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Oriente Médio

Assembleia Geral de ONU condena repressão do regime sírio

16 fev 2012 - 19h45
(atualizado às 21h49)
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A Assembleia Geral da ONU aprovou nesta quinta-feira por grande maioria uma resolução que condena "as sistemáticas violações dos direitos humanos" cometidas pelo regime sírio de Bashar al-Assad e pede o início do plano de transição proposto pela Liga Árabe.

O embaixador sírio na ONU, Bashar Já'afari (centro), ergue placa com o nome de seu país durante Assembleia Geral da entidade, em Nova York
O embaixador sírio na ONU, Bashar Já'afari (centro), ergue placa com o nome de seu país durante Assembleia Geral da entidade, em Nova York
Foto: Reuters

Luta por liberdade revoluciona norte africano e península arábica

A resolução, apresentada na Assembleia Geral menos de duas semanas depois do veto de Rússia e China a uma iniciativa semelhante no Conselho de Segurança, foi aprovada por 137 votos a favor, 12 contra e 17 abstenções.

Entre aqueles que se opuseram à resolução estão Rússia, China, Irã e os países latino-americanos da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América, formada entre outros por Venezuela, Cuba, Bolívia e Nicarágua).

Uma primeira resolução denunciando a situação na Síria foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 19 de dezembro por 133 votos a favor, 11 votos contra e 53 abstenções (entre eles Rússia e China).

Diferentemente do Conselho de Segurança, na Assembleia Geral da ONU não existe o direito a veto, apesar de ao mesmo tempo suas decisões não serem vinculantes.

O texto expressa a "grave preocupação" pela deterioração da situação na Síria e condena as "sistemáticas e amplas violações aos direitos humanos e às liberdades fundamentais por parte das autoridades sírias".

Além disso, insiste na necessidade de aplicar o plano proposto pela Liga Árabe, que prevê uma transição a um sistema democrático e pluripartidário, sem mencionar de forma expressa que o presidente sírio, Bashar al Assad, ceda seu cargo.

Ao apresentar o texto, o embaixador egípcio diante da ONU pediu, em nome da Liga Árabe, uma "resposta imediata" diante de uma "inaceitável escalada" na Síria, deixando claro de todas as formas sua "rejeição a uma intervenção estrangeira".

Por sua vez, o representante permanente da Venezuela diante da ONU, embaixador Jorge Valero, acusou o Ocidente de buscar "tornar a Síria em um protetorado". "Denunciamos diante do mundo que potências imperiais e seus aliados se propuseram a provocar uma mudança de regime na Síria, ainda às custas de maior derramamento de sangue", afirmou.

Tal como havia ocorrido no Conselho de Segurança, a Rússia tinha exigido sem sucesso várias emendas ao projeto, entre elas apagar a lista de abusos cometidos por Damasco contra civis e exigir "o fim dos ataques por grupos armados" da oposição síria.

Horas antes da votação em Nova York, as tropas de Assad bombardearam com artilharia pesada a cidade de Homs (centro), pelo décimo terceiro dia consecutivo, assim como Hama (centro), onde morreram 18 pessoas, muitas delas soldados desertores. Ao mesmo tempo, dois massacres em províncias provocaram outras 23 vítimas fatais, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Esta organização denunciou que em um vale da província de Idleb (noroeste) as forças do regime sírio cometeram "uma matança" que custou a vida de 19 pessoas, 11 delas da mesma família. A OSDH também informou que um civil e três soldados também morreram na província de Deraa (sul), onde se teme outro massacre após os ataques de quarta-feira na região, que deixaram dezenas de desaparecidos.

O ataque "é muito metódico", declarou Mohamed, morador de Deraa contatado por telefone de Beirute, afirmando que as forças do regime estão atacando a província "cidade a cidade". "O Exército Sírio Livre (formado por desertores) está tentando contrabalançá-los, mas não estão equipados e são obrigados a se retirar. As tropas do regime estão se vingando nos moradores", explicou.

Paralelamente, pelo menos 14 opositores foram detidos em Damasco, entre eles a blogueira Razan Ghazawi, um dos símbolos da revolta popular contra o governo Assad, e o jornalista Mazen Darwich.

O advogado Anuar al Bunni explicou que os ativistas foram detidos "por volta das 14h locais" (10h de Brasília) por membros dos serviços de segurança "no Centro Sírio pelos Meios de Comunicação e a Liberdade de Expressão", fundado e dirigido por Darwich e situado no centro da capital.

Bunni, membro do Centro Sírio para Estudos Legais, condenou a ação e pediu a libertação dos detidos. A organização Repórteres sem Fronteira (RSF) também exigiu que os detidos sejam libertados.

Neste contexto, a oposição síria pediu nesta quinta-feira para boicotar o referendo sobre um projeto de Constituição elaborado pelo regime previsto para 26 de fevereiro, como mostra da falta de apoio popular para o "regime criminoso".

Washington qualificou o anúncio do referendo de "brincadeira" enquanto a Rússia, um dos principais fornecedores de armas de Damasco, disse que a iniciativa era "bem-vinda".

Os militantes pró-democráticos pediram nesta quinta-feira aos sírios que voltem a se manifestar maciçamente na sexta-feira e para "resistir" ao regime de Assad, falando do "início de uma nova etapa" frente à repressão da revolta.

Segundo organizações humanitárias, ao menos 6 mil pessoas morreram na Síria desde o início da revolta, em meados de março passado. Apenas desde 3 de fevereiro, morreram em Homs ao menos 377 civis, incluindo 29 crianças, segundo a Anistia Internacional.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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