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Oriente Médio

Argentina e Irã criarão comissão para investigar atentado antissemita de 1994

27 jan 2013 - 19h31
(atualizado às 19h33)
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O governo argentino assinou um acordo com o Irã para criar uma comissão independente com o objetivo de investigar o atentado ocorrido em 1994, em Buenos Aires, contra o centro judaico Amia, que deixou 85 mortos, e pelo qual reclama a extradição de oito iranianos, anunciou a presidente Cristina Kirchner.

Em Teerã, o Ministério das Relações Exteriores confirmou o acordo, publicando fotos da cerimônia de assinatura do convênio pelos chefes das duas diplomacias: o argentino Héctor Timerman e o iraniano Ali Salehi, paralelamente a uma reunião de países africanos na Etiópia.

A Argentina acusa o Irã de ser o autor intelectual do atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em Buenos Aires, que, em 18 de julho de 1994, deixou 85 mortos e mais de 300 feridos, e, desde 2006, reclama a extradição de oito iranianos, entre eles o ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, o ex-presidente Ali Rafsanjani (1989-1997) e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati.

"Histórico: depois de quase 19 anos do atentado da Amia, consegue-se, pela primeira vez, um instrumento legal de direito internacional entre Argentina e Irã", publicou Kirchner, em meio a uma série de mensagens, na rede social Twitter.

A presidente, que participava em Santiago da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac) com a União Europeia(UE), informou que o chanceler argentino, Héctor Timerman, assinou o acordo com autoridades do Irã em Addis Abeba, Etiópia, onde assiste, como observador, a uma cúpula de países africanos.

A presidente indicou que foi acertada a formação de uma comissão de cinco juristas internacionais prestigiados."Nenhum deles poderá ser cidadão de nenhum dos dois países", afirmou.

Segundo o acordo, "autoridades judiciais argentinas poderão, pela primeira vez, interrogar pessoas para quem a Interpol emitiu notificação vermelha", afirmou a presidente, recordando, em outra mensagem, que o documento "deverá ser tratado e ratificado por parlamentos de ambos os países".

Kirchner considerou que se trata de um fato "histórico, porque garante o direito ao devido processo legal, princípio fundamental do direito internacional".

Já Timerman destacou que o acordo "não tem cláusulas secretas", e que, em virtude do estipulado, o Irã "entregará toda a documentação sobre o tema Amia à Justiça", segundo a agência estatal Télam.

O chanceler se reunirá na próxima terça-feira, em Buenos Aires, com parentes das vítimas, que reagiram de forma diferente ao acordo, enquanto as duas representações mais importantes da comunidade judaica na Argentina - Delegação de Associações Israelitas Argentinas (Daia) e Amia - preferiram o silêncio.

Luis Czyzewski, pai de Paola, vítima do atentado, considerou que o acordo representa "um passo atrás monumental frente ao que foi resolvido pela Justiça argentina".

Argentina e Irã iniciaram, em outubro passado, negociações na sede da ONU, em Genebra, para resolver as ações judiciais pendentes na investigação do atentado.

Desde então, o chanceler Timerman e o colega iraniano, Ali Salehi, reuniram-se em diversas ocasiões em Zurique.

O governo do Irã nega qualquer participação no atentado, e rejeita as acusações de terrorismo contra seus cidadãos, negando-se a cumprir as ordens de captura emitidas pela Interpol, o que manteve a causa judicial paralisada por anos.

Dentro da causa, a Justiça argentina abriu, em 2011, um novo processo contra autoridades judiciais e policiais responsáveis pelo caso, principalmente devido ao pagamento de um suborno de 400 mil dólares durante a instrução.

Uma explosão destruiu os seis andares da sede da Amia no centro de Buenos Aires, apenas dois anos depois de um atentado a bomba contra a embaixada de Israel, que causou a morte de 29 pessoas e deixou 200 feridos.

A comunidade judaica na Argentina é a mais numerosa da América Latina, com cerca de 300.000 membros.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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