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O político conservador que em uma década transformou o Canadá

15 out 2015 - 19h11
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Após quase dez anos no poder, Stephen Harper encara pela quinta vez as eleições no Canadá como líder do Partido Conservador (PC) com a certeza que, sob sua liderança, o país passou por uma radical transformação que muitos temem ser difícil de anular.

O jornalista e escritor conservador John Ibbitson inicia sua recente biografia do político canadense, de 56 anos, intitulada simplesmente "Stephen Harper", com um parágrafo demolidor.

"Não é importante se Stephen Harper ganha ou perde as eleições gerais de 19 de outubro. Ele já mudou o Canadá. E não será fácil voltar ao Canadá de antes", escreveu Ibbitson na biografia lançada em agosto, poucos dias depois que o primeiro-ministro canadense convocou as eleições gerais.

Isso é algo sobre o que estão de acordo os partidários e os muitos adversários que Harper deixou para trás em uma década no poder: o primeiro-ministro canadense transformou radicalmente o Canadá.

A questão agora é se a transformação é irreversível, como parece indicar Ibbitson, ou se foi um período transitório, o que outro comentarista político, o escritor Stephen Marche, denominou no jornal "The New York Times" como "um sutil escurecimento da vida canadense".

A década no poder de Harper, um graduado em Economia que nunca exerceu sua profissão, casado e com dois filhos, esteve dominada pelo abandono de princípios que eram considerados pilares da identidade canadense moderna.

Em nível internacional, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o Canadá tinha conquistado sua reputação como um "poder intermediário", capaz de influenciar em temas internacionais, apesar de seu tamanho relativamente pequeno, graças a sua capacidade de mediação e de encontrar um caminho comum.

Apesar de ser um firme aliado dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, o Canadá não teve receio em bater de frente com o poderoso vizinho do sul em questões como China e Cuba.

Sob governos liberais ou conservadores, o Canadá apostou no multilateralismo como forma de garantir sua estatura internacional. Um dos máximos expoentes dessa política foi o primeiro-ministro liberal Lester B. Pearson, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1957.

Pearson obteve o prezado prêmio, e o afeto eterno do povo canadense, por criar a Força de Emergência das Nações Unidas para resolver a crise do Canal de Suez, grupo que se transformou depois nos conhecidos "boinas azuis" da ONU.

Se durante décadas Pearson e seu trabalho pacifista foram o exemplo a ser seguido pelos canadenses, Harper se esforçou em apagar esse passado para promover um Canadá mais fechado.

O político conservador desdenhou e criticou as Nações Unidas em várias ocasiões, renunciou ao multilateralismo por considerar que é ineficaz e optou pelo bilateralismo em sua política externa.

O exemplo mais claro da ruptura de Harper com a tradição canadense foi o inusitado abandono em 2011 do Protocolo de Kioto, tornando-se o único país do mundo que deixou o tratado internacional para a luta contra a mudança climática após sua ratificação.

O outro sinal da mudança radical que Harper incutiu na política externa canadense é a postura em relação ao conflito palestino-israelense. Se durante anos o Canadá adotou uma postura de "mediador honesto" entre as duas partes, Harper transformou o país em "aliado fiel" de Israel.

Em nenhum momento, desde 2006, Harper ou seu governo emitiram uma só crítica contra Israel, nem sequer quando cidadãos canadenses, entre eles um capacete azul, morreram em consequência dos ataques das forças israelenses.

No âmbito nacional, a transformação imposta por Harper é especialmente visível no campo da perda de transparência em uma sociedade considerada como uma das mais livres do mundo ocidental.

Harper silenciou os críticos em seu partido, os cientistas que trabalham na administração pública e dificultou a obtenção de informação pública.

Nos últimos anos, ele utilizou a Agência Tributária do Canadá para fechar ONGs, fossem religiosas, sociais ou ambientais, por se oporem a suas políticas. Harper questionou inclusive a integridade de uma das instituições mais respeitadas do país, a Suprema Corte, após uma série de decisões contrárias à vontade do governo.

Tom Flanagan, um destacado pensador conservador que foi chefe de gabinete de Harper após sua chegada ao poder em 2006, descreveu recentemente o líder conservador como "quase paranoico".

"Acredito que tem uma necessidade muito forte de estar no comando. Realmente quer ser a figura dominante e conseguiu. Parte disso é desfazer-se de qualquer um que possa considerar um rival em um sentido ou outro", comentou Flanagan.

EFE   
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