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Oriente Médio

Como punir criminosos nazistas que ainda vivem sem julgamento?

2 set 2013 - 10h10
(atualizado às 10h26)
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Centenas, talvez milhares de criminosos de guerra nazistas ainda vivem impunes, salvos por causa da impossibilidade de identificar todos eles, sobretudo quando a maioria está mais próxima da 'solução biológica' para acabar com essa página negra da história europeia.

"Ninguém, absolutamente ninguém, pode determinar quantos criminosos nazistas ainda seguem vivos", disse o historiador Efraim Zuroff, diretor do escritório de Jerusalém do Centro Simon Wiesenthal.

Por causa da morte este mês do húngaro Laszlo Csatary, um dos criminosos de guerra mais procurados dos últimos anos, Zuroff lembrou que a idade média desta geração está perto dos 90 e advertiu que as recentes campanhas para encontrá-los e puni-los chegaram tarde.

Para tentar impedir que morram sem ser julgados, o Centro Wiesenthal publicou há algumas semanas mais de 20 mil cartazes em três cidades alemãs oferecendo recompensa de 25 mil euros por informação fidedigna.

"Recebemos dezenas de nomes, agora é preciso investigar", destacou sobre o trabalho que tem ocupado esta instituição desde sua fundação em 1993 e que nada tem a ver com o de Documentação Judia em Viena fundado e dirigido pelo austríaco Simon Wiesenthal, sobrevivente do Holocausto.

Morto aos 96 anos, em 2005, Wiesenthal foi a primeira pessoa que se propôs a buscar os criminosos nazistas responsáveis pela morte de seis milhões de judeus europeus no Holocausto, trabalho que foi assumido por Zuroff e que o tornou conhecido como o "último caçador de nazistas".

Último porque já faz tanto tempo da Segunda Guerra que todos os que a viveram já estarão mortos na próxima década. Nascido nos Estados Unidos pouco depois da barbárie nazista, Zuroff afirma que quer lutar "até o final" porque a condenação formal é importante, mesmo que nenhum deles passe só um dia na prisão.

Caso de Csatary, que Zuroff descobriu em Budapeste, e morreu enquanto aguardava julgamento na Eslováquia pela deportação a Auschwitz de 15.700 judeus. Pelos crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial no campo de concentração húngaro de Kosice, Csatary chegou a ser condenado à revelia à pena de morte em 1948, mas fugiu e só foi descoberto mais de 60 anos depois, em 2011.

Até então Csatary liderava o "Top Ten" do Centro Wiesenthal, lista da qual saem e entram nomes de acordo com as investigações ou morte de criminosos de guerra. Costumam estar no topo dois altos oficiais nazistas cuja morte não está confirmada cientificamente, Alois Brunner, figura chave na aplicação da "solução final" e o médico de vários campos de extermínio Aribert Heim.

Os líderes do nazismo foram julgados pelos aliados em Nuremberg (1945-6), embora muitos tenham fugido para América Latina e Espanha.

O Israel chegou a capturar um, Adolf Eichmann, em uma operação do Mossad (serviço de inteligência de israel) na Argentina, que foi julgado e executado em 1962.

Além disso, Israel matou no Uruguai o letão Herbert Cukurs, também conhecido como o "carrasco de Riga", em 1964, e os tribunais acusaram em 1993 John Demjanjuk de ter sido "Ivan o Terrível" do campo de Treblinka.

Hoje, segundo Zuroff, os que vivem são oficiais que serviram nos campos sendo relativamente jovens, mas adverte que não por isso eram menos sanguinários e desumanos.

"Por criminoso de guerra nazista entendemos qualquer pessoa que serviu ao III Reich, ou a seus governos satélite (Croácia, Hungria, Bulgária...), e que participaram das perseguições de inocentes, judeus e não judeus", explicou o caçador de nazistas.

Após a perseguição de figuras líderes do nazismo nas décadas de 50 e 60, a busca enfraqueceu conforme avançava a Guerra Fria, e embora nos últimos 20 anos tenha ganhado fôlego com processos e condenações de mais de cem nomes, muitos deles na Alemanha.

Segundo Zuroff, estão abertas pelo menos três mil investigações e pelo menos outros 90 foram processados na Europa. Após a morte de Csatary sem julgamento, Zuroff garante que "não faltam candidatos para encher a lista dos dez mais procurados".

Mas reconhece que nesta luta contra o relógio, a morte - que Wiesenthal descreveu como "solução biológica" - ganhará inevitavelmente da Justiça na maior parte dos casos.

EFE   
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