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Oriente Médio

Ataques prosseguem, e situação humanitária se agrava em Homs

9 fev 2012 - 18h21
(atualizado às 20h02)
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Casas e mesquitas se transformaram em hospitais de campanha clandestinos na província síria de Homs, onde a ofensiva repressora do regime do presidente Bashar al-Assad causou nesta quinta-feira uma centena de mortes e a situação humanitária se aproxima do colapso, segundo informações de ativistas opositores. De acordo com o relato da oposição, a situação se agravou porque, entre outras razões, os hospitais e centros de atendimento médico se tornaram alvos bélicos das forças de segurança leais ao regime.

Imagem divulgada pelos Comitês de Coordenação Local (CCL) mostram residências danificadas em Homs
Imagem divulgada pelos Comitês de Coordenação Local (CCL) mostram residências danificadas em Homs
Foto: AP

"Os hospitais de campanha foram bombardeados. Agora estamos tratando os feridos nas casas e mesquitas com remédios insuficientes", declarou à EFE por telefone o ativista Salim al-Homsi, que está escondido no bairro de Bab Amro, um dos mais castigados pela ação do regime. Ele ressaltou que "a situação é trágica" e que as mesquitas fazem contínuos apelos para doações de sangue. Os opositores Comitês de Coordenação Local (CCL) denunciaram, por sua vez, que vários prédios residenciais foram destruídos e que numerosas vítimas ainda permanecem soterradas entre os escombros. Segundo esta rede opositora, a repressão do regime causou nesta quinta-feira a morte de 137 pessoas em todo o país, 110 delas na província de Homs.

Em conversa telefônica com a EFE de Bab Amro, o médico Ali al-Hazuri disse que não é possível identificar muitos dos mortos porque têm o rosto totalmente desfigurado. Hazuri pediu ajuda urgente às organizações internacionais e explicou que metade das vítimas foram enterradas no chão das casas devido à falta de espaço. O médico enfatizou a necessidade de ajuda humanitária básica, desde remédios até leite para as crianças, além de equipamento médico, já que a ONG Crescente Vermelho não pode entrar na região.

A situação foi criticada nesta quinta-feira pela organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), que denunciou que as autoridades sírias usam o direito ao tratamento médico como uma "arma de perseguição" a seus inimigos políticos. Em comunicado, a presidente da MSF, Marie-Pierre Allié, opinou que o regime realiza "uma campanha de repressão implacável contra os feridos nas manifestações e contra os médicos que estão tentando curá-los", muitos dos quais foram torturados e detidos. Este assédio levou à criação de centros médicos clandestinos que não cumprem as normas mínimas de higiene e esterilização nem dispõem de meios para praticar transfusões de sangue durante cirurgias.

Da mesma maneira, os habitantes dos bairros assediados da cidade de Homs enfrentam falta de alimentos e de gás para cozinhar e aquecer as casas, diante do frio intenso que predomina na Síria nesses dias. Um ativista da cidade, que se identificou como Basil, afirmou por telefone que, em alguns bairros, "não há pão nem leite para as crianças, e está muito difícil encontrar gás há cinco dias". Segundo ele, muitas famílias se escondem juntas na mesma casa para racionar gás e escolhem ficar nos porões daquelas cuja localização é mais segura para evitar os bombardeios. "Ninguém pode sair à rua devido aos bombardeios e disparos dos francoatiradores. As escolas estão fechadas e algumas se transformaram em quartéis do Exército sírio", indicou Basil.

A ofensiva, que desde sexta-feira passada deixou centenas de mortos, impede também a celebração de funerais. Por isso, segundo o ativista opositor, os corpos são enterrados em valas comuns. No plano político, as divergências no seio da comunidade internacional ganharam um novo capítulo nesta quinta-feira. De um lado, a União Europeia (UE) anunciou a imposição de sanções ao Banco Central da Síria e o veto ao comércio de ouro e fosfatos procedentes do país.

Por outro lado, a Rússia, que rejeita qualquer resolução de condenação contra Damasco, tirou toda a legitimidade da iniciativa ocidental de criar um "grupo de amigos" da oposição da Síria, já que, na opinião de Moscou, esse bloco representaria uma "ingerência externa em um conflito interno em favor de um dos grupos em conflito". A falta de medidas decisivas por parte dos países ocidentais é vista com preocupação pelos opositores sírios, que se queixam de estarem abandonados à própria sorte, numa luta desigual contra o regime de Assad.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

EFE   
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