A linha telefônica do serviço de correios israelense entrou em colapso no início desta semana. No espaço de dois dias, o número de encomendas telefônicas de máscaras antigás e acessórios quadruplicou.
"Foi demais", comentou, seco, Chaim Mazaki, porta-voz do departamento. Os usuários faziam fila também nos postos de correio de todo o país, que servem como centros de distribuição para equipamento de proteção contra ataques químicos.
O motivo são as notícias da vizinha Síria – onde, ao que tudo indica, foram empregadas armas químicas, o que preocupa cada vez mais os israelenses. A isso se acrescentam as ameaças declaradas por parte de políticos sírios e iranianos: caso os Estados Unidos ataquem a Síria, Israel será o primeiro alvo dos ataques de represália, prometem.
Até agora, Israel tem se mantido fora do sangrento conflito na Síria. Apenas em maio houve uma pequena escaramuça na região de fronteira nas Colinas de Golã, região da Síria sob ocupação israelense. Além disso, segundo a imprensa, desde o início do ano, Israel teria bombardeado alvos na Síria por três vezes, visando impedir o fornecimento, por Damasco, de armas ultramodernas à milícia Hisbolá, aliada do Irã, com bases no sul do Líbano.
Algumas vezes, porém, os israelenses também têm prestado ajuda: até hoje, um total de 100 feridos sírios receberam tratamento nos hospitais do norte de Israel – só no último fim de semana foram admitidos 15 deles.
Diante das evidências que aponta para o uso de armas químicas pelo regime sírio na guerra civil do país, a comunidade internacional costura a possibilidade de uma intervenção militar para "punir" o governo de Bashar al-Assad. Apesar de teoricamente uma intervenção precisar de apoio do Conselho de Segurança da ONU, algumas fontes aponta que o início de um ataque militar é iminente. Esta eventual ação seria liderada pelos Estados Unidos e reuniria vários países ocidentais, como a França e a Grã-Bretanha, com o apoio de países da região, como a Turquia. Conheça parte do arsenal bélico e das instações desta coalizão para um eventual ataque. Na imagem, o destróier americano USS Gravely, na costa da Grécia, em junho de 2013
Foto: AFP
Avião americano F-16 decolando de base aérea em Azraq, na Jordânia
Foto: AFP
Tanques israelenses nas Colinas de Golã, próximo à fronteira com a Síria
Foto: AFP
Aviões americanos F-15 Eagles
Foto: AFP
Avião americano F-16CJ na base aérea de Incirlik, na Turquia
Foto: AFP
Soldados americanos descarregam mísseis AIM-9 Sidewinder na base aérea de Incirlik
Foto: AFP
Bombas MK-82 na base aérea americana de Incirlik, na Turquia
Foto: AFP
Sistema de defesa Patriot em Kahramanmaras, na Turquia
Foto: AFP
Porta-aviões americano USS Harry S. Truman e o navio-tanque USNS Leroy Grumman, no Mar Mediterrâneo
Foto: AFP
Helicóptero Apache da Real Força Aérea britânica
Foto: AFP
Avião AV-8B Harrier decola do porta-aviões USS Kearsarge, no Mar Mediterrâneo
Foto: AFP
Aviões bombardeiros Tornado da Real Força Aérea britânica
Foto: AFP
Base aérea britânica em Limassol, no Chipre
Foto: AP
Destróier americano USS Mahan
Foto: EFE
Porta-aviões americano USS Harry S. Truman e o navio de guerra USS Gettysburg
Foto: EFE
Destróier USS Ramage
Foto: Reuters
Destróier americano USS Barry, no Mar Mediterrâneo
Foto: Reuters
Porta-aviões nuclear francês Charles de Gaulle
Foto: Reuters
Míssil Tomahawk disparado do destróier USS Barry
Foto: Reuters
Bateria de defesa israelense Domo de Ferro, em Haifa
Foto: Reuters
Compartilhar
Publicidade
Precaução e ameaças
Até recentemente, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não dera praticamente nenhuma declaração oficial a respeito da situação na Síria. Isso mudou no último domingo, quando ele abriu a sessão do gabinete governamental com um breve discurso sobre os acontecimentos mais recentes no país vizinho. As palavras foram escolhidas com extremo cuidado.
Agora, é preciso lidar concretamente com as consequências da "horrível tragédia", afirmou. Por um lado, a comunidade internacional não pode permitir que um dos mais perigosos regimes do mundo possua as armas mais perigosas, disse Netanyahu. Por outro, disse, Israel saberá se defender se precisar. "Se necessário, nós estamos com o dedo no gatilho", avisou Netanyahu.
Também o presidente israelense Shimon Peres exigiu "uma tentativa internacional para eliminar todas as armas químicas da Síria". Seu apelo se dirigia aos Estados Unidos: na qualidade de aliado de Israel, Washington tem um dever a cumprir.
Até segunda ordem, Israel se aterá ao papel de espectador. "Acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos com apreensão, mas enquanto Israel não estiver em perigo, não tomaremos nenhuma iniciativa", declarou o ministro da Defesa Danny Danon.
Em geral, é considerada mínima a probabilidade de que o presidente sírio, Bashar al-Assad, venha a atacar Israel. "O regime vai pensar duas vezes antes de fazer isso", afirmou Danon.
Apesar da atitude reservada, Israel se sente cada vez mais sob pressão e age de acordo. Nesta semana, na cidade portuária de Haifa, mísseis antiaéreos foram posicionados em direção ao norte. No dia seguinte, o comitê de segurança do Knesset (parlamento) se reuniu. O Exército israelense também divulgou a realização de dois dias de exercícios nas Colinas de Golã.
