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Oposição síria se reúne no Cairo em meio a alerta da ONU para graves crimes

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Membros da oposição síria tentavam nesta segunda-feira no Cairo, sob a égide da Liga Árabe, elaborar um projeto comum para o país, depois de terem rejeitado um plano internacional que prevê um governo de transição, em um dia marcado por denúncias da ONU a respeito de novas violações dos direitos humanos .

Esta reunião "é uma oportunidade que não pode ser perdida", declarou o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, convocando a oposição a se unir.

Nasser al-Qidwa, adjunto do mediador internacional Kofi Annan, também pediu união à oposição. "Não há opção, (esta união) é uma necessidade se a oposição quiser obter a confiança de seu povo na Síria", disse.

Os ministros das Relações Exteriores de Egito, Turquia, Iraque e Kuwait também estavam presentes.

O objetivo é "chegar a uma visão unificada sobre o período de transição e o futuro da Síria", disse à AFP Georges Sabra, porta-voz do Conselho Nacional Sírio (CNS). Esta coalizão, principal grupo da oposição no exterior, participa da reunião.

Por sua vez, os rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL), força armada de oposição integrada essencialmente por soldados desertores, anunciaram que irão boicotar a reunião, classificando-a de complô e rejeitando qualquer negociação com o regime.

Os novos esforços são realizados um dia depois de a oposição síria ter rejeitado, classificando de "farsa", um acordo sobre os princípios de uma transição na Síria estipulados pelas grandes potências mundiais após uma reunião no sábado em Genebra.

A reunião, que durará dois dias, é realizada em meio à violência diária na Síria.

--- ONU denuncia violações dos direitos humanos --- A chefe dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, afirmou nesta segunda-feira que o governo sírio e a oposição são responsáveis por novas e sérias violações aos direitos humanos, incluindo ataques contra hospitais, depois de um encontro com o Conselho de Segurança.

Ela fez essas declarações à imprensa depois de ter se manifestado diante dos 15 países membros do Conselho de Segurança. Pillay reforçou o seu apelo para que o conflito sírio seja levado ao Tribunal Penal Internacional, "já que há indicações de crimes contra a Humanidade". Ela reconheceu, entretanto, que esta é uma decisão "política".

Segundo Pillay, a ONU constatou "graves violações dos direitos humanos praticadas ao mesmo tempo pelas forças governamentais e pelas da oposição", com ambos os campos responsáveis por "ações contra civis".

"Há um risco de escalada", considerou Pillay, acrescentando: "O fornecimento de armas ao governo sírio e aos opositores alimenta a violência e é preciso evitar a todo custo uma militarização maior do conflito".

Ela não citou os países que armam os dois campos. A Rússia e o Irã são os principais fornecedores de armas para o regime sírio, enquanto os países do Golfo se declararam preparados para equipar a oposição armada.

De acordo com uma cópia de seu discurso no Conselho obtida pela AFP, Pillay ressaltou que o conflito na Síria, que entra em seu 16º mês, se torna "cada vez mais interconfessional".

Ela indicou que centenas de civis continuam bloqueados em Deir Ezzor e na cidade de Homs (centro) "em razão da utilização crescente de armamentos pasados".

Helicópteros disparam "cegamente" contra civis em Deir Ezzor, deixando várias vítimas, afirmou ela ao Conselho.

Referindo-se aos observadores da ONU, cujo mandato termina em 20 de julho, ela considerou que sua "presença no país continua sendo vital". A missão dos 300 observadores militares desarmados está suspensa devido aos combates.

Ao detalhar os crimes de ambos os campos, ela afirmou que o governo é responsável por ter "bombardeado cegamente as áreas civis, efetuando assassinatos seletivos de partidários da oposição", assim como atos de tortura, detenções arbitrárias e "ataques contra hospitais e clínicas".

Do lado da oposição, ela denunciou "assassinatos de pessoas suspeitas de colaborar" com o governo. Ela também indicou que há "informações críveis de que grupos armados tomaram ao menos um estabelecimento médico" para que servisse "a fins militares".

Mais de 16.500 pessoas perderam a vida em episódios de violência na Síria desde o início da revolta contra o regime de Bashar al-Assad, em março de 2011, anunciou nesta segunda-feira o Observatório sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Pelo menos 30 pessoas morreram em várias regiões nesta segunda, no momento em que o Exército mantinha seus bombardeios a Homs (centro), segundo fontes opositoras.

Na província de Hama (centro), 15 moradores de uma aldeia foram mortos a tiros na madrugada desta segunda-feira na pequena cidade de Douma, onde vivem majoritariamente muçulmanos sunitas.

O OSDH indicou que esse massacre ocorreu no dia seguinte ao do assassinato de três alauítas (corrente do islã à qual pertence o presidente sírio, Bashar al-Assad), em uma cidade próxima.

As outras mortes foram registradas nesta segunda-feira no leste do país e nas regiões de Damasco e Aleppo.

--- General sírio deserta --- O Exército sírio mantinha nesta segunda o bombardeio aos bairros rebeldes da cidade de Homs (centro). Para o OSDH, mais de mil famílias estão bloqueadas na cidade em uma situação de total carestia de bens básicos.

Dois membros da polícia fronteiriça síria ficaram feridos nesta segunda após a queda de um foguete disparado a partir do território libanês, indicou a segurança geral libanesa.

Enquanto isso, oitenta e cinco militares sírios desertaram, refugiando-se nesta segunda-feira na Turquia, entre eles um general, informou a agência semi-oficial turca Anatolia.

Entre os desertores há um general, um coronel, um tenente-coronel e outros 18 oficiais, indicou a agência, citando autoridades locais.

Com esta nova deserção já chega a 14 o número de generais sírios que fugiram para a Turquia.

A Anatolia acrescentou que os militares entraram na Turquia por Reyhanli (sul), integrando um grupo composto, no total, por 293 pessoas, entre elas muitas mulheres e crianças.

A Turquia recebeu até o momento mais de 35.000 refugiados sírios e desertores do Exército em acampamentos instalados em várias províncias fronteiriças.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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