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Ásia

'1942': superprodução sobre terrível fome que assolou a China

1 dez 2012 - 13h39
(atualizado às 13h51)
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A fome no campo é uma questão muito sensível na China, e será retratado em um filme que conta a terrível escassez de alimentos que atingiu, em 1942, o centro do país. O longametragem de Feng Xiaogang, com um orçamento de 210 milhões de yuan (33,8 milhões de dólares), recebeu grande destaque na imprensa por seu elenco estelar, encabeçado pelas estrelas nacionais Chen Daoming e Zhang Guoli e com duas figuras de Hollywood, os atores Adrien Brody e Tim Robbins.

O roteiro foi baseado em uma tragédia histórica que caiu no esquecimento, até mesmo entre os chineses: a fome que matou três milhões de pessoas na província central de Henan, durante a guerra entre China e Japão.

Henan foi cortada pela linha de frente que separava o exército imperial japonês das forças nacionalistas de Chiang Kai-shek. A região ainda não tinha se recuperado da inundação, quatro anos antes, provocada propositalmente pela destruição dos diques do Rio Amarelo para impedir o avanço japonês.

A seca, uma invasão de gafanhotos e a negligência dos governantes fizeram o resto: em 1942, dezenas de milhões de camponeses famintos, tiveram que fugir, dispostos a prostituir seus filhos por um punhado de arroz.Cenas que chocaram profundamente um jornalista norte-americano, Theodore White, interpretado no filme por Adrien Brody.

"Momentos mais sombrios"

O filme 1942 - sete anos antes da fundação da China comunista de Mao - é apresentado como uma obra sobre "um dos momentos mais sombrios da história chinesa recente". Mas, nem a imprensa de Pequim, nem qualquer membro da equipe do filme se atreveu a fazer um paralelo entre a fome de 1942 e o Grande Salto Adiante de Mao, que foi pelo menos dez vezes mais mortal.

De acordo com o jornalista Yang Jisheng, a loucura coletiva maoísta de 1958 a 1962, causou cerca de 40 milhões de mortes. "Os ocidentais só conhecem a fome de 1962, não a fome de 1942, que deve ser uma lição para a história", declarou Feng Xiaogang durante coletiva de imprensa.

Quando questionado sobre as chances de um filme sobre a fome de Mao, o diretor de "1942" preferiu permanecer em silêncio. Sessenta anos mais tarde, o Grande Salto continua um tabu na China. "Temos de levar em conta as questões existentes, em que medida os cineastas tem liberdade", confidenciou à AFP Adrien Brody. "É admirável terem conseguido fazer um filme como este".

Mas, de acordo com especialistas que conhecem o cinema chinês, a fome de 1942 também é utilizada para "abafar" as verdades que emergem sobre a sofrida em 1958 e 1962. "Para além das qualidades do filme, é muito provável que seja uma réplica do livro de Yang Jisheng, inspirado no clássico chinês da contrapropaganda", acredita Grangereau Philippe, autor do documentário "A Grande Fome de Mao".

Em todo o caso, o governo chinês decidiu adiar o lançamento na China de "Skyfall", o mais recente filme de James Bond, até o início 2013, para priorizar "1942". Segundo o The Hollywood Reporter, trata-se de um protecionismo cultural. As autoridades temem que o filme de Feng Xiaogang e outras produções chinesas planejadas até o final de 2012 não consigam competir com as façanhas de Daniel Craig que enfrenta Javier Bardem.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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