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O mestre do xadrez que trapaceava no banheiro

13 abr 2015 - 19h32
(atualizado às 19h32)
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Os juízes descobriram que Nigalidze estava usando um celular escondido no banheiro para trapacear

O xadrez sempre foi um jogo de estratégias, mas o grande mestre Gaioz Nigalidze, da Geórgia, escolheu uma polêmica na disputa com o armênio – também um grande mestre -Tigran Petrosian, na sexta rodada do Aberto de Dubai.

Ao longo da partida, realizava no último fim de semana, o enxadrista georgiano se levantou várias vezes para ir ao banheiro, sempre usando a mesma cabine.

Na quarta ou quinta vez, Petrosian desconfiou e pediu ao árbitro do jogo para ficar de olho em Nigalidze – ele suspeitava que o adversário poderia estar trapaceando e usando as idas ao banheiro para recorrer a algum dispositivo eletrônico.

Não foi necessária uma investigação muito minuciosa para constatar que o armênio estava certo.

A cada ida ao banheiro, Nigalidze buscava ajuda para a partida fazendo uso de um smartphone.

Ajuda proibida

De acordo com as normas da Federação Internacional de Xadrez (Fide), nos campeonatos mundiais não pode haver nenhum celular nas zonas de jogo.

"Nas competições que não são da Fide, é permitido ter um celular, mas ele deve estar desligado durante todo o jogo", explicou o secretário-geral da Federação Espanhola de Xadrez, Ramon Padulles, à BBC.

De acordo com o que foi relatado no site oficial do torneio, os juízes ignoraram o armênio e, como estavam em vigor as recentes regras da Fide, exigiram que Nigalidze mostrasse se levava algum equipamento que permitisse melhorar seu desempenho. Não encontraram nada.

Ainda assim, chamou a atenção do árbitro da partida o fato de que o georgiano sempre utilizava a mesma cabine do banheiro. E quando foram verificar o local, encontraram um iphone escondido embaixo de uma pilha de papel higiênico.

Ao ser confrontado, Nigalidze negou ser o dono do celular.

"Analisou-se detalhadamente a informação contida no aparelho e descobriu-se que a rede social estava conectada (ao perfil de) Nigalidze. E além disso, estava sendo usado um aplicativo de xadrez detalhando as jogadas recentes da partida com Petrosian", explicou a organização do torneio em sua página no Facebook.

Com o aplicativo, Nigalidze podia analisar as jogadas do rival e a maneira mais efetiva de responder.

"O juiz tinha o direito de fazer o controle. O banheiro é uma zona de jogo, como o fumódromo e a sala dos juízes, e se ligar o celular ali o competidor poderá ser punido", disse Padulles.

O georgiano, que é o atual campeão de seu país, foi eliminado do torneio e poderia ser suspenso por até 15 anos por trapacear em um torneio.

Antitrapaças

Esse não é o primeiro episódio do tipo em um torneio internacional de xadrez. Em 2013, o búlgaro Borislav Ivanov foi suspenso por quatro meses depois da descoberta de que muitos dos seus movimentos no tabuleiro eram similares aos de um software de análise de jogadas de xadrez.

Em 2010, a Federação Francesa puniu três de seus jogadores depois de comprovar que, por meio de mensagens de texto, eles estavam recebendo informações de um computador com possíveis jogadas.

Fide criou medidas antitrapaça e determinou que não pode haver celulares em nenhuma das zonas de competição

"Por isso a Fide recentemente criou uma série de medidas antitrapaça, que incluem ajuda tecnológica para que os árbitros possam detectar rapidamente se um jogador está usando informação em seu celular para disputar a partida", disse Padulles.

A falha de Nigalidze é a primeira praticada por um grande mestre, que ocupam o topo da hierarquia do xadrez mundial.

O enxadrista britânico Nigel Short pediu, via Twitter, que "se retirasse imediatamente o título de grande mestre de Nigalidze".

"Já é hora de a Fide implementar uma regra que inclua uma suspensão de dois anos às pessoas que trapaceiam com a ajuda de computador", acrescentou.

Até agora, o jogador georgiano não se manifestou publicamente sobre o assunto.

Crédito: Dubai Open
Crédito: Dubai Open
Foto: BBC Mundo / Copyright
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