PUBLICIDADE

Oriente Médio

Comunidade judaica argentina rejeita acordo com Irã por atentado antissemita

28 jan 2013 - 14h04
(atualizado às 14h05)
Compartilhar

A comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, rejeitou nesta segunda-feira o acordo assinado entre a Argentina e o Irã para formar uma Comissão da Verdade com o intuito de investigar o atentado antissemita à mutual AMIA em 1994, que deixou 85 mortos.

A Argentina acusa o Irã de ser o autor intelectual do atentado, o que Teerã nega veementemente.

"A formação de uma 'Comissão da Verdade', que não é reconhecida pelas leis argentinas que regulam o processo penal, implicaria em um declínio de nossa soberania", informaram a AMIA e a DAIA, as duas maiores representações dessa comunidade na Argentina.

A Argentina assinou no domingo um acordo com o Irã na Etiópia com o objetivo de criar uma comissão independente para investigar o atentado de 1994 em Buenos Aires contra o centro judeu AMIA (Associação Mutual Israelense Argentina), pelo qual havia pedido a extradição de oito iranianos.

"Ignorar tudo o que foi feito pela justiça argentina substituindo por uma Comissão que, no melhor dos casos, emitirá, sem data definida, uma 'recomendação' aos envolvidos, constitui, sem dúvida, um retrocesso no objetivo comum de obter justiça", declararam ambas as entidades em um comunicado conjunto.

Segundo o acordo firmado este domingo em Addis Abeba pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, e seu colega iraniano, Ali Salehi, os iranianos acusados poderão ser interrogados em Teerã pelo promotor e o juiz encarregado do caso na Argentina.

Enquanto isso, a chancelaria israelense informou esta segunda-feira estar "surpresa" com o acordo anunciado na véspera.

"As notícias nos surpreenderam", disse à AFP o porta-voz da chancelaria israelense, Yigal Palmor. "Estamos esperando para receber dos argentinos todos os detalhes sobre o que está acontecendo porque obviamente este tema está diretamente relacionado com Israel".

A embaixada de Israel em Buenos Aires foi alvo de um atentado em 1992 que deixou 29 mortos e 200 feridos, dois anos antes do ataque contra o edifício de seis andares que sediava a AMIA, em um bairro comercial da capital argentina.

Pelo atentado, Buenos Aires exige desde 2006 a extradição de oito iranianos, entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, o ex-presidente Ali Rafsanjani (1989-1997) e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, todos eles com ordem de captura internacional expedida pela Interpol.

A AMIA, que engloba as instituições da comunidade judaica, e a DAIA (Delegação de Associações Israelitas da Argentina), seu braço político, lembraram que a Interpol, assim como as apresentações feitas por promotores argentinos da causa, resolveu que "as provas eram suficientes e aptas para requerer as capturas".

A Comissão da Verdade será integrada por juristas independentes que não poderão ser cidadãos de nenhum dos dois países.

"Qualquer Comissão a ser criada não pode ter outra função que a de controlar ou fiscalizar a legalidade dos interrogatórios", reagiram AMIA e DAIA sobre o acordo entre Buenos Aires e Teerã, que deve ser aprovado pelos dois Congressos.

Em outubro, a Argentina e o Irã abriram negociações na sede da ONU, em Genebra, para resolver as ações judiciais pendentes na investigação do atentado.

O governo iraniano nega qualquer participação no atentado e rejeitou as acusações de terrorismo contra seus oito cidadãos, negando-se a cumprir as ordens de captura expedidas pela Interpol, o que mantém o processo judicial paralisado por anos e sem detidos.

A comunidade judaica da Argentina é a maior da América Latina, com 300.000 pessoas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade