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Oriente Médio

Cruz Vermelha negocia trégua na Síria para ajuda humanitária

20 fev 2012 - 14h36
(atualizado às 21h28)
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O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) afirmou nesta segunda-feira que está negociando com as autoridades sírias "uma suspensão das hostilidades" para levar ajuda humanitária à população. O CICR estuda a forma de levar ajuda à população, incluindo a "suspensão das hostilidades nas zonas mais afetadas para facilitar o acesso do Crescente Vermelho sírio e do CICR à populações necessitadas", declarou um porta-voz, Bijan Farnudi.

O menino Hassan Saad, 13 anos, que abandonou Idlib, na Síria, faz o sinal da vitória enquanto caminha no campo de refugiados em Yayladagi, na fronteira entre a Turquia e a Síria. Hassan diz o que o seu pais foi morto por forças pró-Assad há cinco meses
O menino Hassan Saad, 13 anos, que abandonou Idlib, na Síria, faz o sinal da vitória enquanto caminha no campo de refugiados em Yayladagi, na fronteira entre a Turquia e a Síria. Hassan diz o que o seu pais foi morto por forças pró-Assad há cinco meses
Foto: Reuters

Luta por liberdade revoluciona norte africano e península arábica

O porta-voz não deu detalhes sobre os participantes nestas negociações, mas disse que "estavam em andamento". Entre as possibilidades contempladas, mencionou "o fim dos combates nas zonas mais afetadas". "O conteúdo destas discussões (com as autoridades sírias e a oposição) é confidencial", acrescentou.

Nesta segunda-feira, ao menos 16 pessoas morreram em atos violentos na Síria, sobretudo no bombardeio de alguns bairros da cidade rebelde de Homs, onde os ativistas pediram a evacuação de mulheres e crianças. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) assegura que nove civis morreram no bombardeio de Homs, dos quais cinco no bairro de Baba Amr, o mais atingido desde o início da ofensiva das forças do regime no dia 4 de fevereiro, e quatro no de Al-Malaab.

Em Damasco, que nos últimos dias foi cenário de manifestações sem precedentes, os serviços de segurança eram mantidos em estado de alerta. Nesta segunda-feira, jovens içaram a "bandeira da independência" da Síria na ponte Al-Jawzeh, na entrada sul da capital, segundo um vídeo divulgado por militantes.

Desde o início da revolta, em meados de março de 2011, o regime se nega a reconhecer a amplitude do protesto e responsabiliza grupos terroristas pela violência. "O Estado e a sociedade síria são alvos de grupos terroristas armados que recebem ajuda financeira e armas de atores estrangeiros para desestabilizar o país e acabar com qualquer tentativa de se chegar a soluções", reiterou Assad ao receber nesta segunda o presidente da comissão de Relações Exteriores do Parlamento russo, Alexei Pushkov, informou a agência oficial Sana.

Pushkov reiterou o apoio de seu país às "reformas realizadas na Síria" e defendeu uma "solução política" para o conflito "baseada no diálogo (...) e sem ingerências" externas. Moscou, ao lado de Pequim, vetou duas vezes uma resolução condenando a repressão síria no Conselho de Segurança da ONU.

Frente a um panorama que se deteriora a cada dia, a comunidade internacional segue dividida em relação à Síria e não parece disposta a atuar além das condenações. O Conselho Nacional Sírio (CNS), a maior formação opositora ao regime sírio, participará na sexta-feira da conferência internacional sobre a crise na Síria que será realizada na Tunísia, anunciou nesta segunda-feira em Roma o ministro tunisiano das Relações Exteriores, Rafik Abdessalem.

O ministro reconheceu que nenhum país deseja uma intervenção militar, mas também admitiu que ninguém quer "que se repita na Síria o que ocorreu no Iraque", referindo-se ao conflito interno desencadeado nesse país após a intervenção militar das potências estrangeiras.

No entanto, o senador americano e ex-candidato à Casa Branca John McCain pediu nesta segunda-feira que a oposição seja abastecida de armas para "ajudá-la a se defender", embora não tenha pedido uma ajuda direta dos Estados Unidos. As autoridades sírias libertaram hoje importantes membros da oposição, segundo um advogado pró-direitos humanos. Eles são a blogueira Razan Ghazaoui, detida na quinta, e o cineasta Firas Fayad, detido desde novembro.

Organizações e movimentos laicos convocaram um protesto na terça-feira diante do Parlamento de Damasco contra uma referência ao Islã no projeto de Constituição que será submetido a referendo no dia 26 de fevereiro.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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