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Ofensiva russa na Síria gera críticas do Ocidente e debates sobre rumos do conflito

30 set 2015 - 19h35
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Horas depois de o Parlamento russo ter aprovado por unanimidade o pedido do presidente Vladimir Putin para iniciar ataques na Síria, o Kremlin confirmou que os primeiros bombardeios já estavam sendo realizados perto da cidade de Homs.

Aviões de combate russos já estão bombardeando locais na Síria
Aviões de combate russos já estão bombardeando locais na Síria
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Mas enquanto Moscou diz atacar o grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI), porta-vozes do governo americano reforçam as suspeitas levantadas pela oposição síria de que os bombardeios, na verdade, estão sendo direcionados a ela, e não aos grupos extremistas.

Homs faz parte da província de Hama, uma região que se encontra sob o controle dos rebeldes que se opõem ao governo de Bashar al-Assad.

Khaled Khoja, presidente da Coalizão Nacional Síria, da oposição, condenou o que chamou de "agressão militar russa" e disse ainda que o Kremlin não estava combatendo o "Estado Islâmico", mas sim utilizando sua força para "apoiar o regime de Assad em sua guerra contra os civis".

Preocupações

Em declarações no Conselho de Segurança da ONU, que se reuniu em Nova York, o chanceler sírio Walid al-Mouallem apoiou o início das operações militares russas e descreveu a atitude do Kremlin como "preventiva e defensiva".

"Apoio completamente as palavras do ministro (de Relações Exteriores Sergei) Lavrov com relação ao início das ações militares contra o terrorismo na Síria, a pedido da Síria e em coordenação com o governo", disse.

Ao mesmo tempo, o chanceler sírio questionou os bombardeios europeus sobre seu território.

"As ações do Reino Unido e da França no espaço aéreo sírio são uma violação descarada da lei internacional e da soberania nacional da Síria."

Durante a reunião do Conselho, o secretário de Estado americano, John Kerry, advertiu que Washington teria "graves preocupações" se Moscou estivesse bombardeando áreas onde não operam forças nem do "EI", nem da rede Al-Qaeda.

"Não vimos nenhum ataque contra o 'EI', o que vimos foram ataques contra a oposição síria."

O governo americano informou que está avaliando as operações, ainda que o Pentágono estime que as ações russas são "contraditórias", segundo explicou em entrevista coletiva o secretário de Defesa, Ashton Carter.

O Comitê de Coordenação Local, que é uma rede de opositores sírios, assegurou que os aviões de guerra russos haviam bombardeado cinco áreas – Zafaraneh, Rastan, Talbiseh, Makarmia e Ghanto –, matando 36 pessoas, incluindo cinco crianças.

A Rússia, por sua vez, disse que está atacando redes de telecomunicações, abastecimento de combustível e depósitos de armas e munições do "EI".

Apoio a Assad

Depois da aprovação parlamentar, o Kremlin garantiu que, por enquanto, só está considerando o uso de operações aéreas, e não o envio de tropas terrestres ao país árabe.

"Isso se refere exclusivamente a uma operação da força aérea russa", disse o chefe de gabinete de Putin, Sergei Ivanov, à televisão local, afirmando que o "único objetivo" da operação é "dar apoio aéreo às forças do governo sírio em sua luta contra o 'Estado Islâmico'".

Mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, não foi tão claro quando questionado se podia garantir que os aviões russos iriam bombear unicamente locais controlados pelo "EI".

"O principal objetivo é lutar contra o terrorismo e apoiar as autoridades legítimas em sua luta contra o terrorismo e o extremismo", disse Peskov.

Várias frentes

O conflito sírio, que teve início em 2011, coloca em confronto forças leais a Assad e organizações fundamentalistas, como o "EI", bem como grupos rebeldes "moderados" inspirados na Primavera Árabe.

Esses últimos estão sendo apoiados pelos Estados Unidos e seus aliados, que também têm bombardeado locais controlados pelo "Estado Islâmico".

Washington tem criticado o apoio de Moscou às forças de Assad e insiste que a solução para o confronto passa pela derrubada do presidente, que foi acusado de reprimir brutalmente seus próprios cidadãos.

Mas a Rússia convocou Washington e seus aliados para deixar Assad em paz e unir forças contra o "EI" – o governo do país também criticou o apoio dado pelos Estados Unidos aos rebeldes "moderados".

"O uso da força no território de um terceiro país só é possível se vier por uma resolução o Conselho de Segurança da ONU ou por um pedido legítimo do governo do país", insistiu Peskov nesta quarta-feira.

"Neste caso, a Rússia será o único país que atuará com uma base legítima (na Síria), porque foi para lá depois de um pedido legítimo do presidente sírio", reforçou.

A necessidade de coordenar ações no país árabe e evitar possíveis choques com a coalizão liderada por Washington, no entanto, foi uma das razões pelas quais Putin se reuniu com o presidente americano Barack Obama em Nova York no início da semana.

E Putin também aproveitou seu discurso na ONU para convocar os países para formar uma ampla coalizão internacional contra o terrorismo representado pelo "Estado Islâmico".

Segundo o analista da BBC para assuntos diplomáticos Jonathan Marcus, isso sugere que o "EI" será o principal alvo de Rússia e Síria.

"Mas o governo de Assad tem muitos outros inimigos, muitos deles apoiados pelo Ocidente, como Turquia, Arábia Saudita e os outros Estados do Golfo Pérsico", reforçou Marcus.

"E se a Rússia não se limitar a atacar o 'EI', isso poderá causar vários outros problemas", advertiu.

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