãos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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