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Oriente Médio

Conheça os desafios de Hassan Rohani, o novo presidente iraniano

4 ago 2013 - 06h58
(atualizado às 09h57)
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<p>Rohani em imagem do dia 17 de junho</p>
Rohani em imagem do dia 17 de junho
Foto: Reuters

Milhares de pessoas ocuparam as ruas da principais cidades iranianas para celebrar a vitória nas eleições presidenciais do clérigo moderado Hassan Rohani, que tomou posse no sábado. Para muitos, a eleição de Rohani também uma razão para comemorar o fim da era do presidente Mahmoud Ahmadinejad com gritos de "Tchau, tchau, Ahmadi!"

Parte da população acredita que Ahmadinejad, eleito duas vezes em votações cercadas por controvérsias, colocou o Irã em um caminho de ruína econômica e confronto com o resto do mundo. Rohani chega ao poder com a promessa de resgatar o Irã do isolamento, pôr fim às sanções internacionais e reverter uma inflação galopante. Mas será que ele consegue?

Abaixo, entenda alguns dos principais desafios de Hassan Rohani à frente da presidência do Irã.

Prisioneiros políticos

Apesar dos iranianos estarem atravessando uma situação econômica difícil, com inflação alta e desemprego, a primeira demanda de muitos para o novo presidente é a libertação de prisioneiros políticos.

<p>Eleitores comemoram a elei&ccedil;&atilde;o de Rohani &agrave; presid&ecirc;ncia do Ir&atilde;</p>
Eleitores comemoram a eleição de Rohani à presidência do Irã
Foto: AFP

Isso ficou claro nos slogans de muitos dos que foram às ruas celebrar a vitória de Rohani e também durante a campanha eleitoral. De acordo com uma investigação do jornal britânico The Guardian, há cerca de 800 prisioneiros políticos, além de prisioneiros de consciência (presos por motivos políticos ou religiosos), no Irã hoje.

Os mais conhecidos são os líderes do partido de oposição Movimento Verde, Mir Hussein Mousavi, sua mulher, Zahra Rahnavard, e Mehdi Karroubi, que estão sob prisão domiciliar há dois anos. Mas além de políticos, também estão presos jornalistas, advogados, ativistas de direitos humanos, blogueiros, feministas, além de padres e clérigos sunitas.

Se Rohani conseguir garantir a libertação desses prisioneiros passará pelo seu primeiro teste de autoridade e poderá abrir a atmosfera política no Irã, pondo fim à repressão política que prevalece no momento.

Relacionamento com o líder supremo e os "linha-dura"

Em vários aspectos, a capacidade de Rohani, que é clérigo, de implementar mudanças vai depender de seu relacionamento com o líder supremo aiatolá Ali Khamenei, que é o líder de facto dos políticos linha-dura e detém a última palavra em várias questões estratégicas e cruciais para o país.

O novo presidente não é exatamente um liberal. Até hoje ele é o representante do líder supremo no Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, que lida com questões delicadas relacionadas à segurança e relações exteriores, como o programa nuclear.

Ao mesmo tempo em que Rohani precisa que os linha-dura cooperem com ele, os linha-dura também precisam dele para salvar o regime, que sofre com os efeitos de sanções internacionais e da má condução da economia.

Rohani parece ser alguém com quem o líder supremo deve poder negociar. A figura de Rohani representa uma rejeição ao isolacionismo e a políticas extremistas do líder supremo. Sua eleição enfraqueceu consideravelmente a posição de Khamenei.

Recessão econômica

A economia iraniana está em recessão. A taxa de inflação oficial chega a 30%, mas índices extraoficiais apontam para uma alta muito maior dos preços.

A inflação dos alimentos bateu 60%. O desemprego já atingiu 12% da população. A má administração é notória, mas é preciso reconhecer o peso das sanções internacionais no mau desempenho da economia. Sanções impostas às exportações do petróleo reduziram a maior fonte de renda do país em 65%.

Sanções contra os bancos também causaram grande impacto nas transações comerciais do país com o resto do mundo, tornando impossível para o Irã trazer seus petrodólares de volta ao país. A escassez do dólar levou à queda acentuada da moeda nacional, rial, que desvalorizou cerca de 80% no ano passado.

O novo presidente espera resgatar alguns setores da economia, mas ele precisa pôr fim às sanções para que o Irã retome o rumo do crescimento.

Impasse nuclear

Nos debates televisivos durante a campanha eleitoral, quase todos os candidatos, incluindo conservadores e os linha-dura criticaram um dos candidatos, Saeed Jalili, por desperdiçar várias rodadas de negociações entre o Irã e potências mundiais sobre o programa nuclear do país.

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Aiatolá Ali Khamenei (C) entrega a carta de referência ao novo presidente Hassan Rohani (D)
Foto: EFE

Jalili, que chegou em terceiro na disputa presidencial com 11% dos votos, tem sido o principal negociador iraniano para questões nucleares desde 2007. Ele foi acusado por outros candidatos de não conseguir avançar nos diálogos e abrir caminho para uma pilha de sanções que hoje pesam sobre o Irã.

Está claro que até na cúpula do governo há grandes divisões sobre como proceder nessas negociações. O novo presidente acredita ser possível que o Irã mantenha seu programa nuclear e ao mesmo tempo tranquilize as potências mundiais.

Esta é uma proposta difícil, mas, se conseguir, ele deve angariar o apoio do líder supremo iraniano. Se não, o espectro de guerra vai continuar a pairar sobre o Irã.

Relações com o Ocidente

O novo presidente assume com a promessa de melhorar as relações do Irã com outros países e essa é uma área em que ele deverá conseguir deixar sua marca. Rohani tem experiência diplomática, tendo sido o principal negociador iraniano para assuntos nucleares sob o governo do presidente anterior a Ahmadinejad, Mohammad Khatami.

Ele deve começar reestabelecendo laços com a Grã-Bretanha, que fechou sua embaixada em Teerã em 2011 após um ataque. Em represália, o Irã também ordenou o fechamento da embaixada iraniana em Londres.

A primeira reação americana à eleição de Rohani foi oferecer diálogo direto com Teerã sobre o programa nuclear e as relações bilaterais. No atual clima de euforia que paira sobre a capital iraniana, muitos sentem que isso agora seja possível.

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