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Ásia

Soropositivos são vítimas da desinformação na China

1 dez 2012 - 06h00
(atualizado às 07h36)
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Expulsos dos hospitais e marginalizados pela sociedade, esse é o retrato da vida dos soropositivos na China por causa da falta de informação em torno da doença, que atualmente atinge 780 mil pessoas no país e cujo número de infectados aumentou 8,6% este ano em relação ao anterior.

"Durante muito tempo, não sabia que havia sido contagiada. O governo não fornece as informações necessárias", conta Ma Guiheng, que, após perceber a doença que sofria, decidiu criar em 2005 uma ONG em sua província, Hebei (norte), para ajudar outras vítimas como ela.

Ma denuncia o desamparo que os doentes sofrem pela falta de informação e a pouca conscientização da população.

"Se a primeira coisa que um médico, formado, faz é dizer a você que não têm quartos especiais para esse tipo de gente, depois põe uma máscara, luvas e não se atreve a tocar em você, o que o resto da sociedade vai fazer?", questiona Ma.

Apesar do aumento do investimento do Executivo chinês - elogiado recentemente pela ONU -, o desconhecimento em torno da aids faz com que inúmeras pessoas tenham qualquer tratamento negado em hospitais por serem portadoras do vírus da imunodeficiência humana (HIV), diante do medo de contágio.

A "desinformação" leva, além disso, a pagar custos "altíssimos" por qualquer pequena operação, sobretudo, no caso da cirurgia externa, destaca Ma.

Yang Jingjing, diretora de uma organização que atende prostitutas em diversos distritos de Pequim, concorda com ela.

"Há muita ignorância entre as pessoas. Nós falamos com elas (as profissionais) e com os clientes, falamos sobre a aids e para que usem preservativo, mas a maioria não acha necessário", explica Yang, que conta que as moças sempre a contestam da mesma maneira: "Voltarei para casa, me lavarei bem, e pronto", dizem.

Outro grupo muito afetado é o dos homossexuais, que sofrem dupla discriminação no caso de contrair o vírus do HIV, por sua orientação sexual e por seu estado de saúde.

"A sociedade ainda discrimina muito na China... E nesses casos se somam dois temas tabu", explica Wei Jiangang, do Centro LGBT de Pequim.

O Ministério da Saúde publicou que o aumento das infecções de HIV pode ser atribuído ao contágio entre homossexuais, segundo um relatório divulgado na quinta-feira, que indicava que 21% das novas infecções registradas de janeiro a outubro deste ano ocorreram em relações sexuais entre homens.

"É preciso conscientizar o povo. O governo investe muito em medicação, mas não em informação. É urgente abrir o debate", conclui Wei.

Além da "censura", destaca Wei, referindo-se à proibição no país de exibir anúncios de preservativos na televisão pública. A medida do governo mudou na última semana, às vésperas das comemorações do Dia Mundial de Combate à Aids, comemorado neste sábado, dia 1º de dezembro.

O máximo defensor da luta contra a discriminação é o atual vice-primeiro-ministro, Li Keqiang, que em março de 2013 se tornará o novo chefe de Governo.

Li protagonizou nesta semana um incomum encontro com mais de dez ONGs chinesas, às quais deu seu apoio e prometeu "ter maior empenho" na luta contra a doença, após ser divulgado o aumento de janeiro a outubro deste ano.

O gesto de proximidade, por si pouco habitual em um político chinês, surpreendeu ainda mais por vir de Li, cuja carreira política é "manchada" por sua tentativa de encobrir o surto de aids registrado na província de Henan (centro) nos anos 1990, quando ele a governava.

As consequências disso ainda estão vigentes. Na quinta-feira, alguns dos afetados protagonizaram uma manifestação pelas ruas de Pequim para exigir ajuda do governo.

Li também fez uma convocação "de urgência" ao Ministério da Saúde quando veio à tona que o tratamento havia sido negado a um doente de câncer em um hospital de Tianjin, norte da China, por ser portador do HIV.

Os gestos de Li foram percebidos por alguns veículos de imprensa do país como um indicador do novo rumo que a nova geração de líderes tomará.

No entanto, iniciando ou não uma nova era, o ceticismo diante de uma possível mudança continua sendo geral entre as ONGs, que consideram a recente atitude dos políticos "oportunista".

EFE   
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