PUBLICIDADE

Oriente Médio

Egito: confrontos deixam mais de 200 feridos e agravam crise

5 dez 2012 - 20h54
(atualizado às 21h31)
Compartilhar

Os confrontos entre opositores e partidários do presidente do Egito, Mohamed Mursi, deixaram centenas de feridos nesta quarta-feira após uma batalha campal que envolveu pedras e coquetéis molotov diante do palácio presidencial no Cairo, aprofundando a crise política no país. Segundo o ministério da Saúde, os enfrentamentos deixaram 211 feridos. Durante a confusão, manifestantes dispararam armas de fogo e incendiaram veículos.

Policiais montam barreira ao redor do palácio presidencial no Cairo em meio a novos confrontos políticos
Policiais montam barreira ao redor do palácio presidencial no Cairo em meio a novos confrontos políticos
Foto: AP

Mais cedo, milhares de partidários de Mursi expulsaram os opositores que estavam diante do palácio, no segundo dia de manifestações sem precedentes desde a revolta de 2011. Convocados a se manifestar pela Irmandade Muçulmana, os simpatizantes do presidente islamita jogaram pedras e obrigaram os rivais a abandonar o lugar, depois que a oposição mobilizou milhares de pessoas para denunciar a ampliação dos poderes de Mursi e o referendo sobre o projeto de Constituição.

Os manifestantes ainda permanecem na zona do palácio presidencial, apesar dos apelos do primeiro-ministro, Hicham Qandil, e da Irmandade Muçulmana, grupo ligado a Mursi. A polícia de choque conseguiu estabelecer um cordão de isolamento entre os grupos adversários, mas os confrontos prosseguiam nas ruas adjacentes.

Mohamed ElBaradei, chefe da Frente de Salvação Nacional (FSN), culpou Mohamed Mursi pelas hostilidades desta quarta. "O regime perde legitimidade dia após dia", disse o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz. ElBaradei falou durante uma coletiva de imprensa ao lado do ex-chefe da Liga Árabe Amr Moussa e do ex-candidato à presidência Hamdin Sabahi, que fazem parte do FSN.

"Não participaremos de nenhum diálogo enquanto não for anulada a declaração constitucional. A revolução não foi feita para isso, foi feita por princípios, pela liberdade e pela democracia", disse ElBaradei, referindo-se à revolta popular que pôs fim ao regime de Hosni Mubarak em fevereiro de 2011. "O presidente Mursi tem que ouvir o povo, que tem uma voz clara e forte. Não há legitimidade na exclusão da maioria do povo, não há legitimidade no fato de deixar um grupo dominar o povo egípcio", destacou acrescentou.

Em Bruxelas, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, considerou que os "distúrbios que acontecem atualmente demonstram a necessidade urgente de um diálogo" entre as partes rivais. Até então, os dois lados haviam se manifestado em locais e momentos diferentes, a dez dias de um polêmico referendo sobre o novo projeto de Constituição, que exacerbou as divisões no Egito.

Nesta tarde, o vice-presidente egípcio, Mahmud Mekki, anunciou que o referendo previsto para o dia 15 de dezembro será mantido, apesar dos protestos. Ele afirmou que a consulta será realizada na "data prevista" e pediu que a oposição deixe por escrito as suas críticas para que possam ser examinadas.

Contágio

Os manifestantes que exigem a saída de Mursi haviam derrubado as grades de proteção instaladas em torno do prédio governamental. A polícia de choque tentou dispersar os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo, mas não conseguiu. Centenas dentre eles pernoitaram em frente ao palácio Ittihadiya, que estava com seus muros cobertos com pichações anti-Mursi.No entanto, o presidente voltou para o local nesta manhã para trabalhar, segundo um de seus conselheiros.

As manifestações de terça são as maiores de uma série de protestos contra Mursi, o primeiro chefe de Estado civil e islamita eleito em junho passado.Confrontos e protestos também ocorreram em outras importantes cidades, como Alexandria, assim como nas províncias de Minya e Sohag.

Os adversários de Mursi denunciam a guinada autoritária do presidente e pedem a anulação do decreto que amplia consideravelmente seus poderes.Também protestam contra um projeto de Constituição, que será submetido a referendo em 15 de dezembro, porque consideram que abre caminho para uma aplicação ainda mais rígida da lei islâmica e não dá garantias suficientes para proteger os direitos fundamentais, entre eles a liberdade de expressão.

Centenas de outros opositores de Mursi passaram a noite na Praça Tahrir, em dezenas de barracas montadas no dia 23 de novembro. O presidente egípcio assegura que estas medidas são destinadas a acelerar a transição democrática. Além disso, ele insiste que seus poderes excepcionais, que devem terminar com a aprovação da Constituição, são apenas "temporários".

A Frente de Saudação Nacional - coalizão de partidos e movimentos de oposição dirigida por Mohamed ElBaradei e pelo ex-chefe da Liga Árabe Amr Moussa - exige que Mursi anule o decreto e o referendo. Ela pede a formação de uma nova comissão constituinte mais representativa da sociedade, já que a atual é dominada por islamitas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade