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Mundo

ONG nos EUA cria polêmica ao sugerir células do EI no México

As denúncias estariam ligadas a interesses políticos internos

21 abr 2015 - 06h14
(atualizado às 12h10)
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Desde a queda das torres gêmeas em Nova York no fatídico 11 de setembro de 2001, circulam rumores de que extremistas islâmicos estariam se aproveitando da porosa fronteira de 3.110 quilômetros entre México e Estados Unidos. Nesta semana, o assunto voltou à tona graças a uma organização conservadora americana.

A Judicial Watch, ONG que monitora ações do governo para detectar eventuais "abusos do poder conferido pelo povo americano", diz que o grupo que se autodenomina "Estado Islâmico" – que controla partes do território do Iraque e da Síria e que ganhou notoriedade pela decapitação de reféns ocidentais - mantém duas células no Estado fronteiriço de Chihuahua: uma em Anapra, subúrbio de Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, outra na cidade de Puerto Palomas, 160 quilômetros a oeste de Ciudad Juárez.

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A Judicial Watch indicou que entre as fontes dessas informações estariam um oficial do Exército mexicano e um inspetor da Polícia Federal do país.

A resposta mexicana não demorou para chegar. "O governo do México rejeita e nega categoricamente cada uma das afirmações", assegurou em sua conta no Twitter Sergio Alcocer, subsecretário do Ministério das Relações Exteriores para a América do Norte.

"As autoridades competentes que operam na região têm reforçado a inexistência de ditas atividades a seus colegas americanos", disse.

Mas de onde surgiram essas suspeitas e por que são recorrentes? Analistas consultados pela BBC acreditam que, em geral, as denúncias estariam ligadas a interesses políticos internos.

Antecedentes

Não é a primeira vez que a fronteira com o México é ligada à ameça do extremismo islâmico. Poucos meses depois dos atentados de 11 de setembro, o então embaixador dos Estados Unidos no México, Jeffrey Davidow, lançou um alerta sobre a possibilidade de terroristas usarem o território mexicano como ponto de acesso aos Estados Unidos.

Anos depois, surgiram notícias de uma suposta aliança entre a Al-Qaeda e o cartel de Los Zetas. E em setembro do ano passado, um funcionário do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos (DHS, na sigla em inglês) disse, diante de um plenário do Senado, que membros do "EI" haviam discutido a possibilidade de entrar nos Estados Unidos pela fronteira do México.

"Houve trocas de mensagens no Twitter e em mídias sociais entre seguidores do 'EI' de todo o mundo falando de isso como uma possibilidade", garantiu Francis Taylor, subsecretário de inteligência e análise do DHS.

"Não há inteligência confiável que sugira que haja um complô ativo do EI para tentar cruzar a fronteira sul", esclareceu posteriormente o DHS em comunicado. "Fala-se muita coisa, mas daí a dizer que isso é algo concreto, é muito precipitado", disse à BBC o especialista em segurança, Alejandro Hope.

O consenso entre os especialistas em inteligência é que, caso haja algum ataque, é mais provável que ele aconteça usando um avião comercial do que através das fronteiras dos dois países.

'Pouco fundamento'

"Acho que há muito pouco fundamento no relatório (da Judicial Watch)", diz à BBC Dwight Dyer, analista senior para México e América Latina da consultora em segurança Control Risks.

"Consultei fontes especializadas e elas me dizem que não há fundamento", acrescenta ele, que entre 2009 e 2012 trabalhou em um Centro de Investigação e Segurança Nacional (Cisen), uma agência de inteligência mexicana.

"Há interesses do Partido Republicano, que é muito conservador e aproveita o medo do terrorismo e, em particular, do terrorismo islâmico, para reforçar suas propostas de restringir imigração e militarização das fronteiras", opina.

Para Alejandro Hope, "é notório como esse tipo de acusações têm aumentado desde que (Barack) Obama é presidente. E realmente não há evidências." "De vez em quando, saem essas histórias, mas nunca com provas", completou.

E enfatiza que os cartéis "não têm o menor interesse em colaborar com esses grupos (extremistas islâmicos), porque isso isso os coloca na mira dos Estados Unidos."

Dois funcionários americanos também sustentam a ideia de que é um exagero falar em relação dos grupos extremistas com o México. Eles falaram de forma anônima à agência de notícias Bloomberg na época da declaração de Taylor.

Denúncias

A acusação tem sido frequente na boca de políticos republicanos. O então representante e agora senador Tom Cotton disse em setembro do ano passado que "grupos como o Estado Islâmico colaboram com os cartéis de droga no México." "Eles poderiam se infiltrar na nossa fronteira indefesa e nos atacar", assegurou.

Um mês mais tarde, o representante Duncan Hunter assegurou ao canal de TV Fox News que "ao menos dez combatentes do 'EI' haviam sido capturados ao tentar cruzar a fronteira com o México."

O Departamento de Segurança Nacional foi categórico na resposta: "Essa sugestão é falsa e não é sustentada por ninguém confiável da inteligência". Mas para a Judicial Watch, a história é outra. Em entrevista para a BBC, o presidente da organização, Tom Fitton, disse que as autoridades americanas os procuraram por causa do relatório e que agora as "provas" estão nas mãos deles.

"Acredito que é pela política que (o governo americano) não reconhece que (os terroristas) estão chegando aos Estados Unidos pela fronteira. A política se coloca no caminho da segurança nacional e da proteção dos americanos", disse ele.

Ao defender o relatório da sua organização, Fitton questiona as autoridades mexicanas e "algumas pessoas aqui nos Estados Unidos", que estão "mais preocupadas em negar falsamente a história".

O presidente da Judicial Watch considera que o Estado Islâmico e outras organizações extremistas se aproveitam do controle que os cartéis do narcotráfico têm da área próxima à fronteira com os Estados Unidos, "onde o governo mexicano é frágil."

E reforça que não é raro escutar histórias sobre o extremismo islâmico na fronteira entre México e Estados Unidos "porque (estas) são verdadeiras".

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