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Oriente Médio

Desaparecimento gradual do Mar Morto é 'corrigido'

Solução é considerada polêmica por envolver divergências ambientais

29 mar 2014 - 13h18
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Foto: Adam Teva V'din

O uso excessivo da água do Mar Morto, na volátil região entre Israel, Jordânia e territórios palestinos, fez com que ele perdesse 35% de sua extensão nos últimos 60 anos.

E o caminho para evitar o desaparecimento desse recurso natural único envolve divergências ambientais, a ponto de críticos dizerem que a medida pode levar à destruição do mar - que é tecnicamente um lago.

Segundo a especialista em recursos hídricos Sarit Caspi Oron, da ONG Adam Teva V'din, as razões principais do encolhimento do Mar Morto são o desvio das águas do rio Jordão e a ação das indústrias químicas - israelenses e jordanianas, que extraem grandes quantidades de água para explorar os minerais que lá se encontram.

"O desvio das águas do rio Jordão prejudica gravemente o abastecimento para o Mar Morto. A exploração descontrolada pelas indústrias químicas, para extrair principalmente potássio, levam a uma redução de 1,5 metro por ano no nível do Mar Morto", disse Oron à BBC Brasil.

Do lado israelense, a indústria que explora as águas do Mar Morto é a Israel Chemicals e, do lado jordaniano, a Arab Potash.

Mas a Jordânia já acusou Israel de usar em excesso as águas do rio Jordão e alega que outro vizinho, a Síria, viola os termos de um acordo de 1987 sobre o uso do rio Yarmouk, afluente do Jordão.

A Autoridade Palestina não tem controle algum sobre a exploração do Mar Morto e nem sobre a utilização das águas do rio Jordão, já que seus territórios se encontram sob ocupação militar israelense desde a guerra de 1967.

Do Vermelho ao Morto

Em dezembro de 2013, Israel, a Jordânia e a Autoridade Palestina assinaram um acordo com o apoio do Banco Mundial, para construir um sistema de canos que levará água do Mar Vermelho para o Mar Morto.

Segundo o ministro israelense Silvan Shalom, responsável pela pasta da Cooperação Regional, "o projeto será implementado devagar por causa de problemas ecológicos".

Cientistas advertem para o risco de que a transposição de águas do Mar Vermelho abale o ecossistema do Mar Morto, cuja composição química é completamente diferente daquela de mares abertos.

Localizado a 427 metros abaixo do nível do mar, o ponto mais baixo do planeta, o Mar Morto possui uma concentração especialmente alta de potássio, cálcio e magnésio, além de um grau de salinidade dez vezes maior do que os oceanos.

Essa composição química única conferem às águas do Mar Morto propriedades medicinais únicas e reconhecidas internacionalmente como benéficas para o tratamento de doenças de pele e reumatismo.

Catástrofe

De acordo com vários especialistas a mistura com a água do Mar Vermelho poderá criar uma camada de gesso que cobrirá o Mar Morto, alterando sua cor para branco e destruindo suas propriedades minerais especiais.

"Em vez de salvar o Mar Morto, a transposição do Mar Vermelho irá destruí-lo", afirma Sarit Caspi Oron, "o plano do governo se concentra apenas na elevação do nível da água, mas ignora o principal, que é a qualidade da água e sua composição química".

Segundo o governo de Israel, inicialmente, será implementado um plano piloto, com uma transposição limitada de águas. Nessa primeira fase, os efeitos ambientais serão monitorados cuidadosamente.

As soluções propostas por ambientalistas envolvem mudanças radicais na política hídrica de Israel, que utiliza a maior parte das águas desviadas do rio Jordão, inclusive para irrigar plantações de assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados.

"Devemos desviar menos água do rio Jordão para agricultura, a fim de possibilitar que o próprio rio volte a abastecer o Mar Morto", afirma Caspi Oron. "Durante milhares de anos, o Mar Morto foi abastecido com a água doce do rio Jordão e manteve seu ecossistema."

A especialista propõe que o governo israelense opte por uma agricultura mais econômica e reconsidere o cultivo de frutas tropicais, que necessitam de muita água.

Outra medida seria o aumento da produção de água dessalinizada extraída do Mar Mediterrâneo, que já chega a 40% do total da água consumida em Israel.

"Aumentando a dessalinização e a economia de água estaríamos sobrecarregando menos as nossas fontes naturais, como o Mar da Galileia e o rio Jordão, e assim o Mar Morto sairia beneficiado", disse.

"O governo deve impor limitações à extração realizada pelas indústrias do Mar Morto e exigir que elas construam usinas de dessalinização para recompensar o país pela água que consomem na exploração dos minerais", acrescentou.

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