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Oriente Médio

Israel admite ter prendido australiano que morreu em 2010

14 fev 2013 - 09h51
(atualizado às 09h52)
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A reportagem disse que um cidadão australiano havia sido preso em sigilo e sob identidade falsa e se suicidou na prisão israelense Ayalon
A reportagem disse que um cidadão australiano havia sido preso em sigilo e sob identidade falsa e se suicidou na prisão israelense Ayalon
Foto: Reuters

Caso do Prisioneiro X, morto em 2010 em Israel, tinha divulgação proibida no país. Revelado pela TV australiana, incidente provoca discussão sobre censura sofrida pela imprensa israelense.

O governo de Israel admitiu pela primeira vez ter prendido um suposto espião, que morreu em 2010 numa prisão secreta próxima a Tel Aviv, em regime de confinamento. A imprensa foi proibida durante anos de divulgar o caso, o que suscitou discussões sobre a censura no país. As autoridades da Austrália reconheceram nesta quinta-feira saber que um de seus cidadãos estava preso sob sigilo.

As informações dos governos de Israel e Austrália confirmaram, em parte, o que foi revelado pela emissora australiana ABC, embora a identidade do prisioneiro e a razão para a prisão permaneçam sem confirmação oficial. A imprensa australiana afirmou que o homem, que seria um espião a serviço de Israel, teria sido preso por alta traição contra o país.

Suposto agente do Mossad

Segundo a reportagem veiculada na terça-feira pela rede ABC, o australiano chamado Ben Zygier, que também tinha cidadania israelense, trabalhava para o Mossad, serviço de inteligência de Israel, quando foi preso em 2010. O homem, conhecido como Prisioneiro X, foi encontrado morto numa cela solitária, em dezembro do mesmo ano. Segundo o governo israelense, ele teria cometido suicídio.

Depois de permanecer em silêncio por quase 24 horas, o Ministério de Justiça de Israel divulgou um comunicado sobre o caso. "O Serviço Penitenciário de Israel tinha um prisioneiro que era cidadão israelense e também tinha nacionalidade estrangeira", dizia a declaração. "Por razões de segurança, o homem foi detido sob identidade falsa, embora sua família tenha sido imediatamente informada de sua prisão." O Ministério da Justiça também afirmou que o prisioneiro aparentemente cometera suicídio.

O ministro australiano do Exterior, Bob Carr, informou que seria feita uma revisão a respeito do tratamento que seu ministério havia dado ao caso. Carr também revelou que alguns funcionários do ministério sabiam, em 2010, que o homem havia sido detido, contradizendo sua afirmação anterior de que as autoridades australianas só ficaram sabendo do caso após a morte do preso.

Ordem de silêncio

A história do Prisioneiro X foi relatada pela primeira vez em junho de 2010, quando o site de notícias israelense Ynet publicou, por curto tempo, um artigo sobre um prisioneiro detido em condições secretas, cuja identidade e suposto crime não eram conhecidos nem mesmo por seus carcereiros.

A história foi rapidamente retirada do ar, aparentemente sob pressão da censura militar de Israel, e um completo blecaute de mídia foi imposto. A censura tem autoridade para bloquear ou excluir reportagens consideradas ameaça à segurança nacional.

Na manhã de quarta-feira, o governo israelense permitiu à mídia local informar sobre a história veiculada na rede ABC. Então, tarde da noite, uma ordem judicial suspendeu a ordem de silêncio decretada sobre o caso.

O jornal israelense de centro-esquerda Haaretz informou que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu convocou os principais editores do país e lhes pediu para cooperarem, retendo a publicação de informações sobre o caso, "muito embaraçoso para uma determinada agência do governo".

O editor do Haaretz, Aluf Benn, escreveu que o serviço de segurança de Israel "tem dificuldades em lidar com a ideia de uma mídia livre operando em um Estado democrático e tenta recrutar a imprensa para cooperar, oferecendo aos jornalistas uma combinação de informações confidenciais e ameaça de prisão".

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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