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Oriente Médio

Líbia pode se tornar outra Somália se negociações da ONU falharem

15 jan 2015 - 20h53
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Por Alex Whiting

Militar do Exército líbio se posiciona em Benghazi, na Líbia, em dezembro. 04/12/2014
Militar do Exército líbio se posiciona em Benghazi, na Líbia, em dezembro. 04/12/2014
Foto: Stringer / Reuters

LONDRES (Thomson Reuters Foundation) - Se as tentativas da Organização das Nações Unidas (ONU) de engatar negociações de paz entre facções rivais na Líbia falharem, existe o risco de uma guerra civil em grande escala, o que representaria uma ameaça aos países vizinhos e à Europa, disse o enviado especial da Grã-Bretanha à Líbia.

As conversas mediadas pela ONU, que começaram em Genebra na quarta-feira, têm o objetivo de alcançar um entendimento na forma de um governo de coalizão. Mas as negociações tiveram início sem a presença de uma importante facção --o governo autodeclarado que assumiu o controle sobre a capital, Trípoli, no ano passado, forçando o governo e o Parlamento eleitos a se realocarem.

O representante da ONU que lidera as conversas, Bernadino Leon, ainda tem esperança de trazer o governo de Trípoli para a mesa de negociações.

"Ele terá sucesso? Não sei", disse o enviado especial britânico à Líbia e experiente mediador, Jonathan Powell, em entrevista à Thomson Reuters Foundation na quarta-feira.

"Eu sinceramente espero que tenha (sucesso), porque a alternativa de a Líbia se transformar numa Somália às margens do Mediterrâneo seria completamente desastrosa”, disse ele.

A Líbia se tornaria uma ameaça ao sul da Europa, assim como para Egito e Tunísia.

"A Tunísia, é claro, é um país que todos vão querer proteger como sendo a história de sucesso da Primavera Árabe", disse Powell.

A Líbia encontra-se numa fase em que pode igualmente entrar numa guerra civil de grandes proporções ou começar a sair do conflito. "Ainda não está claro qual dessas alternativas vai acontecer", disse ele.

É improvável que governos enviem tropas para intervir ao estilo do que fazem forças iranianas em território sírio, afirmou ele.

"Mas isso não vai impedir que as pessoas deem apoio ao seu lado num conflito desses com armas, assessoramento, dinheiro, de fato incubando-os. Espero que não aconteça, mas é um risco", disse ele.

"Mas está funcionando como mel no pote para.. a Al Qaeda no Magreb Islâmico, o Boko Haram, até mesmo para as pessoas que se autoproclamam Isis, embora não esteja inteiramente claro que estejam (atraídos)”, acrescentou.

PAZ DESCARRILADA

Powell foi um diplomata que participou nas negociações pela unificação alemã e sobre a devolução da colônia britânica de Hong Kong à China, antes de se tornar chefe de gabinete do então primeiro-ministro Tony Blair.

Ele fez parte da decisão da Grã-Bretanha de entrar em guerra no Iraque em 2003 e passou 10 anos trabalhando nas negociações de paz com a Irlanda do Norte.

No ano passado, ele se tornou o representante britânico na Líbia.

"Fizemos algum progresso (na Líbia) durante os preparativos para as eleições (parlamentares de junho de 2014)", disse ele. "Conseguimos fazer as pessoas concordarem em uma série de princípios e com uma agenda, mas tudo descarrilou antes das eleições porque um dos lados achou que ia ganhar e não precisava negociar, e então a coisa ruiu."

Pouco depois das eleições, os confrontos estouraram, primeiro no oeste do país e então em Trípoli.

"Uma vez que as pessoas se colocam nessas posições se torna muito difícil tirar elas dali e evitar uma escalada", disse ele.

Mas Powell olha para o longo prazo em relação à Líbia.

"Sei pela experiência em outros lugares, você tem que continuar tentando negociar." Ele disse que caso as negociações em Genebra não sejam bem-sucedidas, os mediadores vão continuar tentando até conseguir.

"Obviamente, a chance de chegar ao sucesso... seria muito maior se a luta parasse. Mas é improvável que a luta pare a menos que haja alguma perspectiva de sucesso político", disse ele.

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