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Oriente Médio

"É cedo para um cessar-fogo", diz ex-mediador Israel-Hamas

Gershon Baskin já mediou um importante acordo entre israelenses e palestinos, em 2011. Em entrevista exclusiva ao Terra, ele diz acreditar que uma nova mediação é possível, mas que a falta de responsabilidade dos líderes é evidente

14 jul 2014 - 09h14
(atualizado às 11h33)
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Bombardeio de Israel sobre a Faixa de Gaza atinge novos alvos em Rafah
Bombardeio de Israel sobre a Faixa de Gaza atinge novos alvos em Rafah
Foto: Abed Sha'at / Reuters

Gershon Baskin conseguiu um de seus maiores feitos no campo da mediação no ano passado: convenceu o Hamas e o governo de Israel a chegarem a um acordo pela libertação do soldado israelense Gilad Shalit, sequestrado em Gaza em 2006.

Foram cinco anos de trabalho – a princípio sem autorização de nenhum governo – para encontrar um canal de intercâmbio possível. Finalmente, acabou reconhecido como intermediário oficial e abriu caminho para a liberação de Shalit em troca de 500 presos palestinos.

Ainda jovem, Baskin decidiu lutar pela paz. Participou do movimento anti-guerra do Vietnã nos Estados Unidos. Depois de se formar em Política e História do Oriente Médio pela Universidade de Nova York, se mudou para Israel em 1978.

Desde então, participou de inúmeros projetos para convivência pacífica entre árabes e israelenses, entre eles, a coordenação de programas de co-existência nos sistemas escolares judeus e árabes em Israel e a fundação do Centro de Pesquisa e Informação Israel-Palestina (IPCRI).

Nesta entrevista exclusiva, Baskin fala ao Terra sobre o conflito atual entre Gaza e Israel e chama os líderes políticos à responsabilidade.

Você foi um dos principais mediadores no caso do soldado israelense Gilad Shalit, sequestrado e mantido em cativeiro por seis anos pelo Hamas. Poderia ser mediador agora?

Poderia, se alguém me ouvisse!

Você disse na sua conta no Twitter que existem rumores para a escolha de um moderador europeu.

Sei que há um grande número de países e indivíduos que se ofereceram para mediar. Acredito que os egípcios já começaram e ouvi rumores de que há o nome de um alemão circulando.

<p>Gershon Baskin, co-diretor e fundador do Centro Israelense-Palestino para Pesquisa e Informação (à direita) participa da Cúpula Internacional "Cenários e Modelos de Paz no Oriente Médio", em Malta, em 9 de dezembro de 2010</p>
Gershon Baskin, co-diretor e fundador do Centro Israelense-Palestino para Pesquisa e Informação (à direita) participa da Cúpula Internacional "Cenários e Modelos de Paz no Oriente Médio", em Malta, em 9 de dezembro de 2010
Foto: Lino Arrigo Azzopardi / AP

Como este conflito recomeçou? Com o recente sequestro e assassinato de três jovens judeus israelenses na Cisjordânia?

Sim, foi com o sequestro destes três jovens e seu assassinato, e o entendimento por Israel de que o Hamas foi o responsável. O Hamas, que se o tivessem feito, teriam assumido a autoria. Também acredito que não foram eles.

E quem poderia ter feito?

Me parece muito mais uma organização local, inspirada pelo EIIL - essa versão radical do Islã e seus feitos na Síria e no Iraque.

Muitos críticos de Israel ressaltam que a resposta do país é desproporcional. Por outro lado, por que o Hamas insiste em jogar foguetes?

Israel não tem interesse em uma resposta proporcional. Israel quer que o Hamas entenda que, quando eles mexem com Israel, vão receber algo forte de volta. A dissuasão é isso. E o que Israel quer é criar dissuasão. A alternativa para Israel, se não for a dissuasão, é entrar sobre o terreno e destruí-los, o que custaria muito em termos de vidas e prejuízos. Mas é possível, Israel poderia fazer isso, mas por enquanto  têm escolhido não fazê-lo. Então por que o Hamas continua? Porque querem mostrar ao povo palestino que, diferentemente de Mahmud Abbas e do Fatah, que negociam com Israel, eles atacam Israel, mesmo sabendo que é um ataque suicida. Aqueles que entraram nos kibbutz eram suicidas e queriam mostrar quão bravos eles eram. Eu garanto que quando houver um cessar-fogo, o Hamas vai querer jogar o último foguete para dar a última palavra e se sentirem vitoriosos.

Parece que os extremos de ambos lados arrastam a maioria para o conflito. É assim? 

Não só os extremos. Está todo mundo muito faminto, frustrado e assustado.  A maioria dos israelenses e a maioria dos palestinos quer que o outro lado sinta dor. É por isso que é cedo para um cessar-fogo. Podemos ter um mediador agora que não vai conseguir um cessar-fogo, porque cada lado não vai sentir que causou dor suficiente.

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Você disse em sua conta no Twitter que Israel tinha que responder com força. Por quê? 

Porque Israel deu para trás e mandou mensagens ao Hamas para pararem. Eu mesmo, por conta própria, pedi ao Hamas para pararem e aceitarem um cessar-fogo para evitar uma escalada. Nenhum governo no mundo pode ver a população civil ser atacada por foguetes. E eles não puderam, os israelenses tiveram que responder militarmente. Mas também precisam entender que este conflito não será resolvido pela força.

Você também faz uma crítica ao líderes do Hamas que estão agora seguros e confortáveis na Europa.

Não só na Europa. Estão na Turquia, no Catar, no Líbano. E em Gaza também estão seguros, nos abrigos subterrâneos.

Este conflito poderia alcançar uma escala regional e se expandir, se levarmos em conta ainda a crise no Egito e o massacre civil na Síria?

Temos que nos preocupar primeiro com estabilidade e segurança no Egito, Israel, Palestina e Jordânia - esta é a nossa zona, onde vivemos. Espero que os egípcios tomem a iniciativa. O presidente (Abdel Fattah) al-Sissi quer criar estabilidade e segurança para o Egito e vê como oportunidade mediar em Sharm el Sheikh entre Israel, Palestina e Jordânia.e começar um processo regional. E criariam também as condições para um cessar-fogo mais estável em Gaza.

Alguns analistas estão afirmando que começou a Terceira Intifada. Você concorda?

Aumento da tensão entre Hamas e Israel preocupa Barack Obama:

A Cisjordânia continua relativamente muito calma. Nao é a Terceira Intifada ainda e espero que ela não venha. Os palestinos precisam continuar com a pressão unilateral sobre Israel. E a mudança não pode vir do exterior, tem que ser interna. Então, espero que se vier uma Terceira Intifada, seja uma intifada política e diplomática, não como a Segunda Intifada. Se eles deixarem a violência irromper de novo, eles vão perder de novo.

E qual seria sua última palavra sobre o conflito que estamos acompanhando?

Essas pessoas que começam os conflitos, elas nunca sabem como vão terminá-los. Só sabem como começá-los. Isso é tão irresponsável. E depois posam de heróis. Também acho que, ao final desses conflitos, os povos deveriam se voltar para seus líderes e dizer: você falhou, você não foi bem sucedido, queremos você fora (do governo). Mas eles permitem que esses líderes continuem por anos, colocando-os em situações ruins.

Fonte: Especial para Terra
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