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Oceania

Caso Laudisio: spray de pimenta pode ter contribuído para morte

12 out 2012 - 13h00
(atualizado às 13h01)
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Liz Lacerda
Direto de Sydney

Durante os dez minutos em que lutou para se livrar dos policiais australianos, o brasileiro Roberto Laudisio Curti recebeu três jatos de gás de pimenta, aplicados diretamente sobre seu rosto, a 30 cm de distância, por um total de seis a nove segundos. De acordo com o manual da polícia do estado de New South Wales, o spray poderia ser utilizado somente uma vez (já que o efeito dura cerca de meia hora), por apenas um segundo, a no mínimo 60 cm de olhos, nariz e boca.

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O próprio policial que usou o spray de pimenta admitiu que o tempo de aplicação do gás pode ter durado três vezes mais, ou seja, quase 30 segundos. No quinto dia do inquérito que deve explicar a morte do estudante, Damian Ralph surpreendeu ao confirmar sua decisão de desrespeitar as normas da polícia. "Não acredito que os primeiros jatos tenham atingido seu rosto. Além disso, eu queria que ele parasse de resistir", disse. Laudisio parou de resistir às 6h11, de 18 de março, quando morreu estirado na calçada de uma rua no centro de Sydney, cercado por 11 policiais.

Considerado método de tortura pela Anistia Internacional, o spray de pimenta causa dor, ardência e irritação nos olhos e, em alguns casos, cegueira temporária. Estudos apontam que o gás também pode causar a morte de pessoas com asma, que tenham utilizado alguns tipos de drogas ou que sejam submetidas à asfixia. O brasileiro havia consumido um terço de um comprimido de LSD e, na tentativa de controlá-lo, um dos policiais manteve o joelho sobre o abdôme do jovem, o que teria dificultado sua respiração. Apenas nos Estados Unidos, cerca de 70 mortes já foram associadas ao uso do spray de pimenta, de acordo com um relatório do Departamento de Justiça.

Além disso, Laudisio teria recebido 14 disparos de taser, com durações que variaram de acordo com a análise de cada policial, já que a operação ocorreu sem comando. Pelo menos sete choques teriam acontecido em um intervalo de um minuto e quinze segundos, mas os números ainda estão sendo debatidos pela Corte. Durante os interrogatórios desta sexta-feira, os advogados precisaram chegar a um acordo sobre o assunto. "Há muitas discrepâncias. Não podemos confiar nesses horários", admitiu o relator do caso, Jeremy Gormly. Dependendo do modo de uso, o taser causa dor e pode provocar incapacitação neuromuscular. Nos Estados Unidos, pelo menos 500 mortes já foram associadas à utilização do equipamento.

Execução

O cônsul-adjunto do Brasil em Sydney, André Costa, acredita que possa ter havido crime de execução. "Você pode chegar à conclusão de que Roberto Laudisio foi executado", disse o diplomata que está acompanhando os interrogatórios diariamente. "Os vídeos mostram cenas de tortura, com disparos de taser à queima-roupa em uma pessoa sem camisa, já imobilizada", acrescentou.

Costa critica a desorganização e a falta de comando na abordagem policial. "Eles agiram individualmente, contra um cidadão desarmado que não oferecia risco à integridade física dos policiais", avaliou. O diplomata condena também a inconsistência dos depoimentos. "Passa a nítida impressão de que houve um arranjo prévio, com orientação dos advogados, para contar a mesma história", diz. Conforme o diplomata, o governo brasileiro confia na Justiça australiana, mas ainda espera a verdade sobre os acontecimentos que levaram à morte do estudante.

Quando retornar ao Brasil, Domingos Laudisio, tio do estudante, quer conversar com a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para discutir o caso. Ele também fala em tortura e execução. "Esta é uma luta de Davi contra Golias, do Roberto, que não tinha pai nem mãe, contra uma corporação parecida com a máfia", lamenta.

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Foto: Coronial Court / Divulgação
Fonte: Especial para Terra
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