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Oriente Médio

Suicídio de médico reabre debate sobre eutanásia em Israel

7 dez 2012 - 06h04
(atualizado às 06h23)
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O dramático suicídio de um renomado médico após ter supostamente matado sua filha, uma jovem com uma doença terminal, reabriu o debate sobre a eutanásia em Israel, onde a medida é punida com prisão e a religião ainda tem um enorme peso.

Keren Shtalrid, de 34 anos, deveria iniciar um tratamento de cuidados paliativos nesta mesma semana. No entanto, essa paciente já estava há três anos lutando contra um câncer, uma batalha que já havia perdido e, por isso, sofria com espantosas dores.

"Não estou preparada para uma vida de sofrimento", dizia uma carta que ela mesma escreveu e que foi publicada pelo jornal Maariv.

Seu pai, o médico Mordechai Shtalrid, diretor do Instituto de Hematologia do Hospital Kaplan, na cidade de Rehovot - ao sul de Tel Aviv -, é suspeito de ter recorrido à eutanásia para aliviar as dores de sua filha. No entanto, após essa suposta ação, o mesmo teria cometido o suicídio.

A Polícia encontrou os dois corpos na última sexta-feira na casa da família, situada no moshav (comunidade coletiva) Nir Israel, próximo à cidade de Ashkelon.

Antes da se matar, no entanto, o médico e pai da jovem deixou uma nota ressaltando que Keren já havia lhe pedido para por um fim em seu sofrimento em inúmeras ocasiões.

"Trata-se de um caso trágico e doloroso. A julgar pela investigação inicial, a filha pediu ao pai que acabasse com sua vida devido a seu estado de saúde. Após ter acatado essa decisão, o pai também acabou com sua vida", apontou o comissário-chefe da polícia, Moti Schiff.

Os investigadores acreditam que Shtalrid tomou essa decisão por causa das fortes dores que sua filha sofria durante as noites e, para isso, lhe injetou uma substância letal. Depois, se feriu com uma faca e, posteriormente, se enforcou.

No entanto, caso seguisse vivo, o hematólogo teria sido condenado a prisão por assassinato. Por conta deste fato, sua dramática morte foi suficiente para reabrir o debate sobre uma questão que, de tempo em tempo, sempre vem à tona em Israel.

A última vez foi em meados de 2011, quando um conhecido jornalista e locutor de rádio, Adi Talmor, decidiu acabar com sua vida aos 58 anos de idade após ser diagnosticado com câncer terminal de pulmão.

Além de constituir um crime, a eutanásia conta com uma forte oposição por parte dos setores ultra-ortodoxos, já que a prática transgride a lei judaica ou Halajá, a qual assegura que somente Deus dá e tira a vida de uma pessoa.

Por causa desses fatores, Talmor precisou viajar à Suíça para pôr fim a sua agonia mediante um procedimento legal nesse país, o suicídio assistido.

"Em Israel, a eutanásia não só está mal considerada porque viola a lei judaica, mas também por causa de um trauma decorrente do Holocausto", explicou à Agência Efe Bina Divón, diretora da organização Lilaj (acrônimo hebraico de "viva e morra com dignidade"), que promove os cuidados paliativos em pacientes que não desejam ter suas vidas prolongadas.

Mas, além do debate ético, os que defendem a eutanásia em Israel temem que a medida, em casos mais desesperados, se transforme em uma drástica alternativa perante a falta de recursos e a correta aplicação dos tratamentos realizados nos últimos momentos de vida e uma pessoa.

Há três anos, o Ministério da Saúde aprovou uma lei que estabelecia um sistema nacional de serviços paliativos, mas, por causa dos cortes orçamentários e da falta de conhecimento por parte dos profissionais, essa implementação acabou sendo atrasada.

O professor Pessach Shvartzman, do departamento de saúde comunitária da Universidade Ben Gurion do Neguev, que participou da elaboração da lei, ressalta que esta não leva em conta os pacientes com câncer, somente aqueles com doenças degenerativas.

"Os cuidados paliativos em Israel são relativamente novos e nem sempre há unidades especializadas nos hospitais e, por isso, que as pessoas podem pensar na eutanásia como uma única solução", lamentou.

Não só as restrições da própria lei deixaram muitos doentes sem esperança, mas o Ministério da Saúde não aprovou nem a metade das 4 mil solicitações de israelenses que pediram o amparo da lei, ou seja, o direito de se abdicar da própria vida.

Neste contexto, o Lilaj impulsiona uma iniciativa para ampliar a lei atual e equipará-la à do Estado do Oregon, nos EUA, onde o médico pode receitar ao paciente terminal remédios para a eutanásia, proposta que ficou suspensa devido ao recesso parlamentar em Israel prévio às eleições de 22 de janeiro.

"Se tivesse havido uma lei como em Oregon, o caso dos Shtalrid nunca teria acontecido", finalizou Bina.

EFE   
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