Devido aos confrontos com o Irã, a guerra civil na Síria, as mais recentes revoltas no Egito, os ataques a partir do Sinai e do Líbano, a situação em Israel está cada vez mais imprevisível. É grande o medo de que prevaleçam os grupos radicais islâmicos e os adversários do Estado israelense.
Menino vítima de ataque com armas químicas recebe oxigênio
Foto: Reuters
Menina é atendida em hospital improvisado após o ataque
Foto: AP
Homens recebem socorro após o ataque com arma químicas, relatado pela oposição e ativistas
Foto: AP
Mulher que, segundo a oposição, foi morta em ataque com gases tóxicos
Foto: AFP
Homens e bebês, lado a lado, entre as vítimas do massacre
Foto: AFP
Corpos são enfileirados no subúrbio de Damasco
Foto: AFP
Muitas crianças estão entre as vítimas, de acordo com imagens divulgadas pela oposição ao regime de Assad
Foto: AP
Corpos das vítimas, reunidos após o ataque químico
Foto: AP
Imagens divulgadas pela oposição mostram corpos de vítimas, muitas delas crianças, espalhados pelo chão
Foto: AFP
Meninas que sobreviveram ao ataque com gás tóxico recebem atendimento em uma mesquita
Foto: Reuters
Ainda em desespero, crianças que escaparam da morte são atendidas em mesquita no bairro de Duma
Foto: Reuters
Menino chora após o ataque que, segundo a oposição, deixou centenas de mortos em Damasco
Foto: Reuters
Após o ataque com armas químicas, homem corre com criança nos braços
Foto: Reuters
Criança recebe atendimento em um hospital improvisado
Foto: Reuters
Foto do Comitê Local de Arbeen, órgão da oposição síria, mostra homem e mulher chorando sobre corpos de vítimas do suposto ataque químico das forças de segurança do presidente Bashar al-Assad
Foto: Local Committee of Arbeen / AP
Nesta fotografia do Comitê Local de Arbeen, cidadãos sírios tentam identificar os mortos do suposto ataque químico das forças de segurança do presidente Bashar al-Assad
Foto: Local Committee of Arbeen / AP
Homens esperam por atendimento após o suposto ataque químico das forças de segurança da Síria na cidade de Douma, na periferia de Damasco; a fotografia é do escrtitório de comunicação de Douma
Foto: Media Office Of Douma City / AP
"Eu estou viva", grita uma menina síria em um local não identificado na periferia de Damasco; a imagem foi retirada de um vídeo da oposição síria que documenta aquilo que está sendo denunciado pelos rebeldes como um ataque químico das forças de segurança da Síria assadista
Foto: YOUTUBE / ARBEEN UNIFIED PRESS OFFICE / AFP
Nesta imagem da Shaam News Network, órgão de comunicação da oposição síria, uma pessoa não identificada mostra os olhos de uma criança morta após o suposto ataque químico de tropas leais ao Exército sírio em um necrotério improvisado na periferia de Damasco; a fotografia, de baixa qualidade, mostra o que seria a pupila dilatada da vítima
Foto: HO / SHAAM NEWS NETWORK / AFP
Rebeldes sírios enterram vítimas do suposto ataque com armas químicas contra os oposicionistas na periferia de Damasco; a fotografia e sua informação é do Comitê Local de Arbeen, um órgão opositor, e não pode ser confirmada de modo independente neste novo episódio da guerra civil síria
Foto: YOUTUBE / LOCAL COMMITTEE OF ARBEEN / AFP
Agências internacionais registraram que a região ficou vazia no decorrer da quarta-feira
Foto: Reuters
Mais de mil pessoas podem ter morrido no ataque químico, segundo opositores do regime de Bashar al-Assad
Foto: Reuters
Cão morto é visto em meio a prédios de Ain Tarma
Foto: Reuters
Homens usam máscara para se proteger de possíveis gases químicos ao se aventurarem por rua da área de Ain Tarma
Foto: Reuters
Imagem mostra a área de Ain Tarma, no subúrbio de Damasco, deserta após o ataque químico que deixou centenas de mortos na quarta-feira. Opositores do governo sírio denunciaram que forças realizaram um ataque químico que matou homens, mulheres e crianças enquanto dormiam
Foto: Reuters
Compartilhar
Publicidade
Falta de treinamento
O correio nacional segue tentando suprir a demanda crescente de máscaras de gás – o que não é fácil. Segundo a frente patriótica nacional Pikud Haoref, um comando regional das forças de Defesa israelenses, no momento, 60% de todos os cidadãos possuem o equipamento. Não há meios financeiros para suprir a todos, e a proposta de elevar as verbas de 350 milhões de dólares reservadas a esse fim sucumbiu aos cortes orçamentários.
No entanto, esse não é o único problema. Faltam conhecimentos e prática de como lidar com o equipamento de proteção, como lembra Maja Schuldiner, do Weitzman Institute of Science, em Rehovot. Durante a guerra do Golfo Pérsico, em 1991, muitos morreram por não saber o que fazer.
"Muitos esqueceram, no pânico, de abrir a tampa protetora, e sufocaram. Outros se injetaram sem razão a substância atropina, fornecida como antídoto, e morreram de envenenamentos e enfartes cardíacos", relata Schuldiner.
Desde então, foram realizadas poucas simulações de um ataque – mais um motivo pelo qual Maja Schuldiner, mãe de três filhos, torce para que os israelenses não tenham que empregar suas máscaras respiratórias.