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Oriente Médio

Após mortes e renúncias, presidente do Iêmen demite governo

20 mar 2011 - 15h19
(atualizado às 16h09)
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O presidente do Iêmen, Ali Saleh, destituiu o governo de Ali Muyawar, encarregando-o da direção dos assuntos administrativos até a formação de um novo Executivo, segundo a agência estatal iemenita, Sana. Saleh, pressionado pela oposição para que deixe o poder, emitiu este decreto depois que vários ministros renunciaram de seus cargos em protesto pela repressão das revoltas populares contra o regime, que explodiram há várias semanas no país.

O decreto estipula "a destituição do governo liderado por Ali Mohammed Muyawar e sua missão de tramitar os assuntos públicos normais, exceto as nomeações e as destituições, até a formação de um novo governo", segundo a Sana. A agência acrescentou que Saleh nomeou Jamal Abdullah al-Salal como novo enviado do Iêmen na ONU depois da renúncia deste domingo de Abdullah al Saidi, após condenar a violência governamental contra os manifestantes que exigem a renúncia do presidente.

Horas antes, a ministra de Direitos Humanos, Hoda al Ban, e o vice-ministro, Ali Taisir, apresentaram suas respectivas renúncias em protesto pela morte de cerca de 50 manifestantes na sexta-feira. Uma fonte, que preferiu manter o anonimato, confirmou neste domingo à Efe que o chefe de redação do jornal governamental Al Zawra, Abdel-Rahman Bayas, também renunciou pelas mesmas razões.

Na sexta-feira passada, 45 pessoas morreram e 270 ficaram feridas pelos disparos de desconhecidos contra uma manifestação da oposição nas proximidades da Universidade de Sana.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos em diversas capitaos, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de fevereiro para xingar e ameaçar de morte os opositores, que desafiam seu governo já controlam partes do país. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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